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Mãos à horta: como cultivar ervas, temperos e outras plantas em casa

Até por causa do coronavírus, muita gente decidiu iniciar o cultivo de ervas e hortaliças. Especialistas comemoram a atitude, que traz várias vantagens

Por Thaís Manarini
Atualizado em 19 Maio 2020, 14h37 - Publicado em 17 Maio 2020, 12h00
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  • Há dez anos, a Embrapa Hortaliças, em Brasília, oferece cursos presenciais sobre hortas caseiras. Mas as medidas de isolamento social — necessárias para frear a disseminação do novo coronavírus (Sars-CoV-2) — levaram a entidade a lançar aulas online. Nas primeiras horas após o anúncio, mais de 2 mil pessoas se inscreveram. “Quando chegamos a 8 mil participantes, precisamos fechar a lista, caso contrário a plataforma não aguentaria”, conta a bióloga Lenita Haber, uma das criadoras de conteúdo do curso. Para ela, o aumento no interesse pelo cultivo de plantas está evidente. “Neste momento, estamos refletindo sobre muitas coisas, inclusive a importância de termos acesso a ingredientes frescos e saudáveis”, avalia.

    Para a nutricionista Vanderli Marchiori, fundadora da Associação Paulista de Fitoterapia (Apfit), o movimento é muito bem-vindo. “Quando cuidamos de uma horta, somos desafiados a criar novas preparações para aproveitarmos a planta ao máximo”, explica. Com isso, a qualidade da alimentação dá um salto.

    Essa associação é, inclusive, corroborada por diversos estudos. Em 2019, pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, avaliaram indivíduos que praticavam a horticultura em sua comunidade. Eles notaram que esse pessoal apresentou maior vontade de cozinhar, saboreou mais itens frescos e reduziu o consumo de fast-food.

    Em 2017, uma revisão assinada por uma equipe da Universidade de Tóquio, no Japão, destacou ainda o papel desse tipo de atividade contra depressão e ansiedade — problemas que ganham terreno com o distanciamento social. “Mexer com a terra acalma”, afirma a nutricionista Luciana Tomita, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A expert montou uma horta comunitária no terraço da instituição para beneficiar a dieta e a saúde mental dos alunos.

    Mas não só. Ela leva estudantes de medicina para conhecerem o espaço e perceberem que, mais tarde, ao atender populações de baixa renda, é possível incentivar uma alimentação equilibrada mesmo com recursos financeiros limitados. Afinal, uma horta cabe em qualquer espaço e não pesa no bolso. Vamos aprender os passos básicos?

     

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    Dicar para quem vive em espaços pequenos

    1- A escolha das espécies

    Não existe regra. Mas os professores acham que, para quem mora em espaços diminutos ou está iniciando na horticultura, compensa mais apostar em ervas e temperos. A herbalista Gabi Pastro, da Hortas e Saberes, na capital paulista, é fã de cebolinha, salsinha, coentro e manjericão. “São muito fáceis de semear”, explica. Alecrim, orégano, hortelã e sálvia também se destacam — a turma toda tem mil usos na cozinha.

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    Se optar por mudas, elas crescem rápido, empolgando o jardineiro novato. O agrônomo Osmar Mosca Diz, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, só sugere aguardar de 15 a 20 dias para a colheita de estreia. “Se cortar na primeira semana, não haverá folha suficiente para a planta fazer fotossíntese e se desenvolver”, ensina.

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    (Ilustrações: Meuri Elle/SAÚDE é Vital)

    2- Defina o local

    A nutricionista Luciana, da Unifesp, reforça que não há limitações quanto ao tamanho do espaço disponível. “O essencial é que a área escolhida receba sol, o fator que mais interfere no crescimento da planta”, avisa. Antes de você acomodar a hortinha em um local específico, a dica de Gabi é anotar o horário em que os raios solares começam e terminam de bater ali. “O ideal é pegar, no mínimo, quatro horas de sol”, calcula.

