A depressão afeta cerca de 15% da população brasileira em algum momento da vida, de acordo com o Ministério da Saúde.
Para além de uma mera tristeza, a condição é associada a uma profunda perda de interesse e de prazer, falta de esperança e prostração. Os sintomas passam a interferir nas atividades cotidianas, como comer, dormir, estudar ou trabalhar.
O tratamento da depressão é multidisciplinar e costuma envolver psicoterapia, mudanças de estilo de vida e, em alguns casos, o uso de medicações, conforme a necessidade de cada paciente.
Nesse contexto, será que a erva-de-são-joão também pode ser útil? Recebemos essa pergunta do leitor Wander Braga. Você também pode participar, mandando uma mensagem para saude.abril@atleitor.com.br.
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O que é a erva-de-são-joão e quais são seus benefícios?
De nome científico Hypericum perforatum, a erva-de-são-joão também é conhecida popularmente como hipérico, hipericão ou mil-furada.
O composto conta com efeitos antidepressivos tradicionalmente descritos e cientificamente comprovados, como explica o farmacologista Lucas Gazarini, professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
“Estudos clínicos demonstram que ela pode ser eficaz no tratamento de casos leves a moderados de depressão, com uma ação comparável à de antidepressivos tradicionais, de origem sintética, mas com um perfil de efeitos colaterais geralmente mais leve”, detalha Gazarini.
Como um medicamento fitoterápico, produzido a partir de plantas, com controle de qualidade farmacêutico e comprovação de eficácia, seu uso exige prescrição médica e deve ser acompanhado por um profissional de saúde. Diferentemente do que ocorre com o uso de outros produtos à base de plantas, como chás e preparados caseiros.
“Embora não interaja com álcool, ao contrário de outros antidepressivos, preparados de hipérico podem interagir com outros medicamentos e alterar sua eficácia”, observa Gazarini.
O uso associado a contraceptivos, por exemplo, pode reduzir as concentrações desses medicamentos no sangue, com risco de uma gestação indesejada.
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Por dentro da planta
As substâncias presentes na erva-de-são-joão contribuem para suas propriedades antidepressivas.
“A mais estudada é a hipericina, que modula a ação de neurotransmissores no cérebro, incluindo a serotonina, dopamina e noradrenalina, que são fundamentais na regulação do humor e nas respostas ao estresse”, pontua o professor da UFMS.
Os sintomas da doença são associados a esses desbalanços na liberação e ação de neurotransmissores, por isso a maioria dos remédios atua nessas substâncias.
“A hipericina é associada à inibição do metabolismo e recaptação de neurotransmissores como serotonina, dopamina e noradrenalina, que passam a ficar mais tempo nas sinapses, interfaces de comunicação entre neurônios. Isso aumenta a eficiência da comunicação entre neurônios, que está alterada em quadros depressivos”, explica Gazarini.
A hiperforina e flavonoides são outros compostos presentes na planta.
“Extratos de hipérico também parecem reduzir a produção de mediadores inflamatórios e a liberação de cortisol, um hormônio associado ao estresse, ajudando a proteger o sistema nervoso dos danos oxidativos do estresse crônico”, acrescenta.
A planta medicinal também possui propriedades antibacterianas, antifúngicas e antioxidantes.