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Comedores seletivos: os difíceis para comer

Esse perfil pode trazer desafios para o desenvolvimento na infância e se estender e afetar a vida adulta. Faça um teste para saber se é o seu caso

Por Daniella Grinbergas
26 jul 2021, 16h04

Criança que não come nenhum tipo de fruta ou verdura. Adolescente que não deixa passar verde no prato. Adulto que resiste a toda e qualquer salada. Quem disse que a seletividade alimentar é só coisa da infância? Pelo contrário, esse comportamento pode se perpetuar pela juventude e a fase adulta, trazendo consequências desagradáveis.

Sim, o comedor seletivo pode crescer! É o que atesta o primeiro estudo que se debruça sobre o avanço da seletividade alimentar ao longo da vida. Realizado pela Universidade Stanford, nos Estados Unidos, o trabalho foi de longa duração e coletou dados com os pais de 61 jovens sobre seus hábitos alimentares aos 2, 7, 9 e 11 anos de idade. Tempos depois, os participantes, todos já com 23 anos, se autoavaliaram para fechar a pesquisa.

Os resultados apontam que mais da metade apresentou algum tipo de problema para comer em um momento da infância, comprovando o que já se desconfiava: naturalmente, a seletividade faz parte dessa fase de descobertas. O padrão é que essa condição seja mais prevalente na primeira infância, atingindo o pico aos 6 anos, e depois comece a diminuir.

Entretanto, a investigação desvendou que os pequenos comedores seletivos apresentam uma probabilidade significativa de se tornarem adultos com o mesmo comportamento. Seis dos dez participantes que tiveram dificuldades alimentares aos 3 anos mantiveram o perfil quando adultos.

O experimento de Stanford traz outra descoberta importante: há indícios de que algumas pessoas passam a ter uma alimentação seletiva só na adolescência ou no início da idade adulta. Por essas e outras, reforça algo que já vinha sendo percebido pelos profissionais no consultório: a seletividade alimentar não deve ser encarada apenas como uma etapa passageira da infância, muito menos como um problema exclusivo de crianças.

Há diversos aspectos a serem olhados de forma mais ampla, sobretudo os fatores comportamentais, e não se pode perder de vista o risco de esse perfil desembocar em um transtorno alimentar propriamente dito. Até porque é possível contornar — desde pequeno! — as dificuldades com a comida.

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Infância, o período-chave

Embora seja injusto dizer que o problema sempre começa e acaba na infância, o fato é que a introdução alimentar não é nada fácil para boa parte dos pequenos e costuma vir acompanhada de uma ou outra dificuldade alimentar.

Há crianças que passam ilesas: logo se sentam, pegam os alimentos, levam à boca e mandam pra dentro (e pelos arredores). Outras, porém, precisam de um maior tempo de adaptação — e paciência! Tranquilo ou não, esse é um período determinante para a aquisição dos hábitos à mesa. “Os primeiros registros desde a introdução alimentar vão organizar o comportamento do indivíduo diante da comida”, explica a nutricionista expert em infância Mariana Del Bosco, professora do Centro Universitário Senac, em São Paulo.

“Toda criança pode ter um período de seletividade, e o principal fator para isso é a neofobia, o medo de experimentar algo novo”, contextualiza o pediatra e nutrólogo Mauro Fisberg, que dirige o Centro de Dificuldades Alimentares do Sabará Hospital Infantil, na capital paulista.

O quadro em si, e as preocupações que vêm em sua esteira, tende a dar as caras mesmo a partir dos 2 anos, quando a velocidade de crescimento da criança vai diminuindo — e a quantidade de comida ingerida também. “Temos sempre de lembrar aos pais que o volume do estômago é pequeno e que eles devem ajustar as expectativas. A criança se autorregula e devemos dar essa chance a ela. Forçar a comer pode criar um problema muito maior de relacionamento com a comida”, observa Mariana.

É nessa fase ainda que a garotada percebe que tem maior autonomia para escolher o que vai ou não colocar na boca, deixando os pais de cabelo em pé. De uma hora para outra, os pequenos decidem que não gostam mais de algumas coisas e simplesmente fecham a boca. Aí começa a guerra!

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De forma geral, passam a aceitar um número de alimentos limitado e ainda costumam recusar alguns grupos. Os campões de rejeição são as verduras, os legumes e as frutas. O desfecho costuma ser padrão: estresse à mesa, choro para comer, trocas, negociações e um bom desenho na TV ou no celular para a molecada não prestar tanta atenção no garfo e abrir a boca para o que vier…

Só que não! A verdade é que a resolução passa bem longe disso e as estratégias saudáveis e efetivas vão no caminho oposto ao dessas táticas de distração.

