Em tempos de apagão, o que fazer com remédios que ficam na geladeira?
Brasil tem sido acometido por diversas quedas de energia em diferentes regiões, afetando quem usa medicamentos armazenados sob baixas temperaturas
No último sábado (31), um apagão elétrico afetou cerca de 20 bairros da capital paulista e mais seis bairros populosos de Guarulhos, com impactos para pelo menos 942 mil clientes.
No domingo (01), foi a vez do estado de Roraima, que ficou sem luz por quase duas horas, graças ao desligamento de usinas termelétricas que atendem a rede local. Na última semana, outro blecaute deixou o Acre, Rondônia e uma cidade do Mato Grosso sem energia elétrica por cerca de quatro horas
Não são casos isolados: os blecautes são relativamente comuns no país. Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) apontam que, em 2023, o brasileiro ficou 10,4 horas sem eletricidade, com cinco cortes de fornecimento no ano. Em 2022, os cidadãos ficaram em média 11,2 horas sem energia, com 5,47 cortes de fornecimento.
Eventos climáticos extremos, como os temporais que assolaram o Rio Grande do Sul, e falhas no sistema elétrico trazem transtornos diversos, prejuízos e, inclusive, riscos à saúde de quem faz uso de medicamentos termolábeis, ou seja, que devem ser armazenados na geladeira, dentro de uma faixa de temperatura específica, até 8°C.
É o caso, por exemplo, da insulina, usada por pacientes com diabetes. De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes, o Brasil tem 16,8 milhões de pessoas com a doença, entre as quais cerca de 560 mil têm diagnóstico de diabetes tipo 1 e necessitam de insulina diariamente para sobreviverem.
Por ser um fármaco biológico — produzido a partir de células vivas —, a insulina precisa ser mantida refrigerada entre 2°C e 8°C.
Ela e outros medicamentos termolábeis podem perder sua potência e eficácia se forem armazenados fora da faixa de temperatura recomendada, o que pode resultar em possíveis complicações no tratamento. E aí, quando falta energia, o que fazer?
Como salvar os remédios de geladeira durante um apagão?
A alternativa é se preparar com um sistema backup, que pode ser feito da seguinte maneira: tenha dentro do freezer gelos específicos para este fim (tipo gel ou em espuma), que já estejam congelados devidamente.
Esses gelos podem ser encontrados em lojas especializadas em produtos para refrigeração. Os itens têm propriedades exclusivas que garantem a estabilidade térmica e são indicados para produtos que requerem tempo e temperaturas controlados, principalmente para a faixa de 2 a 8°C, como o caso da insulina.
Quando a energia acabar, pegue o medicamento e os gelos e os coloque no sistema backup, que pode ser uma bolsa térmica ou uma caixa térmica. Existem bolsas térmicas que são qualificadas para manter a refrigeração por 12 a 15 horas e há caixas com prazo de conservação que vão de 72 a 96 horas.
Tudo depende do quanto o paciente precisa manter o medicamento dentro dessa embalagem e baseado, principalmente, no histórico de queda de energia na região.
Vamos supor: em caso em que a área onde o paciente resida sofra com falta de energia corriqueiramente ou quando a interrupção dura 24 horas ou mais – situação que costuma acontecer quando há chuvas de grandes proporções, com quedas de árvores –, o ideal é que a pessoa tenha uma solução que dure mais de 24 horas.
É importante deixar tudo pronto para, quando a geladeira deixar de funcionar, poder acondicionar o medicamento em um lugar que seja seguro e qualificado para sua conservação.
Termômetros ou dispositivos que monitoram a temperatura podem ser utilizados para garantir que os remédios fiquem armazenados adequadamente.
+ Leia também: O apagão no Amapá e seus efeitos no controle do diabetes
Gelo comum não deve ser utilizado
É importante ressaltar que o gelo feito de água – aquele caseiro, das forminhas – jamais deve ser utilizado, devido ao risco inerente de congelamento do medicamento. Ainda nesse contexto, o gelo artificial não pode encostar diretamente no frasco, sob o risco de congelar a insulina.
Se congelar, a medicação não poderá mais ser utilizada. Por isso, é importante ter caixas e bolsas térmicas que já contenham tais instruções e utilizem materiais adicionais para impedir que o produto entre em contato direto com o gelo.
E mais um alerta: a partir do momento em que o medicamento for colocado dentro da caixa ou da bolsa térmica, é importante que a embalagem não seja aberta, a menos que a pessoa precise fazer a utilização.
Com atenção aos detalhes, você dá luz ao que há de mais importante: a sua saúde.
*Liana Montemor, farmacêutica e diretora técnica do Grupo Polar, pioneiro no Brasil em pesquisa e desenvolvimento de soluções para a cadeia de frio