O que é tripofobia? Repulsa a buracos e lesões na pele não é doença
Apesar do nome, a tripofobia não é uma fobia (e nem um transtorno). Mas pode estar relacionada a crises de pânico. Veja os sintomas e quando ir ao médico
A repulsa ou aversão a buracos ou lesões agrupadas de forma irregular tem um nome: tripofobia. Esse padrão de buraquinhos pode estar na pele, em tecidos, objetos ou animais. Pessoas com essa questão não aguentam olhar para, por exemplo, os furinhos de uma esponja, ou mesmo para imagens com sintomas mais intensos da varíola do macaco.
Essa aflição pode causar mal-estar, mas não é considerada uma doença por si só. E nem mesmo uma fobia, apesar do nome.
“O termo fobia é diretamente relacionado ao medo de alguma coisa, seja de um animal, de altura, de andar de avião. Esses quadros produzem sentimentos mais intensos de pânico e ansiedade”, afirma o psiquiatra Felipe Becker, coordenador do serviço internação psiquiátrica do Hospital Infantil Dr. Jeser Amarante Faria, em Joinville (SC).
A bem da verdade, a palavra “tripofobia” sequer foi criada por especialistas. “Ela nasceu na internet, da necessidade de dar nome a essa sensação”, conta a psicóloga Marilene Kehdi, de São Paulo. Tripo vem do grego trypo, que significa buracos ou orifícios.
A definição no tipo de buraco também é contraditória. Materiais oficiais apontam para imagens em que esses orifícios estão em grupo e de forma irregular. Mas também há relatos do plástico bolha como um gatilho – e, aí, os furinhos são simétricos. O mais comum seria de casos de frutos como a flor de lótus indiana, com sementes expostas, como na imagem abaixo.
Há alguns estudos comportamentais sobre o tema. O primeiro é de 2013, segundo Becker, e foi publicado na revista Psychological Science. “Uma das teorias é que o cérebro humano, ao ver essas imagens, faz associações a doenças transmissíveis e animais peçonhentos, e isso teria alguma relação com os mecanismos de defesa que criamos ao longo da evolução”, afirma o psiquiatra. Isso, contudo, não passa de uma hipótese.
Tem tratamento?
Como a tripofobia não é considerada uma doença e não há material médico sobre ela, também não existe um protocolo de tratamento oficial. “Essa aversão não leva as pessoas a um ataque de pânico imediato. Se isso ocorrer, é porque já há histórico de algum transtorno ou trauma”, afirma Marilene.
Quem sente essa aflição e gostaria de se livrar dela pode utilizar a psicoterapia. “A solução envolve exposição gradativa a essas imagens, mas é importante fazer com acompanhamento para não criar um trauma novo”, defende a psicóloga.
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Materiais pela internet citam sintomas graves, como crises de choro e ataques de pânico. Mas Becker entende que esses sinais não estão ligados apenas à tripofobia.
“A aversão a essas imagens pode ter relação com outros transtornos pré-existente ou servir de gatilho para eventos do passado. Um exemplo banal é o do adolescente que conviveu com um caso grave de acne, que afetou a sua vida social”, pontua o psiquiatra.
A simples convivência da pessoa com familiares que tinham aversões relacionadas pode também desencandear a tripofobia. “É na infância que criamos as nossas memórias sensoriais. Se uma mãe gritava ou tinha um comportamento exagerado ao ver um animal com essas características, por exemplo, essa lembrança permanece”, ensina Becker.
Medicamentos como antidepressivos e ansiolíticos só serão empregados se houver outro distúrbio relacionados. Então cuidado com diagnósticos e soluções apressadas.
Quem precisa ficar atento?
Por mais que a tripofobia não seja considerada doença, ela às vezes indica algum outro trauma ou transtorno escondido. “Quando se percebe essa aflição recorrente, principalmente em crianças, é bom buscar ajuda médica. Com o tempo, o problema de fundo se torna mais crônico e mais difícil de identificar”, considera Marilene.
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Sintomas mais comuns da tripofobia
Além da sensação de repulsa em si, pode haver:
- Coceira
- Taquicardia
- Necessidade de esfregar as mãos
- Certa ansiedade