Os sinais de seletividade alimentar

Conheça cinco características que indicam que a criança está seguindo por esse caminho e pode precisar de ajuda

A persistência: a seletividade pode ser passageira e não durar mais do que três ou quatro meses. Além desse período, deve ser encarada como uma dificuldade alimentar.

Pouca variedade: os seletivos consomem um número limitado de alimentos e não querem experimentar o novo. Os itens mais rejeitados costumam ser os vegetais.

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Refeição sem fim: se o momento de comer se prolonga demais porque as garfadas são espaçadas e recusadas, algo não vai bem. E é notável o desinteresse da criança pela comida.

Estresse à mesa: a hora da refeição não pode ser tensa. Brigas por causa da comida, choro e angústia de ambos os lados apontam algum grau do problema.

Impacto na saúde: perda de peso, crescimento fora da curva e déficit nutricional são situações que denunciam os estragos da seletividade alimentar.

Da consulta à rotina

Normalmente, as queixas se iniciam no consultório dos pediatras, que não devem se prender apenas às curvas de crescimento e desenvolvimento para entender se a alimentação está rolando numa boa. Isso porque as deficiências causadas pela falta de nutrientes podem chegar com demora ao traço no papel.

Assim, à primeira reclamação dos pais, é preciso que o médico faça uma avaliação do prato da criança, um inventário baseado no relato do que come, do que já experimentou e do que deixou de comer, além de uma leitura sobre a relação familiar. “Um bom pediatra geralmente pode dar conta do problema, mas às vezes é necessário recorrer a outras especialidades, como nutricionista, terapeuta ocupacional e pedagogo”, afirma Fisberg.

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Nesse percurso, também é preciso descartar condições clínicas, a exemplo de intolerâncias e transtornos como o do espectro autista, que costuma estar associado à recusa de certos alimentos devido a características físicas. Aí, sim, após o entendimento de que se trata mesmo de uma dificuldade alimentar, o médico pode apontar caminhos e a família será a responsável por fazer as coisas entrarem nos eixos.

Os desafios não são poucos. Uma pesquisa realizada em 2020 por VEJA SAÚDE, com o apoio da Danone Nutricia, envolvendo pais e cuidadores de crianças de até 10 anos com dificuldades alimentares, apontou que somente 20% deles alteraram a alimentação da família após as orientações do pediatra.

Percebendo que nem sempre as instruções dadas no consultório são o suficiente para desarmar a seletividade, a Danone lançou uma plataforma de conteúdo focada em educação nutricional, o NutriAção. “O programa funciona como uma fonte de informação e uma extensão da consulta de forma interativa”, conta a responsável, Viviane Pereira Vilela.

As mães respondem a um questionário, relatando as dificuldades que enfrentam com os filhos, e passam a receber um conteúdo personalizado semanalmente via e-mail e SMS. Além disso, chegam também desafios para aplicar em casa. O programa, em curso há sete meses, tem um engajamento surpreendente, tanto que novas propostas estão saindo do papel — elas incluem de dicas de cardápio a análise dos pratos.

Como virar um bom de garfo

A palavra-chave no processo de superação da seletividade é paciência. Para começar, precisamos entender que limpar o prato não é a meta. Sendo assim, ofereça uma quantidade pequena de cada tipo de alimento — por exemplo: arroz, feijão, carne, verduras e legumes —, sempre mesclando alguns que você sabe que agradam e outros que a criança recusa.

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Deixe-a à vontade para comer o que quiser, sem pressão. Não a force, não faça chantagem nem tente uma distração. Pelo contrário, desligue as telas! Tenha horários fixos para as refeições e, o principal, coma junto, porque ela precisa do exemplo. “É necessário que o pequeno perceba o padrão alimentar da família e se insira nele. Assim ele aprende o comportamento alimentar”, ressalta Mariana.

O relógio também é útil para evitar que a hora de comer se transforme numa tortura sem fim. “Estipule um tempo de refeição: 30 minutos são suficientes. Esse será o período que a criança terá de ficar sentada à mesa, mesmo se não quiser comer mais”, orienta a pediatra Virgínia Weffort, presidente do Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria.

