A esquizofrenia é um transtorno mental complexo que afeta cerca de 24 milhões de pessoas em todo o mundo.
Muitas vezes mal compreendida e estigmatizada, essa doença merece uma discussão aprofundada para que possamos entender melhor os sintomas e os desafios que ela apresenta, não só para os pacientes, mas para seus cuidadores e a sociedade como um todo.
A condição em questão altera a cognição, as emoções e o comportamento de um indivíduo. Normalmente, seu aparecimento ocorre na adolescência ou no início da idade adulta, e pode exercer um impacto substancial na vida do paciente.
Sintomas da esquizofrenia
Eles podem ser categorizados da seguinte maneira:
Sintomas positivos
São denominados dessa maneira devido à sua característica de adição ou exacerbação das funções cerebrais habituais. Podem incluir:
- Alucinações: são percepções sensoriais falsas. As alucinações auditivas, onde são ouvidas vozes inexistentes, são as mais comuns. Um estudo publicado no Journal of Clinical Psychiatry demonstrou que aproximadamente 70% das pessoas com esquizofrenia experimentam episódios do tipo em algum momento.
- Delírios: crenças irracionais e infundadas que se mantêm fortemente, mesmo quando confrontada com evidências contrárias. Os delírios podem variar de paranoia extrema a crenças grandiosas.
- Pensamento desorganizado: pessoas com esquizofrenia frequentemente experimentam dificuldades em organizar seus pensamentos. Isso pode resultar em fala incoerente e desconexa, conhecida como “fala desorganizada”.
+ Leia também: Esquizofrenia: estigma também precisa de tratamento
Sintomas Negativos
Ao contrário dos positivos, estes envolvem uma redução ou perda de funções que são tipicamente presentes em indivíduos saudáveis. Estes sintomas incluem:
- Apatia: A falta de motivação e interesse nas atividades do dia a dia é comum. Essa apatia pode afetar sua capacidade de realizar tarefas diárias e cuidar de si mesmas.
- Embotamento afetivo: O termo se refere à diminuição da expressão emocional. Isso pode fazer com que os pacientes pareçam distantes ou indiferentes ao meio, mesmo em situações emocionalmente carregadas.
- Isolamento social: Os sintomas muitas vezes dificultam a manutenção de relacionamentos significativos. Uma revisão na Schizophrenia Research destaca a importância do suporte social na gestão da esquizofrenia.
- Alogia: se refere ao empobrecimento da expressão verbal do paciente. Este frequentemente se torna pouco comunicativo, muitas vezes se tornando lacônico, com uma liguagem verbal e gestual empobrecida.
Comprometimento cognitivo
Além dos sintomas positivos e negativos, muitas pessoas com esquizofrenia experimentam um comprometimento cognitivo significativo. Isso pode afetar áreas como memória, atenção e habilidades de resolução de problemas.
Um estudo publicado na JAMA Psychiatry encontrou evidências de comprometimento progressivo em indivíduos ao longo do curso da doença.
É interessante destacar que os detrimentos cognitivos apresentam um maior impacto no prejuízo funcional e na qualidade de vida do paciente quando em comparação com os sintomas positivos, que são mais marcantes para quem convive com o paciente.
Em função disso, os sintomas cognitivos são frequentemente negligenciados por familiares e até mesmo pelos profissionais de saúde.
Em busca de ajuda
A esquizofrenia é tratável. Quanto mais cedo a condição for diagnosticada e tratada, mais favorável será a sua evolução.
Além disso, compreender os sintomas positivos, negativos e o comprometimento cognitivo associados a condição é um passo importante para reduzir o estigma e fornecer o apoio necessário às pessoas com esquizofrenia.
Desde o lançamento do primeiro medicamento contra a condição, na década de 1950, foram desenvolvidas cerca de 40 moléculas que se mostraram eficazes.
Embora representem um marco, inúmeros estudos têm demonstrado que elas apresentam eficácia apenas para o tratamento dos sintomas negativos da esquizofrenia. Deste modo, não há atualmente qualquer medicamento aprovado que trate os sintomas cognitivos.
Porém, há boas notícias para os pacientes, seus familiares e cuidadores. Um medicamento chamado BI 425809, ou iclepertina, que atua bloqueando uma proteína localizada na membrana dos neurônios, foi reconhecido em 2021 como um grande avanço pela Food and Drug Administration Agency (FDA), a Anvisa dos Estados Unidos.
Atualmente, estudos estão em andamento para confirmar esses resultados iniciais promissores e avaliar se esse fármaco é seguro e eficaz para o tratamento dos diferentes prejuízos cognitivos causados pela esquizofrenia.
É com grande entusiasmo que as comunidades clínica e científica acompanham esse avanço na busca por medicamentos mais eficazes, que contemplem necessidades atualmente não atendidas no tratamento da esquizofrenia, oferecendo esperança para um futuro melhor para todos os afetados por essa doença.
Acioly Luiz Tavares de Lacerda, professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)