Tentar se matar, consumar esse ato ou mesmo idealizá-lo e planejá-lo ativamente: todas essas atitudes se enquadram na definição de comportamento suicida. E não é fácil conter nenhuma delas, principalmente sem uma orientação baseada em evidências científicas. Daí o porquê de a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) ter criado a primeira diretriz nacional sobre o tema.
Embora seja mais voltada a profissionais de saúde, ela oferece informações valiosas a toda a população, como o que fazer diante de sinais preocupantes. “O acolhimento é imprescindível, mas o que salva vidas é encaminhar a pessoa a um serviço médico especializado”, afirma o psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, presidente da ABP.
Fatores de risco
Alguns dos problemas citados no documento da ABP que elevam a probabilidade de tentativas de suicídio
- Abuso de álcool, cigarro e outras drogas
- Histórico de suicídio entre familiares
- Transtornos de imagem corporal
- Maus-tratos na infância
- Violência na comunidade
- Automutilação frequente
- Desordens de humor
- Obesidade
- Relacionamento familiar ruim
- Estresse pós-traumático
- Esquizofrenia
- Problemas de sono associados a doenças psiquiátricas
- Desemprego
- Dor intensa
Fatores de proteção
Elementos que inibem o comportamento suicida
Alta conexão com a escola: estar próximo de um ambiente educativo saudável e manter boas relações com professores e colegas confere segurança.
Sono adequado: não menospreze a cama. Dormir bem ajuda a regular o funcionamento dos neurônios, afastando desordens psíquicas.
Resiliência: a habilidade de encarar circunstâncias negativas sem perder o prumo é um diferencial que pode ser treinado com o auxílio de especialistas.
Espiritualidade: a fé, não importa se em uma religião ou em qualquer outra coisa, oferece um sentido para seguir batalhando.
1. Avaliação e acompanhamento
O primeiro passo para minimizar os efeitos do comportamento suicida é identificá-lo. E, logo na sequência, buscar o que pode estar por trás dele. “Dados de estudos brasileiros reforçados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que 96,8% dos indivíduos que morreram por suicídio tinham alguma doença mental, tratada ou não de forma adequada”, afirma Silva.
2. Intervenção e tratamento
Um ponto destacado no guia da ABP é a necessidade de, caso o paciente tenha tentado se matar, iniciar o cuidado psiquiátrico já no ambulatório. As terapias contra distúrbios da mente — em especial a depressão — evoluíram bastante nos últimos tempos. E nem precisamos dizer que a psicoterapia segue fundamental.
3. Prevenção
Nesse quesito, o manual traz um conceito amplo. Ele inclui medidas como controlar o estresse, repousar o suficiente e desenvolver o suporte familiar. Mas também engloba, por exemplo, a criação de leis que dificultem o acesso a armas de fogo e a promoção de campanhas que acabem com os tabus sobre depressão, esquizofrenia e afins.
4. Posvenção
“Estima-se que cada óbito por suicídio tenha um forte impacto em aproximadamente seis pessoas”, revela Silva. Os familiares e amigos próximos vão precisar de apoio para não acabarem manifestando comportamentos suicidas. Essa ajuda deve vir de todos os cantos: profissionais, escola, entes queridos…