Simples ajustes na caminhada podem adiar cirurgia do joelho para artrose
Reeducação de marcha mostra-se eficaz para reduzir a dor e o desgaste articular, adiando por anos a necessidade de prótese no joelho

Em casos de artrose do joelho, a cirurgia para colocação de prótese é um tratamento comum que pode beneficiar tanto jovens quanto idosos. Porém, como articulações artificiais têm vida útil limitada, de cerca de 15 a 20 anos, o ideal é que a cirurgia seja adiada a ponto de a pessoa precisar apenas de uma substituição ao longo da vida.
A questão é que, apesar da incidência da artrose aumentar com o avanço da idade, temos observado um crescimento de pessoas jovens, com 50, 55 anos, que precisam de próteses, o que reforça a importância da adoção de estratégias para adiar a cirurgia.
E segundo um estudo recente publicado no The Lancet Rheumatology, a reeducação de marcha é uma medida simples capaz de adiar a cirurgia do joelho por anos em pacientes com artrose.
Como funciona a reeducação de marcha
A reeducação de marcha tem como objetivo modificar a forma como uma pessoa anda por meio de exercícios e feedbacks imediatos, corrigindo padrões de movimentos que podem levar à sobrecarga.
Estudos anteriores já haviam testado a reeducação de marcha para reduzir a carga na articulação sem sucesso, pois indicaram a mesma intervenção para todos os pacientes, sendo que, segundo os pesquisadores, o ângulo ideal para reduzir a sobrecarga varia de pessoa para pessoa.
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O estudo que comprovou a eficácia da técnica foi realizado com pacientes com artrose leve a moderada no compartimento medial do joelho, o tipo mais comum do problema.
Dos 68 participantes selecionados, metade serviu como grupo de controle e a outra metade recebeu o ajuste personalizado que mais reduzia a carga no joelho. No caso do estudo, esse ajuste envolveu a mudança do ângulo da pisada.
Por seis semanas, os participantes foram treinados para manter o ângulo prescrito do pé ao caminhar na esteira, o que era feito como o auxílio de um dispositivo preso à perna que emitia vibrações que funcionavam como feedback imediato. Após esse período, a orientação era que praticassem a nova forma de andar por pelo menos 20 minutos diários até que se tornasse natural.
Menos dor e menor desgaste
Um ano depois, a dor foi avaliada a partir de relatos dos pacientes e uma nova ressonância magnética foi realizada para avaliar os danos na cartilagem. O grupo que passou pela reeducação da marcha relatou redução da dor comparável à proporcionada por analgésicos comuns e a degradação da cartilagem foi mais lenta em comparação ao grupo de controle. E os participantes demonstraram entusiasmo com a proposta e os resultados.
Trata-se de uma medida simples com resultados expressivos que pode ser facilmente adotada pelos pacientes por um longo período, ajudando a gerenciar a dor e adiar a necessidade de cirurgia por muitos anos.
Limitações e perspectivas futuras
Infelizmente, a aplicação em larga escala ainda depende de tecnologias caras que, no futuro, podem ser simplificadas para ser usada de forma mais abrangente.
Hoje, casos mais leves de artrose são gerenciados com medicações, fisioterapia, condicionamento físico e infiltrações de ácido hialurônico. As próteses são realmente reservadas para casos avançados em que há comprometimento da qualidade de vida devido à dor, restrição dos movimentos e deformidades. Mas a decisão deve ser individualizada.
* Fernando Jorge é médico ortopedista, especialista em cirurgias do joelho, cirurgias do quadril, medicina regenerativa e intervenção em dor. Membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED), entre outras.