Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Com a Palavra

Por Blog Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Neste espaço exclusivo, especialistas, professores e ativistas dão sua visão sobre questões cruciais no universo da saúde
Continua após publicidade

A dor pode ser coisa da sua cabeça?

Especialistas contam por que muitas vezes é preciso intervir em questões comportamentais e psicológicas para superar a dor crônica

Por Mariana Schamas, cinesiologista, e Samia Schiller, fisioterapeuta*
4 abr 2019, 14h10
dor crônica
Dores persistentes também tem a ver com o funcionamento do cérebro e das emoções (Foto: SAÚDE/Divulgação)
Continua após publicidade

Você já deve ter ouvido histórias de pessoas que vão ao médico, fazem mil exames e não conseguem descobrir a causa da dor ou, pelo menos, justificativas coerentes para ela, não? Pode ser até que conheça alguém que tomou remédios fortes e, ainda assim, não viu a dor totalmente controlada. E o que dizer, então, da misteriosa dor do membro fantasma, aquela que a pessoa sente na parte do corpo que foi amputada? Como é possível sentir esse incômodo em um lugar que não existe mais?

Boa parte da resposta para esses casos é que a interpretação da dor está mais no cérebro do que no corpo em si. A forma como pensamos, compreendemos as coisas, onde estamos inseridos e o jeito como nos comportamos influenciam diretamente nossa sensação e percepção da dor.

A neurociência nos ensina que a reação dolorosa é produzida no sistema nervoso central, num eixo que compreende cérebro e medula espinhal. Múltiplas partes desse sistema trabalham juntas em resposta a estímulos do corpo e do ambiente, podendo gerar, assim, a experiência da dor. Ainda que muitas vezes ocorra um dano em uma parte do corpo, o desconforto só vem à tona quando é disparado pelo cérebro e pela medula.

Em 1977, o psiquiatra americano George Engel propôs o chamado modelo biopsicossocial, que coloca a avaliação do estado de saúde e de doença de um indivíduo em um patamar mais amplo, considerando os contextos biológico, psicológico e social. Dentro dessa proposta, a dor deixou de ser associada a uma mera lesão em um tecido e pôde ser compreendida de uma maneira dinâmica e multidimensional, com vários mecanismos relacionados.

Continua após a publicidade

Com esse raciocínio podemos concluir que não vale a pena tratar a dor, sobretudo o tipo persistente e crônico, baseados apenas nos estímulos físicos que a provocam. Precisamos investigar o aspecto comportamental e ambiental para decifrar sua origem e propor a melhor estratégia para minimizá-la.  Daí o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas apoiadas numa junção dos conhecimentos da neurociência com o suporte da terapia comportamental e de técnicas integrativas particularmente bem-vindas na dor crônica.

Essas abordagens permitem que, com a ajuda de um profissional, possamos entender quais as nossas fraquezas e fortalezas, como nossos valores e crenças influenciam nossas percepções e sensações e de que forma devemos buscar o autoconhecimento para tratar a dor. Rever nosso comportamento é uma estratégia cientificamente eficiente. E, para tanto, são de grande valia métodos como meditação, alongamentos e técnicas que trabalham aspectos psíquicos e motores.

O tratamento da dor crônica em particular precisa levar em conta que somos mente e corpo. A partir desse autoconhecimento o paciente poderá perceber que ele não só deve aderir ao tratamento médico, mas também assumir novas atitudes, organizar práticas diárias, incorporar atividade física adequada, entre outras estratégias que reduzem e controlam as dores.

Continua após a publicidade

A dor é individual. Como lidar?

Segundo a Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED), “a sensação de dor é subjetiva e individual”. Assim, a melhor evidência para guiar os profissionais em relação aos sintomas de quem sente dor é o relato do próprio paciente. Com isso em mente podemos dar um passo além e dizer que a pessoa com dor também precisa se sentir protagonista para conseguir vencer seus sintomas.

Nesse caminho, é importante encontrar um profissional de saúde que ajude a estimular e estruturar um processo de autoconhecimento atrelado à mudança de hábitos. Esse é um caminho investigativo, que passa por descobrir o que alivia e o que piora a dor — e só o paciente poderá descortinar isso.

Entender que a dor vem do cérebro ajuda a desmistificar por que ela se torna persistente. É nessas horas que o indivíduo terá de se perguntar: o que estou fazendo (ou deixando de fazer) em minha rotina que está contribuindo para essa dor?

Continua após a publicidade

Retomando os conceitos de Engel, aquele médico americano citado há pouco, o tratamento da dor passa por aqueles três contextos: o biológico, o psicológico e o social. No plano biológico entram as doenças de base e os resultados dos exames clínicos e laboratoriais.

No psicológico temos as emoções, os medos, a depressão e a força para enfrentar o problema. E, no social, aparecem as relações familiares, o contato com os amigos e profissionais de saúde, o emprego e o nível socioeconômico. Ao contemplar esse modelo, conseguimos entender em que áreas temos o maior peso e as maiores influências para a dor e pensar em quais intervenções seriam mais satisfatórias.

Continua após a publicidade

A dor crônica deixa as pessoas isoladas. Isso pode acontecer por escolha própria ou pela incompreensão dos outros ao redor. Procurar grupos de apoio e suporte é recomendado nesse sentido para perceber que o indivíduo não está sozinho e precisa empreender mudanças comportamentais.

Estudos recentes indicam vantagens em tratamentos que incluem o trabalho em grupo. Segundo o psicólogo e pesquisador Ali Miller, do Instituto de Estudos Integrais da Califórnia (EUA), “estar em grupo ajuda a se relacionar com os outros (e consigo mesmo) de maneira mais saudável. O grupo fornece uma rede de segurança. As pessoas acabam se unindo e aprendendo com a experiência do outro.”

Montar uma rede de apoio em que as pessoas possam compartilhar dúvidas, ansiedades, obstáculos e vitórias, reconhecendo inclusive seus próprios sentimentos e necessidades, aprimora o autoconhecimento e ajuda a vencer os desafios, entre eles o da convivência com a dor. Para que a pessoa não se perca nessa rota e tenha resultados, é fundamental receber a assistência de um profissional capacitado, que auxilie a organizar expectativas e mudanças de planos.

Continua após a publicidade

Fica aqui um estímulo para todo mundo rever seus conceitos sobre dor crônica. E que possamos lapidar nossas crenças, valores e hábitos de modo que possamos usá-los a nosso favor na prevenção e na melhora da dor.

* Mariana Schamas é cinesiologista, pós-graduada em dor pelo Hospital Sírio-Libanês (SP), secretária do Comitê de Práticas Integrativas e Complementares da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED) e cofundadora da Athena Integralidade do Ser

Samia Schiller é fisioterapeuta especializada em neurologia e cofundadora da Athena Integralidade do Ser

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.