Câncer de mama: o autocuidado é agora… e sempre!
No Outubro Rosa, médicas refletem sobre como é preciso estruturar a rotina para cuidar da saúde e prevenir o câncer que mais afeta mulheres
Mulher é aquela que cuida. Tendo filhos ou não, com muita frequência elas são as protagonistas do lar, envolvidas no cuidado da família e dos que estão à sua volta. Mas e delas próprias? Com o acúmulo de tarefas, é frequente protelarem o autocuidado. Isso faz com que empurrem a data para voltar a praticar exercícios, adiem aquele café com as amigas e posterguem seus exames preventivos.
Essa é a história da grande maioria das nossas pacientes com câncer de mama. Por vezes é a nossa própria história. E a ideia aqui não é procurar culpadas, de forma alguma. Mas alertar para uma doença que chega a acometer uma em cada oito mulheres, e cujo diagnóstico e tratamento ainda são rodeados de tabus.
Apesar de o movimento Outubro Rosa existir há mais de 15 anos, parcela expressiva da nossa população segue acreditando em mitos. Daí que escutamos frases como: “Se ela teve câncer é porque engolia as emoções”; “Eu não tenho história da doença na família e não sinto nada, então não preciso de mamografia“; “coitada, quem está com câncer não devia trabalhar”… E por aí vai.
A desinformação atrapalha muito, assim como o medo do diagnóstico. E a pandemia tornou esse quadro ainda mais grave: estima-se que mais de 1 milhão de mamografias deixaram de ser realizadas em 2020, o que corresponde a um número alto de tumores não diagnosticados.
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O câncer de mama é uma doença com grandes chances de cura, sobretudo se o diagnóstico for feito no início. E, mesmo em casos mais avançados, a cada ano surgem novas medicações que elevam não só o tempo mas também a qualidade de vida das mulheres em tratamento.
Falar sobre a doença é fundamental! Para vencer o estigma, o receio, o peso que a cerca. Ao passar por um prédio iluminado de rosa durante este mês, faça uma reflexão. Se você é mulher, já fez seus exames de rotina este ano?
Quem já passou dos 40 anos deve fazer uma mamografia anual. Antes dessa idade, o melhor exame é a ultrassonografia das mamas, que pode ser pedido pelo seu médico. E, independentemente da idade, todas devem conhecer seu corpo, fazer o autoexame e correr atrás de ajuda médica se notarem qualquer alteração.
Se você é homem, procure saber: as mulheres da sua família estão em dia com a saúde? Se questione: você oferece apoio para que isso seja possível? Muitas mulheres atrasam seus exames por não contarem com uma rede de apoio em casa.
Aliás, alguma amiga ou amigo (embora mais raro, homens podem ter câncer de mama) está enfrentando a doença? Sabia que você pode ajudá-la(o) mandando uma mensagem solidária? Não é incomum que familiares e colegas não saibam como reagir nesse momento e se afastem, justo em uma fase de tanta vulnerabilidade. Ou, no intuito de ajudar, falem em curas milagrosas ou contem histórias tristes de pessoas que passaram por isso. Não é por aí!
Nossa mensagem para o Outubro Rosa é a de que todas as mulheres busquem o autocuidado em sua rotina, cultivem uma rede de apoio e façam suas consultas e exames periódicos. A pandemia da Covid-19 certamente prejudicou nosso dia a dia, mas lembre-se de que o câncer não faz quarentena. Informação, cuidado e prevenção são, portanto, para o ano todo, a vida toda!
* Andrea Shimada e Marina Sahade são oncologistas clínicas do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo