Gerociência: o que o estudo da velhice tem a nos dizer?
Pistas moleculares ajudam a entender por que umas pessoas vivem mais do que outras — e orientam mudanças para ampliar nossa longevidade
Os mecanismos celulares e genéticos relacionados ao envelhecimento e à saúde são o objeto de estudo do que hoje chamamos de Gerociência. Com as populações ao redor de todo o mundo ficando mais longevas, compreender esse fenômeno biológico e maneiras de garantir mais qualidade de vida durante o processo torna-se cada vez mais necessário.
E quando é exatamente que começamos a envelhecer? Bem, costumo dizer que o ser humano nasce e já começa a passar por isso. Afinal, cada ano de vida a mais que uma criança completa é tanto um crescimento como um envelhecimento. Mas, de acordo com o consenso científico, podemos dizer que o envelhecimento começa a acentuar-se a partir da terceira década de vida, período em que ocorre um fenômeno natural conhecido como imunossenescência.
Para ser mais exata, há ainda três idades em que o envelhecimento se torna mais acentuado. De acordo com um estudo realizado pela Universidade Stanford, nos Estados Unidos, e publicado no periódico Nature em 2019, aos 34, aos 60 e aos 78 anos nosso organismo se deteriora mais rapidamente. Os cientistas chegaram a essa conclusão após analisarem quase 3 mil proteínas presentes no plasma sanguíneo de mais de 4 mil voluntários. Eles perceberam que é nessas idades que o corpo muda mais radicalmente sua composição biológica.
Com isso em mente, nos últimos anos a Gerociência tem dedicado esforços para aperfeiçoar os conhecimentos sobre os biomarcadores, que são indicadores da presença de doenças. O objetivo é que por meio de exames como o de sangue seja possível não apenas antecipar diagnósticos e aperfeiçoar tratamentos, mas também criar previsões de como será o envelhecimento de cada um.
Nessa linha, pesquisadores da Universidade de Bolonha, na Itália, sequenciaram o genoma de 81 centenários, sendo que, entre eles, 76 tinham mais de 105 anos e cinco mais de 110, e descobriram cinco variantes genéticas que são comuns em pessoas que passam de um século de vida. Essas variantes parecem influenciar a expressão de três genes vitais à saúde das células. Isso faria com que, nesses indivíduos, os mecanismos de reparo do DNA fossem extremamente eficazes, o que prolongaria o tempo de vida.
Então quer dizer que só vive mais quem tem genes desse tipo? Não necessariamente. Fatores ambientais também pesam na equação. Como sempre digo, cuidar da saúde é um investimento. Quanto mais você investe ao longo da vida em uma alimentação equilibrada, na prática de exercícios, no sono e no bem-estar mental, maior a probabilidade de chegar bem à velhice. E, se você for um dos sortudos com uma dessas variações genéticas mapeadas pelos italianos, vai somar ainda mais anos em sua poupança.