Humanizando o cuidado no câncer gástrico: o paciente no centro
O diálogo aberto com o médico é importante para otimizar o tratamento e reduzir seus impactos no cotidiano
Quando pensamos sobre uma determinada pessoa, consideramos suas preferências, prioridades, necessidades e valores pessoais; ou seja, as características intrínsecas que tornam a cada um de nós seres únicos.
Essa individualidade também deve ser respeitada quando ficamos doentes. Quando o médico tem empatia com os desafios do paciente, o tratamento se torna mais eficiente.
O cuidado humanizado, que prioriza necessidades individuais, é muito importante no contexto do diagnóstico das doenças oncológicas, um momento tão sensível.
Um exemplo é o câncer gástrico, também conhecido como câncer de estômago, que tende a ser descoberto em estágios avançados, porque não apresenta sintomas específicos. Quando algum sinal surge, muitas vezes é confundido com gastrites e úlceras, o que dificulta a detecção e atrasa o início do tratamento.
No Brasil, ele ocupa a quinta posição entre os tumores mais frequentes, sendo pouco mais incidente entre homens e com destaque para as regiões Sul e Norte do país.
Dentre os fatores de risco, destacam-se a obesidade, o consumo de álcool, o excesso de consumo de sal na forma de embutidos e alimentos em conserva, o tabagismo, a infecção pela bactéria Helicobacter pylori e ter parentes de primeiro grau que já desenvolveram o câncer gástrico em algum momento da vida.
Como os sintomas são inespecíficos — queimação, refluxo ou sensação de empachamento — a possibilidade de câncer de estômago deve ser considerada caso um paciente receba tratamentos habituais para estes sintomas e não tenha melhora. Os exames realizados para diagnóstico diferencial incluem a endoscopia e a biópsia.
Depois do diagnóstico
Após a confirmação do câncer, o primeiro passo é o planejamento do tratamento, que deve ser feito em conjunto entre médico e paciente.
Algumas questões devem ser direcionadas ao oncologista, tais como:
- Por onde começar?
- Quais medicamentos serão utilizados e quais são os possíveis efeitos colaterais, especialmente considerando minha rotina?
- Quais precauções devo adotar durante o tratamento?
- Posso manter minha alimentação habitual?
- Como posso buscar apoio?
- Existe alguma organização que possa me auxiliar?
O profissional estará capacitado para apoiar o paciente, fornecendo informações de qualidade e oferecendo suporte, sempre com enfoque no cuidado humanizado.
Quando abordamos a jornada de tratamento do câncer gástrico, é essencial ser realista sobre as possíveis complicações. É provável que o paciente enfrente dificuldades para se alimentar, especialmente devido às dores estomacais que ocorrem após as refeições.
Por esse motivo, é importante considerar alguma forma de suporte nutricional, a fim de garantir que o paciente possa se alimentar da melhor maneira possível, reduzindo o desconforto e gerenciando sua qualidade de vida.
Outra questão a ser considerada é o impacto psicológico. Uma equipe multidisciplinar composta por psicólogos ajuda a lidar com emoções, aflições e angústias comuns a esse período, sobretudo se a doença estiver em estágio avançado.
Atualmente, existem diversas alternativas disponíveis para o tratamento do câncer gástrico, das cirurgias às terapias-alvo, medicações que têm como alvo específico as células cancerígenas, causando menos eventos adversos. Dependendo do estágio, a estratégia pode visar a cura, o controle ou o alívio dos sintomas.
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Manter um diálogo aberto pode auxiliar na escolha da melhor opção de terapia, que se adapte à fase da doença e principalmente às individualidades de cada um, além de facilitar o esclarecimento de dúvidas e fortalecer a relação de confiança entre ambos.
A conversa também é importante para avaliar a satisfação do paciente, suas preferências, opções terapêuticas e o impacto do tratamento na sua qualidade de vida.
Para que toda a experiência de tratamento seja menos angustiante, é necessária uma abordagem holística.
A individualização do tratamento, junto com o suporte da família e amigos, além dos profissionais da equipe multidisciplinar, deve sempre fazer parte da estratégia de tratamento.
* Diogo Bugano é oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein