As mulheres são as principais vítimas da constipação (ou obstipação) intestinal, a popular “prisão de ventre”.
Entre as causas, está uma situação bastante comum no universo feminino: se estiverem fora de casa e dá vontade de evacuar, muitas seguram o impulso.
Algumas aprenderam com as mães e avós que não devem usar banheiros de locais públicos pelo risco de contaminação, outras preferem a privacidade por vergonha de deixar cheiro ou emitir ruídos inconvenientes.
Às vezes, nosso relógio biológico faz com que a vontade de fazer coco só volte no dia seguinte. Enquanto isso, as fezes ficam lá armazenadas, e o intestino grosso e o reto continuam cumprindo seu papel de absorver água do líquido intestinal.
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Resultado: fezes mais ressecadas e eventualmente em grande volume, dificultando a evacuação. Em algumas ocasiões, até uma lavagem intestinal pode ser necessária.
Mas há um “coquetel” pró-constipação que afeta os dois sexos: alimentação pobre em fibras, consumo de líquido insuficiente para uma boa hidratação e sedentarismo. Esse combo ainda pode ser agravado pelo exagero de carboidratos na dieta.
Outro possível motivo por trás da constipação intestinal é a chamada obstrução de saída – ou seja, não há nenhuma dificuldade na propulsão dos alimentos pelo intestino. Ele se movimenta normalmente para levar o conteúdo fecal até a reta final, mas, quando o volume chega à pelve, existe um comprometimento da evacuação das fezes.
A obstrução de saída está associada a algumas doenças, como as do assoalho pélvico – e, mais uma vez, as mulheres são as mais afetadas porque isso tem a ver com gestação e parto.
Uma das doenças, que ocorre principalmente com o avanço da idade, é a retocele, situação em que o enfraquecimento da membrana que separa o reto da vagina dirige a força para evacuar para o assoalho vaginal, e não para o ânus.
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Muitas mulheres com retocele, intuitivamente, acabam introduzindo o dedo na vagina e pressionam a região abaulada para forçar a evacuação.
Tem também a cistocele (perda de sustentação da bexiga, empurrando a vagina), a uterocele (prolapso uterino em que o esforço para evacuar pode fazer o útero sair pela vagina) e ainda pode ocorrer o descenso do assoalho pélvico (que é a queda do assoalho pélvico todo).
Outro problema frequente de obstrução de saída é a intussuscepção retal, quando, na hora do esforço para evacuar, o reto entra dentro dele mesmo, como a manga de uma blusa que enrola dentro dela mesma e não deixa o braço passar na hora que tentamos vesti-la.
Como diagnosticar?
Quando o paciente chega ao consultório com queixa de constipação intestinal, como saber se é obstrução de saída ou problema do trânsito intestinal?
Além de levantar dados como intervalo entre evacuações, aspecto e consistência das fezes, hábitos alimentares, entre outros, um exame complementar importante para nos ajudar é o de tempo de trânsito colônico.
Para realizá-lo, toma-se uma cápsula que contém 24 argolas minúsculas e, durante uma semana, é feito um raio x diário que registra onde elas estão.
Se as argolinhas não chegam à pelve no tempo adequado, o problema é trânsito intestinal. Se chegam, mas não são eliminadas, é obstrução de saída. Dependendo do quadro, outros exames podem ser necessários.
Como é o tratamento
Determinados casos exigirão cirurgia – geralmente procedimentos minimamente invasivos, muitos hoje realizados com tecnologia robótica, com resultados muito positivos e recuperação mais rápida.
Alguns quadros poderão ser solucionados com mudança de comportamento e medicamentos, como aqueles que aumentam a motilidade do intestino quando ele não está funcionando adequadamente para levar a massa fecal até a pelve.
Outras situações serão resolvidas com reabilitação do assoalho pélvico por meio de fisioterapia (biofeedback), como é o caso do anismo, uma condição em que o esfíncter anal, em vez de relaxar, contrai com o esforço de evacuação.
Mas a grande maioria das pessoas com constipação intestinal não precisará de nada disso para superar o problema porque a causa está associada a dieta e comportamento.
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Mudanças simples, grandes resultados
Nessas circunstâncias, a saída não tem segredos: envolve alimentação rica em fibras, boa hidratação e atividade física regular.
Quanto ao comportamento, a orientação é deixar de lado eventuais constrangimentos e esquecer os ensinamentos da mamãe e da vovó: se deu vontade de evacuar, o melhor a fazer é buscar o banheiro mais próximo.
Colocar o bumbum em um vaso sanitário público é menos arriscado do que colocar a mão na maçaneta. A pele do bumbum não vai ter contato com olhos e boca, por exemplo. A da mão, sim.
Se com essas medidas a constipação intestinal não der trégua, é melhor procurar o médico.
Com avaliação clínica e exames, ele indicará o melhor caminho para libertar você da prisão de ventre e retomar a capacidade de fazer essa coisa natural, saudável e prosaica que é evacuar diariamente, às vezes mais de uma vez ao dia.