Nutricosméticos: vale a pena suplementar colágeno e companhia?
Novos produtos garantem melhorar o aspecto da pele, das unhas e do cabelo. SAÚDE apura o que esperar das promessas contidas em cápsulas, sachês e companhia
Muito em breve, extratos feitos de nutrientes originalmente encontrados em certos alimentos estarão literalmente na boca do povo — pelo menos daquela parcela mais vaidosa. É o que apontam pesquisas de mercado, como a Transparency Market Research, cuja previsão é a de que o segmento dos chamados nutricosméticos cresça 5% em nível mundial em comparação ao ano passado, ultrapassando a marca de 7 bilhões de dólares até 2025.
O apelo justifica a demanda. Quem não gostaria de manter uma pele jovem e bronzeada tomando alguns comprimidos ou dissolvendo um sachê em água? “O problema é que muita gente encara esse recurso como um substituto para a boa alimentação e outros hábitos importantes”, pondera a dermatologista Betina Stefanello, da Sociedade Brasileira de Dermatologia, no Rio de Janeiro.
Veja o caso da exposição ao sol: raios ultravioleta potencializam a liberação de radicais livres, moléculas que fazem os sinais da idade aparecerem antes do tempo. Logo, o poder antioxidante do betacaroteno, responsável pela cor alaranjada da cenoura, da abóbora e do mamão, é muito bem-vindo.
Só que nem mesmo uma montanha dessa substância — já disponível em cápsulas — seria capaz de criar uma barreira fotoprotetora sobre o corpo. Ou seja, não dá para abdicar do filtro solar. “São mecanismos de ação diferentes, que devem se complementar”, avisa o farmacêutico Emiro Khury, consultor técnico da Associação Brasileira de Cosmetologia, na capital paulista.
Também é preciso acertar na dose. Pesquisas indicam que a suplementação de colágeno só faz diferença na cútis em níveis diários superiores a 5 gramas. “Considerando que uma cápsula possui, no máximo, 0,5 grama dessa proteína, o ideal é investir na versão em pó. Uma colher de sopa tem cerca de 10 gramas”, recomenda a farmacêutica Janete Grippa, professora da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais.
Foi essa quantidade de colágeno que 60 voluntárias de 45 a 60 anos foram convidadas a ingerir, todos os dias, em um estudo da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Resultado: três meses depois, a suplementação não só se equiparou aos cremes indicados para estrias na melhora da elasticidade como se mostrou mais eficiente que os cosméticos anti-idade frente à flacidez.
Em outro experimento brasileiro, foram testados suplementos diários de colágeno (5 gramas) e de vitamina C (1 grama), além de sessões semanais de radiofrequência, aparelho que estimula a produção de certas proteínas. “Separamos 40 participantes em quatro turmas. E o grupo que aliou as três alternativas obteve mais benefícios”, conta a fisioterapeuta Patrícia Froes, autora do trabalho e professora da Universidade Potiguar, em Natal (RN).
Sendo assim, por que não abandonar os cremes e focar nos sachês de colágeno, por exemplo? “Ao cair no sistema digestório, ele é quebrado em diversos aminoácidos, que serão direcionados de acordo com as necessidades do organismo”, explica a nutróloga Letícia Fontes, membro da Associação Brasileira de Nutrologia, em São Paulo.
Então, não dá para afirmar que consumir essa substância favorecerá a pele em vez de outro órgão e tecido. “Melhor dar preferência a alimentos ricos em vitamina C, que contribuem para a formação natural de colágeno”, completa a nutricionista Ceres Della Lucia, da Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais.
Quanto aos demais tipos de nutricosméticos, vale recapitular: utilizá-los não exclui a necessidade de outros cuidados. E eles devem começar antes de as primeiras rugas ameaçarem apontar. Dietas restritivas e cardápios cheios de gordura e açúcar cobram um preço caro à aparência. “Há evidências de que a insônia e o estresse também são prejudiciais nesse sentido, já que levam a alterações hormonais”, destaca o endocrinologista Renato Zilli, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Uma análise conduzida por cientistas da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, chegou a escancarar os efeitos negativos de alguns fatores do cotidiano na beleza. Uma noite de privação de sono, uma entrevista de emprego no dia seguinte e a prática de atividades físicas intensas provocaram, em 46 mulheres, redução da capacidade de recuperação da pele ou aumento da atividade inflamatória. Um combo que atrapalha mesmo a relação com o espelho.
Tem mais um detalhe para garantir que o investimento nos nutricosméticos valerá a pena. “É fundamental passar pela avaliação de um profissional”, diz o gastroenterologista Guilherme Andrade, do Hospital 9 de Julho, na capital paulista. “Tanto para confirmar se há necessidade de recorrer a esses produtos quanto para ter certeza de que o organismo absorverá bem seus nutrientes”, completa. No fim das contas, as cápsulas só funcionam se você cumprir sua parte. Sozinhas, elas não conseguem duelar com o relógio.
As diferenças entre nutricosméticos, nutracêuticos e cosmecêuticos
Cosmecêuticos
Falamos de cremes, loções, pomadas e outros itens de uso tópico, isto é, externo. Voltados para casos que demandam maior atenção, como acne e celulite severas.
Nutracêuticos
São suplementos que dão ênfase à saúde em geral. Aliados de quem comete deslizes na alimentação, podem dar força na prevenção de doenças e na melhora da disposição.
Nutricosméticos
Aqui, o foco é puramente estético. No entanto, lançar mão desses produtos de uso oral (em cápsulas, sachês…) às vezes repercute em outras áreas do organismo.