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Câncer de mama: álcool e tabaco ameaçam a saúde da mulher

Podemos aproveitar a experiência bem sucedida no combate ao tabagismo para criar políticas que realmente desestimulem o consumo de bebida alcoólica

Por Laura Cury, da ACT Promoção da Saúde*
19 out 2024, 06h00
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Cigarros eletrônicos também aumentam o risco de câncer (Freepik/Veja Saúde)
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No mês dedicado à conscientização para o controle do câncer de mama precisamos chamar atenção para importantes fatores de risco que, muitas vezes, são subestimados ou deliberadamente ignorados.

Entre as ameaças associadas à doença, o consumo de álcool se destaca. Embora seja do conhecimento da comunidade científica há algum tempo, só recentemente a mensagem começou a ser discutida com o público em geral.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou, em setembro, durante o Congresso Mundial de Câncer, em Genebra, que o consumo de bebidas alcoólicas, mesmo em níveis moderados, constitui um dos principais fatores de risco para esse tipo de tumor. Na Europa, mais de 60% dos casos de câncer atribuíveis ao consumo de álcool são na mama.

A crescente atenção reflete a necessidade urgente de conscientizar a população sobre o risco real e sublinhar que não existe dose segura quando se trata da prevenção de câncer.

Outro fator de risco relevante e, quase sempre, relacionado ao álcool é o tabagismo. Estudos indicam que mulheres que fazem uso das duas substâncias constituem um grupo mais propenso a desenvolver a doença. A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) aponta que fumar pode aumentar de 10 a 30% a probabilidade de câncer de mama.

A OMS destaca ainda o caráter multifatorial do problema, bem como a necessidade de se chamar atenção para outras variáveis: envelhecimento, obesidade, herança genética, exposição à radiação, histórico reprodutivo (como idade da primeira menstruação e gestações) e uso de terapia de reposição hormonal pós-menopausa.

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No Brasil, o câncer de mama é o segundo mais prevalente, ficando atrás apenas dos tumores de pele não melanoma, com cerca de 70 mil novos casos e 18 mil mortes por ano.

A questão não se restringe apenas a mulheres adultas. Meninas de 9 a 15 anos que consomem de três a cinco doses de álcool, por semana, têm três vezes mais chance de desenvolver nódulos benignos nas mamas. E alguns desses nódulos podem favorecer o surgimento de câncer no futuro.

+Leia também: Mais exercício, zero álcool: as novas recomendações para evitar um câncer

Entender o metabolismo destas substâncias ajuda a demonstrar o tamanho do perigo. Depois de ingerido, o álcool libera acetaldeído, elemento tóxico que altera o DNA e pode levar à formação de células cancerígenas. No caso do câncer de mama, o álcool também aumenta os níveis de estrogênio, hormônio que, em excesso, estimula a divisão celular e pode desencadear o surgimento da doença.

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Já o tabagismo libera no organismo nicotina e outros produtos tóxicos que afetam o DNA e podem provocar mutações genéticas. Mulheres expostas ao fumo passivo ou que começam a fumar precocemente apresentam ainda maior vulnerabilidade.

Como contornar essa situação?  

Especialistas defendem a ampliação do acesso ao diagnóstico e ao tratamento precoce. No que diz respeito à prevenção, sugerem a implantação de medidas regulatórias.

O Brasil tem um histórico bem-sucedido no controle do tabagismo, com políticas como a restrição à propaganda, a criação de ambientes livres de fumo e a implementação de advertências nas embalagens.

A experiência acumulada pode ser replicada para o álcool, com a adoção de estratégias semelhantes políticas de preços e impostos. São medidas que também se aplicam aos ultraprocessados, relacionados a 57 mil mortes prematuras no país, em 2019. Como se sabe, esses produtos, ricos em açúcar e gorduras, favorecem a obesidade, que tem estreita relação com o câncer de mama.

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O excesso de gordura corporal provoca um estado de inflamação crônica e aumentos nos níveis de determinados hormônios, que promovem o crescimento de células cancerígenas, aumentando as chances de desenvolvimento da doença.

Campanhas promovem consumo de álcool no Outubro Rosa

A restrição de publicidade significa uma medida custo-efetiva para promover a saúde pública. Mas, infelizmente, durante o Outubro Rosa, campanhas mascaram os perigos reais do consumo de bebidas alcoólicas.

Observamos, por exemplo, a atuação de vinícolas, principalmente produtora de vinho rosé, se valendo data para promover seus rótulos à custa de uma “homenagem” à causa.

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Tributar é preciso

A tributação mais alta sobre produtos nocivos também vem sendo recomendada pela OMS como estratégia para desestimular seu uso.

Nesse contexto, convém lembrar que, justamente nesse mês, a reforma tributária vem sendo debatida no Senado. O texto aprovado na Câmara institui o imposto seletivo sobre produtos comprovadamente nocivos, como as bebidas alcoólicas e produtos derivados de tabaco.

Contudo, é essencial garantir que os ultraprocessados também sejam incluídos e que as alíquotas sejam proporcionais aos danos que esses produtos causam, desincentivando o consumo e promovendo, assim, um futuro mais saudável.

*Laura Cury é coordenadora do projeto álcool da ACT Promoção da Saúde

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