Uma dieta rica em alimentos fermentados pode influenciar beneficamente o sistema imunológico, segundo estudo publicado na revista científica Cell. De acordo com os pesquisadores, a ingestão desse tipo de alimento aumenta a diversidade de micro-organismos intestinais e diminui os sinais de inflamação, o que contribui para um bom funcionamento de todo o organismo.
Conduzido na Universidade Stanford, nos Estados, o trabalho contou com a participação de 36 adultos saudáveis. Eles foram divididos em dois grupos: um seguiu uma dieta rica em fermentados, com iogurtes, queijos como o do tipo cottage e bebidas como o kombucha, enquanto o outro foi orientado a consumir alimentos ricos em fibras, a exemplo de frutas, verduras, sementes e grãos integrais.
Os cientistas analisaram amostras de fezes e sangue coletadas antes de começar a experiência, durante a intervenção e quatro semanas depois que os participantes voltaram aos seus padrões habituais.
Na turma dos fermentados, os pesquisadores notaram uma menor ativação de quatro células do sistema imune. Também ficou nítida a queda nos níveis de 19 proteínas inflamatórias. Uma dessas substâncias, a interleucina-6, já foi associada a quadros como artrite reumatóide, diabetes do tipo 2 e estresse crônico. Entre os consumidores de fibras não houve diminuição de nenhuma dessas proteínas.
“Dietas com foco na microbiota podem mudar o status da imunidade, abrindo um promissor caminho para reduzir inflamações em adultos saudáveis”, resumiu Christopher Gardner, um dos autores da pesquisa, em comunicado oficial da universidade.
“Pelo estudo, ficou claro que os fermentados podem fazer bem para a saúde. Porém, é importante pontuar que a publicação não especifica se esses alimentos têm função probiótica“, pondera Ricardo Barbuti, médico gastroenterologista clínico do Hospital das Clínicas, de São Paulo.
Os produtos probióticos são aqueles itens que concentram micro-organismos em uma quantidade específica, que comprovadamente traz benefícios ao organismo, e se apresentam vivos na hora do consumo. Um dos exemplos mais clássicos é o leite fermentado com acréscimo do Lactobacillus casei Shirota.
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Perceba: cervejas, vinhos e pães, por exemplo, são fermentados, mas em uma das etapas de fabricação é feita a remoção dessas bactérias vivas, segundo relatório que define esses grupos de alimentos. O documento foi elaborado pela Associação Científica Internacional para Probióticos e Prebióticos (ISAPP) e publicado na revista Nature Reviews.
Já os alimentos que funcionam como reservatórios de bactérias boas são, mais comumente, iogurtes, leite fermentado, kefir e kombucha.
“Outro ponto é que a ingestão dos probióticos deve ser feita de forma contínua. Se a pessoa para de comer, o benefício também é reduzido”, avisa o gastroenterologista.
Sobre as fibras não terem demonstrado o mesmo efeito, os autores americanos acreditam que talvez a intervenção tenha durado pouco tempo. Aí, a microbiota não conseguiu se adaptar adequadamente a esse maior consumo. Portanto, essas substâncias seguem cruciais no dia a dia, até porque têm várias funções, como favorecer o funcionamento do intestino.
Sem falar que certos tipos de fibras, como da cebola e do alho, são considerados prebióticos: ou seja, servem de alimentos para as bactérias probióticas, facilitando seu crescimento e sua manutenção.
Para Barbuti, os achados da pesquisa não mudam o fato de que o ideal mesmo é investir em uma alimentação equilibrada aliada à prática de exercícios físicos e, se possível, à uma vida sem estresse. Medicamentos (que têm potencial de alterar a microbiota), só devem ser usados com indicação. “É sempre um conjunto de fatores”, aponta o médico.