    A herbalista comenta que a ventilação natural também faz diferença. Contudo, a horta não deve tomar vento em excesso — o que muitas vezes acontece em varandas localizadas em andares altos. “O solo pode secar muito rápido e, aí, a planta não aguenta”, conta o jardineiro e paisagista Randall Fidencio, do canal de YouTube Vila Nina TV.

    3- O recipiente adequado

    Entre os vasos, os de cerâmica agradam pela beleza e por facilitar a transpiração das plantas. “Mas os de plástico também funcionam”, diz Fidencio. Para Gabi, um material ingrato é o metal, porque esquenta demais. Assim, a raiz não avança perto das paredes do vaso, prejudicando seu crescimento e a evolução plena da planta.

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    Na linha de reaproveitar o que já existe, Luciana indica caixas de isopor — daquelas descartadas por supermercados. “São muito práticas”, defende. A bióloga Lenita, da Embrapa Hortaliças, dá outras saídas sustentáveis: garrafas pet e de leite. “Nesses recipientes mais estreitos, prefira espécies que ficam eretas, como alecrim”, aconselha. Todos os itens exigem furos embaixo para evitar o acúmulo de água e o apodrecimento da raiz.

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    4- Pontapé no plantio

    De acordo com Diz, uma boa para os jardineiros de primeira viagem é adquirir mudas prontas, vendidas em vasinhos com terra. Isso porque sua raiz já está bem desenvolvida. “A planta cresce rapidinho”, nota. Para isso, basta transplantar a muda para o vaso (ou outro recipiente) definitivo, que precisa ter o tamanho certo para a espécie e um solo rico.

    Outra alternativa é recorrer à semente. Nesse caso, demora mais para ver e usar a planta — mas há a satisfação de acompanhar o processo do zero. Agora, se você comprou manjericão, salsinha ou cebolinha no supermercado e eles vieram com a raiz, uma possibilidade bacana é botar essa parte na terra para rebrotar. Se tiver só o talo, Fidencio indica deixá-lo em um copo com um tiquinho de água no fundo. Em uns dez dias a raiz dá as caras. Daí é só levar para o vaso.

    5- Solo preparado

    Já ganhou um tempero de lembrancinha e não conseguiu mantê-lo? Isso provavelmente ocorreu porque a terra nesses vasos não oferta nutrientes. Por isso, após selecionar um recipiente definitivo para a planta, é indispensável preparar o solo. Fidencio recomenda colocar uma camada de argila expandida (para a drenagem) e outra de terra — mas não pode ser qualquer uma.

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    “A correta é aquela conhecida como substrato ou terra vegetal”, relata. Ela é preta, soltinha e supernutritiva. Só após uns quatro meses o adubo é requerido — priorize os orgânicos, como húmus de minhoca e esterco. Ou aprenda receitas caseiras. Fidencio, por exemplo, gosta de bater água, pó de café e cascas de banana e de ovo no liquidificador. É com o líquido que ele realiza a rega.

    6- Hora de molhar

    Sem receita de bolo aqui: a exigência de água varia de acordo com a espécie cultivada, a época do ano, as condições da terra, entre outros fatores. Para Gabi, o mais corriqueiro é as pessoas acharem que mataram as plantas pela falta de água. “Só que, normalmente, é o contrário”, frisa.

    Para ter noção se chegou a hora de regar, a herbalista orienta empregar o truque do dedômetro. É assim: você cava a terra e finca o dedo lá dentro, até mais ou menos a segunda falange. “Se sentir a ponta dele úmida, não regue”, diz. Só busque água em caso de secura.

    “Há uma mania de verificar apenas a parte de cima da terra. Mas ali costuma estar seco mesmo, por causa do sol”, completa. Se as folhas se mostrarem amareladas e em queda, eis outro sinal para maneirar na irrigação.