No início, certamente vai sobrar no prato tudo aquilo que você já imaginava que ela rejeitaria. Mas não vá desistir. “É preciso tentar dia a dia, comendo também, falando sobre a importância de cada alimento, apresentando-o de outras formas”, sugere a médica. Para os pequenos, ovo frito, omelete e ovo cozido são três comidas diferentes. Ou seja, sempre que ele recusar de um jeito, tente de outro. E paciência!

Além disso, pode ser que o pequeno não goste da textura da cenoura crua, mas adore um suflê feito com o alimento. Criatividade também precisa entrar no cardápio. E jamais tente enganar a criança: um bom relacionamento, inclusive com a comida, é baseado em confiança. No mais, tente envolver a garotada no processo todo. Vale levar ao sacolão para escolher os produtos e deixar colocar a mão na massa na cozinha.

O processo é longo, até corrigir leva tempo, e, em alguns casos, pode ser necessário entrar com suplementação. Mas os profissionais juram que nunca é tarde para formar uma criança que coma um pouco de tudo. No fim da história, quem às vezes merece um puxão de orelha pela dificuldade alimentar em casa são os pais ou responsáveis, que acham que é só uma fase e deixam o pequeno seletivo crescer…

Erros e acertos para lidar com as recusas

O que fazer?

  • Dar o exemplo: criança aprende observando. O ideal é que a família toda se sente à mesa, que o conteúdo dos pratos seja igual e que o clima seja tranquilo.
  • Insistir com jeito: ofereça sempre o alimento, de formas diferentes, mesmo que os pequenos o rejeitem. Paciência e persistência são o segredo do sucesso.
  • Usar a criatividade: se a criança não gosta do ovo cozido, tente omelete. Se não come abobrinha, inclua na torta, mas sempre contando a ela. Sem enganação, por favor!

O que evitar?

  • Forçar a comer: não obrigue a criança a se alimentar contra a vontade dela. Isso pode acabar reforçando a seletividade, além de acarretar algum trauma futuro.
  • Recorrer à distração: foco na comida! Durante 30 minutos, desligue as telas, tire os brinquedos da mesa e evite tudo que desvia a atenção. Só o papo está liberado.
  • Chantagear: nada de dar outro alimento ou oferecer recompensas se o prato ficar limpo. Criança sabe bem como lidar com manipulações e tira proveito disso.

Problema de gente grande

Como mostra o estudo de Stanford, preferências e hábitos alimentares estabelecidos na infância tendem a persistir com o passar dos anos. Jovens adultos que foram crianças seletivas mantinham dietas com mais fast-food em comparação com as que comiam de tudo. O trabalho sugere que é importante expor a criança a uma ampla variedade de alimentos para conquistar hábitos positivos e saudáveis no longo prazo. Caso contrário, a dificuldade pode ser carregada ao longo da vida.

Além de a seletividade poder firmar terreno na vida adulta, outra situação escancarada no experimento americano é a de pessoas que desenvolvem esse perfil só quando mais velhas. Dos 61 entrevistados identificados como seletivos aos 23 anos, 35% relataram ter adotado esse comportamento depois de passarem ilesos pela infância. É mais uma evidência de que, a exemplo de outros hábitos e inclinações, o comer não é algo estático.

“Nós vamos desenvolvendo nossa alimentação ao longo da vida, dependendo da oferta. Sofremos influências culturais, ambientais, sociais e econômicas, podendo modificar nosso comportamento diante disso tudo”, reflete Fisberg.

O nutrólogo lembra, ainda, que a seletividade pode não ser um problema em si, mas uma escolha — caso de quem corta a carne da dieta. “Vegetarianismo é seletividade, mas o problema só acontece quando há inadequação, quando não se consegue manter o estado nutricional apropriado”, pontua. Pensando nas dificuldades alimentares pra valer, outros aspectos que as influenciam especialmente na adolescência têm a ver com a autoestima e o comportamento do grupo.

Uma situação clássica é a preocupação com o corpo, quando a jovem acha que eliminando alguns alimentos radicalmente vai emagrecer. “Outra experiência comum é em relação à imitação dos colegas. Quando algum começa uma dieta específica e os demais se interessam e seguem o exemplo”, ilustra Virgínia. Nesses casos, convém sempre avisar, acompanhamento nutricional é fundamental.

Por falar em nutrição, uma preocupação que engloba os seletivos com raiz na infância ou mesmo os tardios remete justamente às suas opções na despensa e na geladeira. Começam a pintar indícios de que essas pessoas, por geralmente priorizarem refeições mais industrializadas em detrimento de frutas, verduras e outros alimentos naturais, também estão mais sujeitas a ganho de peso e desordens metabólicas capazes de comprometer a saúde.

