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Esse é o blog de Patricia Julianelli, jornalista especialista em nutrição, esporte e qualidade de vida, além de apaixonada por comida e corrida de rua. Ela é autora do livro "Boca Livre - Comida e Boa Forma com Prazer e sem Neura" e apresentadora do quadro "Saúde em Movimento", da rádio CBN
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Da dieta eu espero tudo, menos um choque

Eu busco comida que abraça, que dá colo. E que, em vez de provocar algum tipo de estresse ou sofrimento, nutre o corpo e a alma, afirma colunista

Por Patricia Julianelli
3 jul 2023, 17h10
nutricao-comportamental
Dietas restritivas e apelos radicais geram mais dor de cabeça do que soluções para o corpo e a saúde.  (Ilustração: Thiago Lyra/SAÚDE é Vital)
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Funciona mais ou menos assim: no começo, você restringe drasticamente as calorias e até mesmo alguns grupos alimentares. Vai ser mais difícil, já avisam, mas é uma fase curta da dieta e com data para terminar.

A ideia é dar uma espécie de choque no corpo e promover uma rápida perda de peso. Então, você sobe na balança, vê o resultado e se anima para continuar. Aos poucos, novos alimentos vão sendo “liberados”, assim como uma quantidade maior de calorias diárias.

Essa estratégia daria um chacoalhão no organismo. Você acorda e seu corpo pensa: “Oba, lá vem aquele café-da-manhã delícia, esperei oito horas por isso…”.

Só que não: pega esse jejum intermitente aqui! Acha que acabou? Então segura essa dieta cetogênica! E logo chega a vez da low carb!

É como se a gente “ensinasse”, na base do choque, nosso corpo a comer menos e só os “alimentos certos”. O que seria uma boa para começar um processo ou dar um empurrãozinho na dieta que “estacionou”.

Não vou entrar no mérito da eficiência da estratégia. A reflexão que eu proponho é um pouco mais ampla. A gente precisa mesmo passar por isso?

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Pensa comigo. Nós sobrevivemos a uma pandemia. E isso num país completamente desgovernado. Assistimos uma guerra do outro lado do oceano interferir na nossa economia.

Vimos a fome voltar com tudo, afetando hoje milhões de brasileiros. Diariamente, engolimos a seco novos casos de racismo, misoginia, intolerância. Aliás, aprendemos a tolerar a intolerância.

Você acha mesmo que nosso corpo precisa de um choque? Ele precisa de tudo, menos de um choque. Quer aconchego, colo, acolhimento.

Para que criar obstáculos que geram dor? Deixe isso para a galera do cross-fit. Não caia no discurso dos coaches de performance: a dor não é a fraqueza saindo do corpo. E nenhum choque vai despertar o gigante que mora em você.

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+ LEIA TAMBÉM: É preciso se esgoelar para encher o corpo de proteína?

Eu, na verdade, não quero despertar gigante nenhum. Quero despertar minha melhor versão. E ela é bem de boa. Curte os pequenos prazeres da vida, um solzinho batendo no rosto, o barulho do pão quentinho estalando…

Não sei se você se lembra, mas um pediatra ganhou notoriedade ao receitar brincadeiras ao ar livre a seus pacientes. Coisa mais linda. Pois bem, se eu tivesse esse poder, faria uma listinha de itens para evitar e, outros, para priorizar.

E não me limitaria ao mundo da nutrição, não. Acho que seria algo como:

Melhor evitar:

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– Choque no metabolismo. Banho de contraste.
– Cetogênica, low carb ou qualquer dieta restritiva sem indicação médica.
– Suco detox. Shot de imunidade. Água com limão.
– Jejum intermitente. Reuniões sem fim.
– Produtividade máxima. Metas insanas de performance.
– Treinar enquanto eles dormem. No pain no gain.
– Contar calorias de tudo que come. Subir na balança a todo instante.
– Chamar comida de lixo, gordice, besteira.
– Gente tóxica, que mina nossa energia. Seja do mundo real ou do digital.

Vale investir:

– Comidas que abraçam. Sabores que nos fazem viajar no tempo.
– Sol batendo no rosto. O som dos pássaros logo cedo.
– Mais tempo com quem ama. Um tempo só seu.
– Atividades que dão prazer, e que não envolvem comida e bebida sempre.
– Olho no olho. Abraço de olhos fechados.
– Gente que te coloca pra cima. E que te dá a mão.
– Mexer o corpo com o que você gosta. No seu tempo
– Seus sentimentos. Seus desejos. Suas necessidades.
– Uma nova relação com a comida, sem data pra terminar.

As mudanças duradouras, aquelas que vêm pra ficar, chegam de mansinho. Quando a gente percebe, já tomaram conta da nossa vida.

Por isso, seja gentil com você. Quer melhorar sua alimentação? Comece com pequenas mudanças. Inclua mais alimentos nutritivos na rotina. Experimente novos sabores e texturas. Reduza, aos poucos, aqueles que dão prazer, mas que, em excesso, podem fazer mal.

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Eu garanto: quando você menos perceber, terá encontrado o equilíbrio entre o que você gosta e o que faz bem. E o melhor: vai passar a gostar de um monte de coisa deliciosa e que faz um bem danado!

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