    7- Precauções na poda

    Esse processo, tão crucial para a manutenção da planta, é também o momento da colheita de ervas e temperos — quando as perfumadas espécies podem, finalmente, ser lançadas nas panelas. “Se quiser, dá para podar todo dia”, informa o agrônomo da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

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    Antes de passar a tesoura, é imprescindível conhecer bem sua horta. “Tem gente que vai na base e corta tudo, detonando a planta”, anuncia Fidencio, do Vila Nina TV. “Umas se recuperam, mas outras morrem”, acrescenta. Então, ao definir o que cultivará, pesquise sobre a espécie — incluindo seu ponto de corte. Depois de uma poda correta, o esperado é que ela rebrote rapidinho.

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    Dicas para quem vive em espaços maiores

    1- A eleição das plantas

    Para quem pode ter vasos (ou outros recipientes) de grandes dimensões, o plantio de hortaliças, raízes e frutíferas é interessante, já que permite um maior volume de produção. Se optar por árvores — como jabuticabeira, limoeiro, e por aí vai —, só ajuste expectativas. “É impossível ter uma copa generosa se o sistema radicular, ou seja, a raiz, está em um espaço limitado”, esclarece Diz. A árvore dará frutos, mas dentro de suas possibilidades, claro.

    Agora, se houver um canteiro à disposição para o plantio ser realizado direto no solo, aí é garantia de desenvolvimento ilimitado. “Em comparação ao vaso, trata-se de uma condição menos estressante para a planta”, resume Lenita. “Por outro lado, os cuidados necessários aumentam”, pontua. Dedicação é a palavra de ordem.

    2- Arrumação do terreno

    Nos vasos, o preparo do solo segue a linha citada para quem vive em espaços menores. No chão, porém, há especificidades. É preciso, por exemplo, promover uma limpa no terreno. Tire mato, plantas invasoras, restos de construção, enfim, todas as impurezas. “Aquilo que não se decompõe deve ser removido”, sintetiza Lenita.

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    Ela incentiva preparar um canteiro de, no máximo, 1,20 metro de largura. “Esse limite é para facilitar a manipulação das plantas”, justifica. Se for maior, imagine o trabalhão para mexer nas espécies que ficarem na área central — ora, pisar nas colegas pode botar tudo a perder.

    Garanta pelo menos uns 30 centímetros de profundidade. Após um mês do plantio, foco em adubar: como os canteiros estão expostos o dia inteiro e o ciclo produtivo é intenso, repor nutrientes é decisivo.

    3- Controle de pragas

    Não é que vasinhos com ervas e temperos sejam imunes a elas. “Mas, quanto mais extensa a área, maior a suscetibilidade a problemas fitossanitários”, contextualiza a bióloga da Embrapa Hortaliças. Para Fidencio, uma das maneiras de preservar a saúde da horta é não amontoar as plantas. “Elas exigem ventilação e sol”, argumenta o jardineiro.

    Outra medida antipragas é investir no chamado consórcio de espécies. Segundo Lenita, um ambiente com vários tipos de plantas atrai insetos benéficos e ganha resistência contra doenças. Só que não dá para organizar o canteiro de qualquer jeito. “Tenha cautela para que uma frutífera não faça sombra para aquilo que fica rente ao solo”, exemplifica a especialista.

     

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    (Ilustrações: Meuri Elle/SAÚDE é Vital)

    4- Rodízio de variedades

    Para o solo ser mais bem estimulado, o jardineiro do Vila Nina TV fala para alternar os locais de plantio. “Onde tinha folhas, depois você põe tubérculos”, cita. Mas evite enterrar sementes pequeninas, como as de alface e rúcula, direto no espaço considerado definitivo. Reserve um pedacinho de terra para elas. “Como se fosse um berçário”, brinca Osmar Diz. É que esse momento inicial demanda delicadeza no manejo. Só depois de mais desenvolvida é que a muda deve ser transplantada para sua área oficial.

    Cabe ressaltar ainda que apostar em espécies diferentes traz ganhos não só ao bem-estar da horta. Trata-se de uma oportunidade para tornar a alimentação variada e permitir o contato com uma infinidade de nutrientes. Fora o gostinho de saber a origem do alimento. Esse é único.

     

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