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Reprova no bafômetro? Entenda o caso dos pães de forma com álcool

Estudo avaliou marcas brasileiras e descobriu que três delas apresentam percentual alcoólico superior a 0,5%

Por Lucas Rocha
Atualizado em 15 jul 2024, 11h09 - Publicado em 12 jul 2024, 14h22
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Proteste defende que alguns pães brasileiros deveriam ter um aviso na embalagem com o informe “contém álcool” (Foto: Ratikova/Getty Images)
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Os tradicionais pães de forma podem apresentar um teor alcoólico superior ao esperado. É o que aponta uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, a Proteste.

O estudo avaliou diversas marcas brasileiras e indica que alguns produtos apresentam percentual acima de 0,5% na porção de 100g. Acima desse teor, bebidas são consideradas alcoólicas, segundo a legislação brasileira. A título de comparação, uma lata de cerveja tem 5% de álcool.

No levantamento, a Proteste defende que alguns pães brasileiros deveriam ter um aviso na embalagem com o informe “contém álcool”. O documento pontua ainda que comer mais do que duas fatias de algumas marcas já seria o suficiente para não passar no teste do bafômetro.

“Em termos de saúde pública, é fundamental que essa pesquisa atinja a população, para que as pessoas busquem produtos com a quantidade mínima de álcool”, frisa o médico nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).

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De onde vem o álcool encontrado nos pães de forma?

Antes de chegar às mesas de café da manhã, o pão de forma passa por diversos processos químicos. Na fase de fermentação, os açúcares que se encontram na massa são transformados em álcool etílico e gases.

Isso até poderia explicar os resultados da pesquisa, mas não é bem assim… As altas temperaturas do forno levam à evaporação de grande parte da substância, enquanto os gases promovem o crescimento das fatias.

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Mas então… de onde vem o álcool?

Um dos principais motivos para o descarte dessa categoria é a presença de fungos, aquele mofo verde que se forma no pão. Sobre isso, aliás, vale dizer que retirar apenas a parte mofada e consumir o restante não é indicado, já que a contaminação acontece por completo.

A solução encontrada pela indústria para esse problema explica a questão.

“O que acontece é que os produtos industrializados são aspergidos com uma solução alcoólica antimofo. Isso pode aumentar o teor de  etanol no final do processo, como mostra a pesquisa”, explica a nutricionista Inara Santos Nascimento Souza, coordenadora do serviço de nutrição do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Para chegar aos resultados, os pesquisadores utilizaram uma metodologia laboratorial que permite estimar a quantidade de etanol na amostra.

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Veja o teor alcoólico de 10 marcas de pão de forma

Confira:

  • Visconti: 3,37%
  • Bauducco: 1,17%
  • Wickbold 5 zeros: 0,89%
  • Wickbold Sem Glúten: 0,66%
  • Wickbold Leve: 0,52%
  • Panco: 0,51%
  • Seven Boys: 0,50%
  • Wickbold: 0,35%
  • Plusvita: 0,16%
  • Pullman: 0,05%
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Consumo de apenas alguns pães de forma pode aparecer no teste do bafômetro, segundo a pesquisa (Foto: Andre Borges/Agência Brasília/Divulgação)

Alterações no teste do bafômetro

Ao soprar o bafômetro, o resultado não deve ultrapassar 0,04 mg/l. Índices de 0,05 mg/l a 0,33mg/l são considerados infração gravíssima. Dado igual ou acima de 0,34 mg/l é observado como crime de trânsito.

De acordo com a análise, o consumo de apenas duas fatias de alguns produtos poderia influenciar nos resultados do teste.

“Poderíamos inferir que a contribuição de massa em gramas de álcool de 2 fatias da amostra analisada das marcas Bauducco, Visconti e Wickbold 5 Zeros poderiam incorrer em riscos à motoristas em Testes de Bafômetros”, diz o texto da pesquisa.

Há motivo para preocupação dos consumidores?

