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Dilemas e cuidados no retorno às aulas

Médico apresenta o que está em jogo na discussão sobre a reabertura das escolas durante a pandemia — e os pontos de atenção para evitar problemas

Por Dr. Julio Corte Leal, pediatra*
Atualizado em 11 ago 2020, 16h59 - Publicado em 11 ago 2020, 10h21

Entramos na fase de avaliação da reabertura das escolas pelo Brasil, e esse tem sido um dos grandes temas de conversas em WhatsApp entre pais e mães de crianças das mais diversas idades. Não é trivial a decisão de manter os filhos em casa nem a de enviá-los de volta ao ambiente escolar. Há riscos em ambas as situações.

Cidades como São Paulo veem como baixa a probabilidade de retorno às aulas no início de setembro dado o cenário de casos e suspeitas de Covid-19. O governo estadual paulista prevê a retomada apenas em outubro. Enfim, há muitas incertezas sobre como será o restante do ano letivo.

Ao reabrir as escolas, os riscos para as crianças são relativamente baixos, visto o padrão de evolução benigno da infecção pelo coronavírus nessa faixa etária. Só que devemos lembrar que existem riscos mais contundentes a serem considerados para a equipe de profissionais, professores, pais e cuidadores.

Também sabemos que manter as escolas fechadas afeta o aprendizado e pode não só prejudicar o desenvolvimento físico e mental dos pequenos como ampliar as desigualdades na educação e nas perspectivas de vida no longo prazo. O Ministério da Educação, em resposta a deputados federais, informa que não consegue quantificar a adesão dos alunos ao ensino remoto. Além de buscar equalizar esse desnível entre crianças das mais diferentes origens, a reabertura das escolas também ajudaria a destravar o resto da economia, permitindo que educadores voltem plenamente às suas posições de ensino e que pais e mães consigam estruturar melhor seu trabalho.

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As evidências sobre o impacto da Covid-19 com a reabertura desses estabelecimentos ainda são limitadas, mas a experiência em outros países indica que o perigo não é tão alto. Segundo artigo da revista The Economist, estudos sugerem que pessoas com menos de 18 anos são menos propensas a pegar (e sofrer com) a doença. Crianças abaixo dos 10 anos têm mil vezes menos chances de falecer se comparadas a adultos com mais de 70, de acordo com dados britânicos.

As informações disponíveis também mostram que as crianças não são mais propensas a infectar os outros. Na Suécia, por exemplo, profissionais que trabalham em berçários e escolas primárias (que não fecharam na pandemia) não pegaram mais o vírus que outros trabalhadores. Na Alemanha, um novo estudo com 1 500 alunos e 500 professores que voltaram às aulas em maio constatou que só 0,6% tinha anticorpos contra o vírus, o equivalente a menos da metade da média nacional.

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Houve, sim, um surto da doença em uma escola de ensino médio de Israel — 150 estudantes e docentes tiveram Covid-19. Porém, com precauções e medidas de segurança, esse risco pode ser minimizado.

A discussão não pode deixar de contemplar os riscos de perder as aulas presenciais. Eles podem ser enormes. As crianças aprendem menos e perdem o hábito de aprender. A desigualdade no acesso a internet, por sua vez, aumenta o distanciamento e a discrepância de oportunidades entre crianças de classes sociais diferentes. A organização Save The Children estima que aproximadamente 10 milhões de crianças podem abandonar os estudos, principalmente meninas, por causa do fechamento das escolas durante a pandemia.

Os efeitos não se restringem aos pequenos e pequenas. Análise feita pela ONG britânica Pregnant Then Screwed, criada para diminuir a discriminação materna, indica que a Covid-19 afetou negativamente a carreira de diversas mães no Reino Unido. Baseada em dados de 20 mil mulheres, ela demonstra que 81% delas precisaram recorrer a ajuda de terceiros para poder trabalhar, 72% tiveram de reduzir a jornada de trabalho remunerado por causa dos cuidados com as crianças e 15% foram demitidas ou pediram demissão.

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Quando voltar às aulas?

Para estabelecer o cronograma de volta às aulas, líderes governamentais e centros de ensino precisam avaliar o risco para a saúde pública, a capacidade de adotar medidas de segurança e a importância econômica da escola para educadores, pais e crianças. Ainda não está bem claro o papel das crianças na transmissão do coronavírus, ainda mais considerando a flexibilização das quarentenas.

Porém, é fundamental entender a capacidade das escolas de criar e manter medidas para mitigar o risco de infecção, o que inclui infraestrutura, orçamento, políticas e novos processos, entre outros. A decisão sobre o momento da retomada precisa se basear em todos esses fatores.

A reabertura também não deve ser uma decisão binária, em que todos voltam ou ninguém volta. Países como Dinamarca e Noruega priorizaram o retorno da educação infantil para que pais possam voltar ao trabalho — esse também é o grupo com menor risco de transmissão e contágio. Já a Alemanha privilegiou a volta dos alunos em anos importantes de transição escolar e as crianças mais velhas, mais propensas a cumprir os protocolos de higiene e segurança. Nesse contexto, há que se considerar que alguns pais queiram manter os filhos em casa. Assim, as escolas necessitam estar preparadas para a educação remota também.

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Os cuidados na volta às aulas

Há uma série de medidas a serem adotadas pelas escolas para elevar a segurança de todos — medidas que devem ser pesadas e considerar prós e contras. Um exemplo: alternar dias letivos entre diferentes grupos de alunos pode facilitar o distanciamento social, mas dificultar a organização de pais em relação à rotina e aos cuidados.

Escolas com espaços não utilizados e equipe suficiente podem escalonar horários, separar as mesas com o distanciamento mínimo e organizar alunos em mais grupos. Só que estabelecimentos com orçamento limitado, equipe reduzida e salas cheias possuem menos flexibilidade para tanto.

São quatro dimensões distintas que devem ser consideradas ao desenhar as medidas de saúde e segurança na retomada: a infraestrutura física da escola; horários e equipes disponíveis; transporte e alimentação; políticas de saúde e comportamento (o que envolve medição da temperatura na entrada, uso de máscaras e identificação de casos suspeitos, por exemplo). Em comum, todas visam minimizar a proximidade física, acatar protocolos de higiene e reduzir o risco de contágio.

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Mas não é só a escola que tem um papel aqui. Os pais também devem incorporar as regras e educar e conscientizar seus filhos. Isso passa por seis atitudes:

  1. Ensinar e dar o exemplo das práticas de higiene, o que inclui lavar as mãos com sabonete por pelo menos 20 segundos e contemplando dedos, unhas e punhos.
  2. Monitorar o estado de saúde dos filhos. Caso haja febre ou mal-estar, procurar orientação médica e não levar à escola.
  3. Encorajar a criança a fazer perguntas e falar sobre seus sentimentos, além de ser paciente e lúdico na comunicação com ela.
  4. Manter-se atualizado sobre a pandemia e as regras a aderir.
  5. Estar próximo da escola e ajudar a zelar pelo cumprimento das medidas de segurança propostas.
  6. Ajudar a criança a manter um estilo de vida saudável, com rotina, alimentação balanceada e exercícios físicos.

Retomar o ensino presencial não será tarefa fácil, mas os benefícios podem ser enormes se respeitarmos esses cuidados. Alunos aprenderão, pais e mães conseguirão trabalhar e o vírus será controlado.

* Dr. Julio Corte Leal é pediatra, especialista em alergia e imunologia pelo Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e diretor médico da Theia, plataforma que dá suporte de saúde física e emocional a pais, mães e seus filhos 

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