O adulto que foge da salada como o diabo da cruz não raro é o mesmo que venera pizzas e hambúrgueres. E, com exagero e sem equilíbrio, já viu o que pode acontecer!

Psicologia à mesa

Da juventude em diante, a seletividade também pode ter como pano de fundo uma questão emocional e impor consequências nessa esfera. “A comida tem um papel social importante na nossa vida. Quem restringe demais pode acabar se afastando dos ambientes de convívio ligados à alimentação, e eles são muitos”, analisa Eduardo Aratangy, supervisor do Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.

O jovem passa a não querer ir à casa de amigos com receio de ter de participar de alguma refeição, foge das saídas para jantar, não almoça com os colegas para evitar constrangimentos… Quando chega a esse ponto, o melhor é pedir ajuda.

No Brasil, os profissionais não costumam tachar a seletividade de transtorno alimentar, mas ela pode chegar a esse patamar quando se agrava e traz prejuízos. É quando o quadro ganha a classificação de transtorno alimentar restritivo/evitativo (Tare), normalmente atrelado a repercussões nutricionais, psíquicas e físicas. De acordo com Aratangy, na infância, é comum o comportamento restritivo estar ligado a uma dificuldade emocional maior, como medo, luto, ansiedade ou depressão.

“A questão fundamental não está na comida, que é só o sintoma”, explica o psiquiatra. Já na adolescência e na idade adulta, é preciso apurar se não se trata de alguma fobia relacionada ao ato de comer, como dificuldade de deglutir ou pavor de engasgar. Também é prudente descartar diagnósticos de TOC, psicoses, paranoias etc.

Para ficar clara a diferença: no Tare em si, não bastassem os reflexos na saúde, a condição respinga fatalmente na vida social, profissional ou acadêmica. O indivíduo passa a se isolar e a fugir de eventos e compromissos por causa da comida, podendo ficar refém de uma crise depressiva. Mas tem tratamento!

“Quando a pessoa se dá conta e procura ajuda para superar o problema, já temos meio caminho andado para controlá-lo”, diz a nutricionista Maria Luiza Petty, do Grupo Especializado em Nutrição, Transtornos Alimentares e Obesidade (Genta). O tratamento inclui terapia cognitivo-comportamental e são usadas diversas abordagens para a exposição gradativa à comida. “Ela pode começar com o ato de descascar uma cenoura, passando por picá-la, misturar minúsculos pedaços no arroz, até, de fato, comer o alimento”, exemplifica Maria Luiza.

Pelo menos, segundo aquele estudo de Stanford, não foi acusado um elo direto entre distúrbios como o Tare e a seletividade alimentar, quando se compararam pessoas com e sem esse comportamento. Mas isso não significa que a seletividade deva ser ignorada — as repercussões no corpo e na cuca, como você viu, não devem ser jogadas pra debaixo do prato. Então vamos dar mais atenção e acolhimento aos pequenos e grandes comedores seletivos para que eles possam fazer as pazes com todo tipo de comida. Nunca é tarde para mudar!

Teste: sou um comedor seletivo?

As questões abaixo dão pistas desse comportamento

Você segue uma dieta que restringe alguns tipos de alimento (exemplo: vegetarianismo)?

a) Sim
b) Não

Come bem a maioria das coisas, mas não gosta de um grupo específico de alimentos, como vegetais ou lácteos?

a) Sim
b) Não

Tem reparado que a sua listinha de restrições tem aumentado com o passar do tempo?

a) Sim
b) Não

Sente vergonha quando alguém chama para almoçar e evita contar que não come certos alimentos?

a) Sim
b) Não

Tem uma relação difícil com a comida, fica ansioso na hora das refeições ou sente medo e nojo de alguns alimentos?

a) Sim
b) Não

Vem notando mudanças como perda de peso, queda de cabelo, unhas mais fracas ou recebeu resultados de exames com alterações?

a) Sim
b) Não

Como interpretar

As questões 1, 2, 3 e 4 trazem sinais de um comedor seletivo. Então, se você respondeu “sim” a uma delas, pode ter esse perfil. Nesse caso, é recomendável consultar um nutricionista para realizar eventuais ajustes e manter seu estado nutricional adequado. Agora, as questões 5 e 6 apontam pistas de um transtorno alimentar. Vale a pena procurar um especialista para evitar consequências mais sérias.

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