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Como o calor excessivo mexe com a nossa saúde

Médico alerta para os perigos de se expor a altas temperaturas no verão e os seus impactos no sistema cardiovascular

Por Edmo Atique Gabriel, cardiologista e cirurgião cardíaco*
24 dez 2020, 17h21
ilustração de mulher tomando sol de biquini
Exposição ao sol e ao calor exige cuidados para prevenir de câncer de pele a desequilíbrios na pressão arterial (Ilustração: O. Silva/Veja Saúde)
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A influência do verão na rotina e no estado de espírito das pessoas é algo indescritível. A combinação entre o azul do céu e o sol escaldante gera, consciente ou inconscientemente, o desejo de sair de casa e desfrutar de parques, praças e praias. Ainda que a pandemia do coronavírus tenha embolado as coisas e cobrado cuidados extras, é mais comum ver nessa temporada pessoas se exercitando, passeando ou brincando ao ar livre.

Num país tropical como o nosso, é durante o verão que vislumbramos mais gente nas ruas, nos calçadões e nas academias, caminhando, correndo, malhando e praticando tantas outras modalidades esportivas, algo que envolve muita transpiração, dor, estafa e a sensação revigorante do pós-treino. Mas um bom observador, com conhecimento médico, pode levantar alguns questionamentos e ponderações sobre esse movimento todo.

Sabemos que os exercícios fazem muito bem à saúde, mas será que todas essas pessoas suando a camisa sob altas temperaturas passaram por uma avaliação profissional e realizaram exames prévios? Será que indivíduos com pressão alta, arritmia, diabetes ou obesidade estão com o estado físico realmente em dia? Até que ponto a busca pelo corpo perfeito e a vaidade não estimulam práticas de alta intensidade ou treinos insanos e induzem os cidadãos a negligenciar sinais de alerta como falta de ar e dor no peito?

É com essas questões em mente que quero convidar o leitor a refletir sobre alguns comportamentos típicos dos meses de verão. Esse recado vale especialmente àquelas pessoas que, sem condicionamento ou exames preventivos, buscam superar seus limites físicos quando o termômetro vai às alturas.

O calor excessivo pode promover muitas alterações no nosso balanço hídrico e no sistema circulatório, impactando, por exemplo, a pressão arterial. Especialmente nas pessoas hipertensas, sem o controle adequado do problema, essa situação pode predispor ao aparecimento de tonturas, falta de ar e escurecimento visual. As temperaturas elevadas também resultam em quedas acentuadas de pressão (a hipotensão). Em alguns indivíduos, isso pode aumentar até o risco de um AVC.

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As atividades físicas, mesmo em condições climáticas amenas, já exigem uma alimentação equilibrada e uma vigorosa hidratação. Com o calor, porém, a demanda de energia e água será significativamente maior. Além disso, precisamos nos lembrar do sol forte: sem proteção, os raios solares podem contribuir com o câncer de pele.

Um dos problemas nesses meses mais quentes é que por vezes o bom senso é deixado de lado. Mesmo quando o corpo dá sinais de algo errado, como dor de cabeça, sensação de fadiga e palpitações, tem gente que os ignora e segue se exercitando ou fazendo outra atividade extenuante. É um perigo!

Está ficando mais quente

Jornais do mundo inteiro vêm destacando, nos últimos três anos, que as temperaturas estão mais elevadas e comprometendo a saúde da população, tanto em países ricos como pobres. Dois grandes estudos, publicados na revista médica The Lancet, apontam que o calor extremo é praticamente um problema de saúde pública.

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Essas pesquisas revelam que as altas temperaturas comprometem o rendimento físico e ocupacional e a cadeia de produção de alimentos, podendo afetar a subsistência de comunidades inteiras. O calor promove desequilíbrios cardíacos e renais e favorece até complicações infecciosas. Tudo isso num pano de fundo de um sistema hospitalar que pode não aguentar a demanda.

Mais recentemente, as pesquisadoras Annette Peters e Alexandra Schneider publicaram, na revista Nature Reviews Cardiology, uma análise muito profunda acerca da correlação entre doenças cardiovasculares agudas e calor extremo. O aumento das taxas de infarto foi associado a altas temperaturas, especialmente naquelas pessoas com hipertensão arterial e diabetes tipo 2.

As cientistas alertam para uma tendência muito clara para os próximos anos: as taxas de infarto serão predominantemente maiores nos meses de verão do que nos meses de inverno. Do ponto de vista fisiológico, a explicação é que o estresse térmico propicia descontrole da pressão, processos inflamatórios e problemas de coagulação sanguínea.

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Tudo isso faz pensar até quando o verão e o calor seguirão sinônimos de disposição e vigor físico. Os efeitos das mudanças climáticas já estão aí — e precisamos nos conscientizar e agir. Individualmente, podemos nos proteger com aconselhamento médico, exames cardiológicos de rotina e uma carga robusta de bom senso. Especialmente quando o termômetro subir demais.

* Edmo Atique Gabriel é cardiologista e cirurgião cardíaco, professor universitário, conselheiro de residência médica do Ministério da Educação e autor do blog Coração Moderno

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