Esqueça os superalimentos: pensar só neles pode ser uma cilada
Termos como ‘alimentação limpa’, ‘alimentos bons e ruins’ e ‘superalimentos’ não devem pautar escolhas alimentares
O conceito de alimentação saudável tornou-se nebuloso nas redes sociais, com termos problemáticos como “alimentação limpa”, “alimentos bons e ruins” e “superalimentos”.
Enquanto a dieta se torna uma briga entre super-heróis e vilões, quase seis em cada 10 brasileiros (59%) têm sobrepeso ou obesidade, segundo última pesquisa do Datafolha. Está claro que esses conceitos não estão ajudando. E se pudéssemos simplificar as coisas?
Olhar para a dieta inteira pode tornar a alimentação muito mais fácil. Aproxime-se do conceito de uma dieta diversificada, equilibrada e o mais natural possível. Essa é a base! E, com ela, comer um doce também pode ser saudável, e não algo que nos afasta de uma suposta “alimentação limpa”.
Além da questão da perda de peso, o ato de rotular alimentos como “bons” ou “ruins” também se aplica a crenças sobre alimentação saudável.
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A restrição recai sobre o alimento “ruim”. Mas proibir algo aumenta a probabilidade de querer comer ainda mais. Assim que o alimento proibido for ingerido, o paciente sentirá que falhou. Muitas vezes, isso pode levá-lo a desistir completamente de todas as mudanças saudáveis que fez.
Já o termo sensacionalista “alimentação limpa”, usado para descrever uma dieta sem ingredientes artificiais ou alimentos processados, também é problemático. O conceito geralmente vem com uma longa lista de proibições de ingredientes ou grupos alimentares inteiros. A ideia de uma alimentação ‘o mais natural possível’ é mais vantajosa porque não exclui e nem demoniza alimentos.
Comer muitas frutas e vegetais é ótimo, mas ainda assim será preciso incluir outros nutrientes (carboidratos ricos em amido, proteínas e gorduras insaturadas). O excesso delas não cobrirá essa falta.
Ainda assim, é verdade que precisamos mais de alguns grupos alimentares do que de outros. E também existem melhores escolhas dentro desses grupos, por exemplo, proteínas magras como peixes e aves, laticínios com baixo teor de gordura ou carboidratos ricos em fibras. Esses devem fazer parte da rotina.
Já alimentos ricos em gordura saturada, açucarados e salgados (como bolos, biscoitos, chocolate, salgadinhos e ketchup) devem ser exceção, consumidos com moderação.
O segredo para um padrão alimentar mais saudável é a consistência, não a restrição.
E os superalimentos?
Por fim, diversos alimentos como chia, espirulina, couve, goji berry, avocado, nozes, psyllium, açafrão, vinagre de maçã e até mesmo brócolis já atingiram o status de superalimentos, levando muitos a acreditar que eles devem ter um lugar especial nas dietas.
Apesar de poderem ser incluídos com mais frequência na alimentação, não há evidências científicas de que esses alimentos possuem propriedades milagrosas.
Alimentos ou nutrientes isolados não devem ser o foco da sua dieta: concentre-se em um padrão alimentar saudável e balanceado, com muitas frutas e vegetais, grãos integrais, leguminosas, peixes e azeite de oliva.
*Marcella Garcez é médica nutróloga, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e pesquisadora em suplementos alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo
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