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Pandemia de Covid-19 agrava depressão e demanda tratamentos diferenciados

Psiquiatras mostram como o coronavírus favorece a depressão por diferentes vias. E quais os métodos modernos para controlá-la

Por José Gallucci Neto e Andre Brunoni, psiquiatras*
Atualizado em 7 dez 2020, 12h00 - Publicado em 6 dez 2020, 20h23

A pandemia de coronavírus contribuiu para o aumento significativo de sintomas psíquicos e de transtornos mentais. A depressão se destaca nesse cenário, especialmente entre as mulheres, que passaram a sofrer maior estresse ao conciliarem os cuidados com os filhos, os afazeres domésticos, a rotina do trabalho e as relações afetivas.

A bem da verdade, a Covid-19 interfere na gênese da depressão em vários aspectos. Entre eles, destacamos a possível ação do vírus no sistema nervoso central, experiências traumáticas associadas à infecção, a morte de familiares ou pessoas próximas, a mudança na rotina devido às medidas de distanciamento social, a perda de renda e a interrupção de serviços essenciais de saúde mental. Especialistas apontam que os sintomas de estresse, como insônia e abuso de álcool e drogas, cresceram por causa da pandemia.

Em geral, o tratamento com antidepressivos de primeira linha demonstra eficácia em até 70% dos casos. Mas, dependendo da progressão e da gravidade do quadro, torna-se necessária a adoção de outras metodologias. Isso também vale para transtornos mentais como esquizofrenia e catatonia, que podem não responder aos remédios.

Com o avanço tecnológico, ganham cada vez mais força os chamados tratamentos não farmacológicos. Falamos, por exemplo, de estimulação neuroelétrica (eletroconvulsoterapia), estimulação magnética transcraniana e a estimulação cerebral por corrente elétrica contínua. Todas essas técnicas foram aprimoradas e têm sido adotadas em ambiente hospitalar para pacientes com depressão leve, moderada ou grave.

O tratamento não farmacológico mais eficaz para quadros depressivos graves e resistentes às medicações é a eletroconvulsoterapia. É o que algumas pessoas equivocadamente ainda chamam de eletrochoque, termo estigmatizante que nos remete a cenas de filmes de terror antigos. Mas, diferentemente do passado, esse tratamento é realizado seguindo protocolos rígidos de segurança e eficácia, de forma indolor e com o mínimo de efeitos colaterais.

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A técnica da eletroconvulsoterapia (ECT) consiste na indução de uma crise convulsiva de curta duração (20 a 30 segundos) através de uma corrente elétrica de pulso breve. Os pacientes recebem sedação e relaxantes musculares imediatamente antes da crise. A técnica é considerada altamente eficaz na psiquiatria, atingindo taxas de resposta superiores a 60% no atendimento de quadros graves de depressão. O paciente recebe acompanhamento e monitoramento contínuo antes e depois do procedimento.

No Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), o Serviço de ECT realiza cerca de 500 a 600 procedimentos por mês.

Outro tratamento é a neuromodulação, que utiliza técnicas de estimulação magnética transcraniana (EMT) e estimulação elétrica transcraniana (EET). Em resumo, a estratégia incita a ativação dos neurônios. A recomendação é para casos leves e moderados de depressão. Ela não é invasiva, tem mínimos efeitos colaterais e dispensa a sedação.

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O uso da escetamina é mais uma modalidade terapêutica, aprovada recentemente no Brasil e com resultados promissores nos estudos de curto prazo. Trata-se de um anestésico com propriedades antidepressivas de ação rápida. Utilizado em doses baixas, ele é aplicado por via intravenosa ou intranasal (spray) em pacientes graves, refratários e com risco de suicídio. O tratamento requer acompanhamento e monitoramento em ambiente hospitalar.

O grau de eficácia dessas novas técnicas adotadas pelo IPq, considerado o maior e mais bem equipado centro de sua especialidade no Brasil, estimulou a criação de um curso acadêmico que passará a fazer parte da grade de cursos de especialização Latu Sensu da Escola de Educação Permanente (EEP) do HCFMUSP. As inscrições foram abertas em novembro e o curso terá início em 2021, com duração de dez meses.

O curso de Psiquiatria Intervencionista é aberto a profissionais de saúde de todo o país. Ele almeja atualizar e capacitar médicos com residência em psiquiatria, neurologia, anestesia e clínica médica baseada em procedimentos realizados em ambiente hospitalar, com finalidade terapêutica, que necessitam de uma técnica específica para segurança e eficácia. As inscrições devem ser feitas pelo site: https://eephcfmusp.org.br/portal/online/modalidade/especializacao/

*José Gallucci Neto é diretor médico do Serviço de ECT e Vídeo EEG do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). Andre Brunoni é professor associado e livre docente do Departamento de Psiquiatria da FMUSP

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