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Comer é muito mais do que ingerir nutrientes. Na receita de uma alimentação equilibrada, também há ingredientes comportamentais, emocionais, culturais e ambientais, como mostra a nutricionista Lara Natacci
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Você come suas emoções?

Quem busca na comida uma forma de lidar com sentimentos, como tristeza e ansiedade, fica mais sujeito ao descontrole alimentar e seus prejuízos na saúde

Por Lara Natacci
7 fev 2021, 13h15
homem comendo um hambúrguer
Desde a infância aprendemos a comer para aliviar emoções. O perigo é quando isso passa do ponto. (Foto: Marcel Heil/Unsplash/SAÚDE é Vital)
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A primeira função da comida é nutrir – ou seja, fornecer ao organismo os nutrientes que ele precisa para funcionar bem. Mas, para além disso, o ato de comer envolve valores sociais e ritualísticos. E, como todo hábito, o comportamento alimentar é aprendido. Ora, se desde cedo fôssemos habituados a comer somente em função da necessidade de energia e nutrientes, talvez não tivéssemos tanto problema com o peso.

Ainda na infância fomos ensinados que, quando tristes, um chocolate nos faz sentir bem, ou que “merecemos” um x-burguer ao fim de um dia difícil. Muitas vezes, portanto, comemos para amenizar uma emoção ruim.

A questão é que os sentimentos de ansiedade, tristeza, estresse, raiva ou culpa não desaparecem depois que comemos. Podemos até sentir um alívio durante o consumo dos alimentos, mas, em seguida, vem a frustração e a sensação de fracasso. Ainda assim, associar a comida a um alívio imediato para os problemas emocionais pode ficar “programado” no cérebro.

Identificar o que dispara o desejo de comer – além do motivo fisiológico, da necessidade orgânica – e investigar a relação com os alimentos são os primeiros passos para fazer as pazes com a comida e as nossas emoções.

No fim das contas, a saúde também sai protegida. Afinal, estudos associam uma alimentação por razões emocionais ao descontrole alimentar. E quem come por emoção fica mais propenso ao excesso de peso e de gordura corporal, além de apresentar maior tendência à escolha de alimentos ricos em carboidratos. Este foi, inclusive, um dos resultados do meu estudo de mestrado, na Universidade de São Paulo (USP), que avaliou padrões de comportamento alimentar, estado nutricional e consumo de alimentos.

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Identificando a fome emocional e a fome fisiológica

A fome emocional aparece de repente. Normalmente, quando comemos por emoção, buscamos um tipo específico de alimento, que é aquele “confortante”. Essa necessidade é urgente e, por isso, na maioria das vezes não conseguimos esperar para comer. E dificilmente conseguimos parar, mesmo que estejamos saciados.

Essa fome costuma desaparecer quando nos distraímos com alguma outra atividade. Só que, na sequência, experimentamos sensações negativas, como culpa e frustração, por termos comido muito e sem necessidade.

Já a fome fisiológica surge gradualmente. Para ficarmos satisfeitos, precisamos de uma refeição (ou lanche) completa e variada. Como o apetite aparece aos poucos, é possível aguentar um certo tempo até comer. E, na maioria dos casos, paramos quando estamos saciados. A fome não desaparece se tentarmos nos distrair com outras atividades. Depois que nos alimentamos, temos sensações positivas, como prazer e bem-estar.

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Se você notar que, em algumas ocasiões, come em função de emoções, e não por necessidade orgânica, vale a pena traçar algumas estratégias e se preparar para que isso não aconteça mais.

Até porque o alívio e o prazer que o alimento traz como resposta à uma emoção negativa culmina, na sequência, em sensações ruins, que podem gerar mais estresse e sentimentos nocivos. Isso alimenta um círculo vicioso, que sempre termina em mais comida.

Como sair dessa

É importante tentar identificar quando o impulso de comer vem e por qual razão. Faça um registro de sua alimentação e de suas emoções. Marque o que comeu e o que sentiu antes e depois. Esse hábito ajuda a encontrar os gatilhos do descontrole alimentar e a entender o que isso causou no seu corpo e mente.

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O registro pode ser feito na hora em que você se alimenta ou mesmo de forma invertida, no fim do dia. Neste caso, você terá maior percepção em relação às consequências desagradáveis que o descontrole alimentar provocou, e depois entenderá por que ele aconteceu.

Outra boa pedida é fazer, à noite, um relato por escrito, de maneira não julgadora e em terceira pessoa (como se fosse de forma jornalística), sobre os acontecimentos do dia relacionados aos sentimentos e à alimentação. Todos esses apontamentos nos fazem olhar um pouco mais para dentro, aumentando bastante o nível de consciência.

Depois de reconhecer os impulsos, é possível usar estratégias de relaxamento – como respiração profunda, meditação ou mesmo alguns exercícios físicos – para serem praticados quando vier a fome emocional.

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Outra alternativa é escrever uma lista de atividades que despertem as sensações de bem-estar e prazer, mas que não tenham ligação com comida. Para isso, pense: o que já te ajudou em um momento delicado? Cada pessoa vai encontrar as suas respostas, que vão desde tomar um banho quente e passear com o cachorro até falar com um amigo, ler um livro, entre outras. No momento em que o impulso de comer surgir, o ideal é tentar realizar uma dessas coisas.

Mas entenda que é normal tentar compensar uma emoção ruim. Está tudo bem! O importante é evitar qualquer tipo de auto-julgamento e, acima de tudo, encontrar formas de se aliviar sem causar um problema para nossa saúde física ou mental.

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