A divulgação da pesquisa feita pela Proteste viralizou nas redes sociais e levou a temores sobre a ingestão do tão popular pão de forma.

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O presidente da Abran sugere que o achado não significa que o alimento não deve ser consumido, mas sim que é preciso ficar atento à composição dos alimentos. E, nesse caso do pão, na quantidade de álcool — que não está expressa no rótulo, como o produto não é considerado oficialmente alcóolico.

O nutrólogo sugere que as marcas devem atuar para evitar esse alto índice de álcool nos pães, revendo e refazendo suas formulações.  A nutricionista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz destaca que a população não precisa retirar o pão do consumo alimentar diário.

“É preciso fazer a melhor escolha pensando se deseja ou não o álcool nesse contexto. Para quem não bebe e tem ingerido pão com maior teor alcoólico, se o consumo for diário, pode-se diminuir as quantidades ou escolher os pães com menor índice. As alterações devem ser embasadas nesse contexto, pensando em ter a menor quantidade de álcool disponível no alimento”, orienta Inara.

Filho ressalta que a exceção fica para pessoas que têm problemas que podem ser agravados pelo álcool. “Para quem possui doenças no fígado, como a esteatose hepática, e mesmo os portadores de um grau mais avançado, como a cirrose, seria prejudicial a ingesta desses pães”, pontua.

Diante do levantamento da Proteste, a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi) reafirmou seu compromisso com a qualidade e a segurança dos alimentos oferecidos à população brasileira.

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“Em nome da transparência e responsabilidade da entidade com as indústrias e com os seus consumidores, a Abimapi ressalta que não concorda com as conclusões apresentadas no Relatório Técnico e Mercadológico divulgado pela Proteste – que publicou o estudo sem consultar o setor envolvido, causando forte temor popular – devido às inúmeras incoerências identificadas na análise em questão”, afirmou a entidade em nota.

O que dizem os fabricantes

Em nota, o Grupo Wickbold, que detém a marca de mesmo nome e a Seven Boys, afirmou que não foi notificado do estudo e da metodologia utilizada, o que impede qualquer manifestação sobre a pesquisa.

“Todas as receitas de produtos, assim como todas as áreas da empresa, seguem protocolos de segurança e qualidade, com o mais alto teor de controle, bem como cumpre toda a legislação vigente, dentro dos parâmetros impostos pelas normas estabelecidas”, disse o grupo em nota.

A Pandurata Alimentos, responsável pela fabricação dos produtos Bauducco e Visconti, afirmou que adota rigorosos padrões de segurança alimentar em todo seu processo produtivo e na cadeia de fornecimento.

“A empresa possui a certificação BRCGS (British Retail Consortium Global Standard), reconhecida como referência global em boas práticas na indústria alimentícia, e segue toda a legislação e regulamentações vigentes. Priorizando a qualidade de seus produtos, a Pandurata respeita as Normas de Boas Práticas de Fabricação e destaca que seus cuidados começam com uma criteriosa seleção de fornecedores se estendendo por todas as etapas de produção”, afirmou a empresa em nota.

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A Panco afirmou que atesta a adoção de práticas totalmente alinhadas aos mais rigorosos padrões de mercado e o cumprimento de todas as normas e legislações específicas vigentes para a produção de alimentos.

“Para assegurar esses padrões, a companhia possui rígidos controles de qualidade (internos e envolvendo fornecedores externos), além de estabelecer mecanismos criteriosos de homologação de seus fornecedores de matérias-primas”, disse em nota.

A respeito do estudo da Proteste, a Panco informou que não foi notificada em nenhum momento pela responsável pelo levantamento, desconhecendo, portanto, sua metodologia. “Além disso, esclarece que não utiliza etanol na fabricação do pão, mas que ele pode resultar do processo de fermentação, sendo que os resíduos não intencionais são aceitos pelas normas e legislações vigentes”, pontuou a fabricante.

A Pullman e Plusvita, que integram a mesma marca, não retornaram. O espaço permanece aberto e o texto poderá ser atualizado com o posicionamento da empresa.

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