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Desvendando os autoanticorpos

Estamos bem familiarizados com os anticorpos, aqueles responsáveis pela proteção do nosso organismo. Mas e os autoanticorpos, o que fazem?

Por Luís Eduardo C Andrade, reumatologista*
10 jul 2023, 18h35

Os anticorpos são proteínas especiais, também chamadas de imunoglobulinas, produzidas pelo nosso sistema imunológico. Eles estão presentes em nosso sangue e fluidos e nos defendem de ameaças externas.

E existem ainda os autoanticorpos. Eles também são fabricados pelo sistema imune, mas, em vez de se grudarem nos vírus, bactérias e fungos, como os anticorpos, os autoanticorpos se ligam às nossas células e tecidos saudáveis.

Quando isso acontece, eles podem favorecer reações inflamatórias nos locais atingidos.

O descobrimento dos autoanticorpos, no final de 1940, foi de grande importância para a consolidação do conceito de doenças autoimunes, ou seja, aquelas causadas por agressão do sistema de defesa ao próprio organismo.

Vale lembrar que, nas primeiras décadas do século XX, vários pesquisadores acreditavam ser impossível que nosso sistema de defesa montasse uma resposta agressiva contra células e tecidos próprios.

A demonstração de autoanticorpos que atuavam contra a tireoide, o núcleo celular e a imunoglobulina IgG (chamado de fator reumatoide) contribuiu decisivamente para o final desta controvérsia e a aceitação das doenças autoimunes.

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Vamos entender algumas questões importantes sobre eles!

Por que os autoanticorpos são importantes para doenças reumáticas e autoimunes?

Independentemente de sua capacidade de causar dano direto, vários autoanticorpos têm uma associação muito forte com algumas doenças e por isso são utilizados pelos médicos como ferramentas diagnósticas.

Por exemplo, eles ajudam a identificar o lúpus eritematoso sistêmico, que está associado a anticorpos contra o DNA, e a colangite biliar primária (doença autoimune do fígado), associada a anticorpos contra a mitocôndria.

Os médicos também utilizam a dosagem de autoanticorpos para monitorar os pacientes ao longo do tratamento, uma vez que a concentração de alguns deles tem relação com o grau de atividade da doença, por exemplo, os níveis de anti-DNA se correlacionam com o grau de atividade do lúpus.

Ou seja, à medida que o tratamento é bem-sucedido, seus níveis diminuem.

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Uma pessoa com autoanticorpos sempre terá uma doença autoimune?

Não. O sistema imunológico é extremamente complexo e tem uma infinidade de elementos moleculares e celulares em constante interação. Esta complexa interação é dinâmica, variando muito em cada pessoa e ao longo do tempo.

Intrigantemente, autoanticorpos de ocorrência natural fazem parte dessa complexa interação.

Por isso, só a constatação de um autoanticorpo no indivíduo, sem os sintomas ou sinais da enfermidade autoimune associada, não é suficiente para definir que haverá doença autoimune.

+ Leia também: A relação entre o sono e as doenças reumáticas

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Qual a importância de estudar o autoanticorpo no meio médico e científico?

Desde que foram descobertos, em 1940, o estudo dos tipos de autoanticorpos e sua associação com doenças vem se ampliando.
Reumatologistas, por tratarem diretamente das doenças autoimunes, conhecem bem o fenômeno.

Mas há outras áreas da medicina em que o conhecimento é mais recente e também importante. Como, por exemplo, a neurologia. Nos últimos 15 anos, mais de 20 novos autoanticorpos de grande relevância clínica foram descritos em várias doenças neurológicas, permitindo diagnóstico adequado e tratamento precoce de muitos pacientes.

Este dinamismo no conhecimento científico e médico sobre os autoanticorpos evidencia a necessidade de atualização dos médicos e cientistas envolvidos com o tratamento de pacientes com doenças autoimunes.

Um bom exemplo vem da Sociedade Paulista de Reumatologia que ofereceu em maio/2023 um curso específico (chamado Fan Clube) abordando a autoimunidade e autoanticorpos em diversas especialidades.

Será possível identificar os autoanticorpos para determinadas doenças antes de elas se manifestarem?

É uma possibilidade, pois está bem documentado que essas proteínas tendem a preceder os sintomas das doenças autoimunes por meses ou anos.
Por exemplo, os autoanticorpos anti-DNA podem ser detectados até três anos antes de um paciente apresentar qualquer sinal da doença lúpus. Isso também é observado para vários outros autoanticorpos e doenças autoimunes.

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Estudos mostram que nesse “período pré-clínico” estão em andamento distúrbios imunológicos e que essas anormalidades se intensificam progressivamente até a surgir o quadro clínico.

Essas observações fornecem subsídio para se discutir o papel dosagem dos autoanticorpos no rastreamento e tratamento precoce e prevenção de doenças autoimunes.

Mas, na prática clínica, esta possibilidade ainda está longe se concretizar por dois motivos. Primeiro, nem todas as pessoas assintomáticas portadoras de um autoanticorpo irão desenvolver a respectiva doença. Pelo contrário, muitas terão um resultado positivo por anos sem qualquer manifestação clínica.

Segundo, ainda não existe cura para as doenças autoimunes. Apesar dos avanços, as várias modalidades terapêuticas existentes combatem manifestações específicas dessas enfermidades, mas não curam.

O grande e permanente progresso científico traz uma perspectiva otimista de que nos próximos anos teremos alternativas efetivas para mudar o curso desses distúrbios e impedir seu desenvolvimento em pacientes assintomáticos.

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Até que isso aconteça, não há recomendação ou protocolos para tratamento preventivo em pessoas sadias portadoras de autoanticorpos patológicos.

O que isso vai significar para os pacientes?

Se o avanço deste tema se concretizar, poderemos imaginar um cenário em que doenças autoimunes serão ativamente rastreadas sob uma visão de medicina preventiva, assim como hoje se rastreia o câncer de colo de útero, de mama ou de próstata.

Uma vez identificado um autoanticorpo patológico, o indivíduo será submetido a exames adicionais que indicarão se ele teria realmente propensão a desenvolvimento da enfermidade.

Nesse novo paradigma, haveria terapias efetivas que poderiam ser, então, aplicadas de forma a impedir desenvolvimento da doença. Mas vale lembrar, uma vez mais, que esta realidade ainda não existe e nos cabe esperar que venha a se concretizar nos próximos anos.

*Luís Eduardo C Andrade é reumatologista, membro da Sociedade Paulista de Reumatologia, livre docente da Escola Paulista de Medicina Unifesp, pós-doutorado em biologia molecular aplicada à autoimunidade.

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