Lavar o arroz é útil? Veja as evidências científicas sobre o costume
Recomendação tradicional tem mais motivações culturais do que científicas

Você tem o hábito de lavar o arroz antes de cozinhá-lo? Já se perguntou se esse trabalho extra tem alguma justificativa científica? É hora de conhecer o que as pesquisas mais recentes dizem sobre o tema.
São várias as razões alegadas para lavar o arroz. De remover impurezas a garantir uma textura mais soltinha ao eliminar o excesso de amido, é provável que você tenha ouvido de familiares e até chefs de cozinha explicações que parecem fazer sentido à primeira vista.
Mas, submetidas ao olhar da ciência, nem todas essas afirmações se confirmam. Hoje, diversas pesquisas apontam que não há necessidade de lavar o arroz por questões de saúde — e isso tampouco faz diferença significativa na textura do alimento após o cozimento.
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Lavar o arroz ajuda a remover impurezas?
Começando pelo mais básico: independentemente de qualquer outra explicação, quem lava algo está em busca de limpeza. Com o arroz, não é diferente. E pessoas mais longevas têm um bom motivo para isso, já que no passado era comum que os grãos chegassem ao consumidor com impurezas e até mesmo terra.
Com os avanços tecnológicos na produção de alimentos, o processamento do arroz que compramos no supermercado costuma eliminar esses detritos. Você dificilmente vai encontrar qualquer sujeira desse tipo dentro do pacote — e eventuais preocupações com micróbios não são eliminadas pela lavagem, mas pelo próprio cozimento.
Algumas pesquisas apontam que lavar o arroz pode reduzir os níveis de arsênio, um metal potencialmente cancerígeno que pode se acumular naturalmente no plantio. Mas esses efeitos são considerados mínimos, e você acaba jogando contra a saúde ao também eliminar — em maior proporção — nutrientes e vitaminas desejáveis.
Para remover o arsênio sem perder micronutrientes, a ciência atual indica que a melhor pedida seria iniciar o cozimento do arroz por 5 minutos em água fervente pré-aquecida, removê-la e depois terminar o cozimento com água nova, em fogo baixo. Em resumo: mesmo nesse caso, a indicação não é lavar o grão cru.
É importante destacar, porém, que a presença de arsênio no arroz liberado para venda no Brasil pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) é considerada inócua para a saúde.
As marcas são submetidas a testes periódicos pelo Programa Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes em Produtos de Origem Vegetal (PNCRC/Vegetal), que garante a segurança alimentar.
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Lavar deixa o arroz soltinho?
Em toda essa história, o ponto mais surpreendente para muita gente é que a lavagem tampouco parece ter um grande efeito em deixar o arroz mais solto.
Sim, é verdade que o processo ajuda a eliminar um excesso superficial de amido — você consegue ver na água, que fica mais turva — mas estudos têm demonstrado que isso é pouco relevante quando pensamos no grão já cozido.
Em um dos exemplos, pesquisadores chineses testaram três tipos de arroz submetidos a diferentes formas de preparo: sem lavar de modo algum, lavando três vezes e até dez vezes. Os achados não revelaram alterações relacionadas à textura quando se considerava quão grudentos ou endurecidos os grãos ficavam ao final do processo.
As características do arroz que chega ao prato são muito mais influenciadas pelo tipo de grão do que pelas estratégias anteriores ao cozimento. Quer um grão realmente solto? Investir em um parboilizado, por exemplo, será bem mais efetivo do que perder tempo lavando o alimento.
Com isso em mente, não quer dizer que você precise mudar seus hábitos ou alterar a receita que aprendeu com a sua avó para deixar o arroz mais gostoso. Mas vale ir para a frente do fogão sem ilusões sobre o que, de fato, a lavagem do arroz faz por você.