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Quando a paixão vira doença

Especialista em ciúme e amor patológicos, psicóloga sublinha importância de buscar tratamento contra os exageros

Por Larissa Beani
Atualizado em 29 jan 2024, 15h12 - Publicado em 26 jan 2024, 09h44
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Psicóloga lança livro sobre ciúmes excessivo e amor patológico (PM Images/Getty Images)
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Quem nunca sentiu uma pontinha de ciúme ou passou por algum perrengue em nome do amor que atire a primeira pedra. São situações que fazem parte da história de qualquer relacionamento. Mas convém frisar: nenhuma união deveria ser pautada por experiências e sentimentos negativos.

É o que defende a neuropsicóloga Andrea Lorena da Costa Stravogiannis, autora de Ciúme Excessivo & Amor Patológico: Quando o Medo da Traição e do Abandono Se Torna uma Obsessão (clique para comprar).

Após mais de uma década de estudos sobre o tema, a especialista estreia como escritora com um alerta sobre comportamentos exagerados que podem desgastar relações e pôr em xeque a saúde mental dos parceiros.

+ Leia também: O poder perigoso do amor

Sim, rompantes de ciúme e demonstrações de amor descomedidas podem ser caso de consultório — e resolvidos com tratamento adequado —, como destrincha a expert do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). 

VEJA SAÚDE: É comum que o ciúme surja ao sentirmos que uma relação está ameaçada. Quando essa reação pode ser considerada patológica?

Andrea Lorena da Costa Stravogiannis: O ciúme “normal” é chamado de ciúme reativo. Há um episódio concreto que provoca o ciúme — numa festa, por exemplo — e a reação é assertiva. Você conversa com o seu parceiro sobre o que aconteceu e sobre como você se sentiu.

Já no ciúme patológico, a pessoa tem uma crise por qualquer coisa que aconteça — e, às vezes, nem precisa ter acontecido. Nesses casos, para o ciumento, um aperto de mão pode ser interpretado como um flerte, uma infidelidade.

Ele pode passar a querer investigar a vida do outro e a tolher a liberdade alheia, impondo ao companheiro como ele deve se comportar, com quem pode interagir e como deve se vestir.

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As crises de ciúme nesse contexto costumam ser bem intensas, e podem incluir xingamentos e agressões. O ciúme excessivo pode levar a uma série de violências — verbal, física, psicológica ou patrimonial.

+ Leia também: Amor além da idade: benefícios de namorar na velhice

E, no amor patológico, quando as demonstrações de carinho ultrapassam os limites?

No amor patológico, a pessoa tende a se doar demais à outra, prestando cuidados em excesso. Ela se preocupa e se ocupa excessivamente em ajudar o parceiro nas atividades diárias — e até pode chegar a se comprometer financeiramente.

Tem sido comum ver pessoas que pagam pelos estudos do companheiro, mas não pelos seus. Elas acabam deixando a si mesmas de lado.

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Andrea Lorena da Costa Stravogiannis é psicóloga do Hospital das Clínicas de São Paulo e professora de pós-graduação em neuropsicologia do Hospital Israelita Albert Einstein (SP) (Acervo pessoal/Divulgação)

Muitos consideram o ciúme uma demonstração de amor. O que a psicologia diz sobre isso?

Culturalmente, fomos ensinados a acreditar que, quanto maior o sinal de ciúme, mais a pessoa nos ama. Mas hoje vemos que esse sentimento de posse tem mais a ver com a insegurança de quem o sente.

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O ciumento tem muito medo da traição, de ser enganado, de “ser feito de idiota”, como eles dizem. Já aqueles com amor patológico temem o abandono. Por isso, tendem até a aceitar mais a traição — para que a relação seja mantida.

O ciumento não, ele quer a exclusividade.

+ Leia também: As fases de um relacionamento abusivo

Na era dos aplicativos de namoro, como esses dois extremos do amor e do ciúme se manifestam?

O ciúme fica muito menos latente nesse contexto, porque ele pode não dar sinais logo no início do relacionamento, apenas quando as pessoas estiverem mais conectadas.

É aí que o ciúme pode, inclusive, começar a ser ampliado pela tecnologia, com vigilância sobre curtidas e seguidores. Já os que sentem amor patológico sofrem mais com essas relações fugazes.

Isso porque eles tendem a se apaixonar mais rápido e a idealizar demais o parceiro, ter uma visão demasiadamente romântica sobre a relação, pensar que nasceram um para o outro e que o relacionamento durará para sempre.

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O ideal é que essas pessoas reflitam sobre seus objetivos em um relacionamento.

Como esses comportamentos devem ser tratados?

Quando a pessoa começa a perceber que o ciúme ou as demonstrações de amor estão passando dos limites — por aviso de familiares, amigos ou do próprio parceiro —, é importante procurar a psicoterapia.

Hoje em dia, nossas pesquisas mostram que a terapia cognitivo-comportamental (TCC) e o psicodrama oferecem ótimos resultados. Em geral, são pessoas com várias comorbidades psiquiátricas, principalmente depressão e ansiedade.

+ Leia também: Aumento da depressão e ideação suicida entre jovens: onde estamos errando?

A última é mais comum entre os ciumentos, que investigam incessantemente o outro e nunca se satisfazem. São situações prejudiciais para os parceiros e para quem se comporta dessa forma.

Sabe-se que o índice de suicídio entre pessoas com amor patológico e ciúme excessivo é alto, por isso são situações que merecem extrema atenção.

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  • 64% das pessoas que buscam tratamento para amor patológico também têm depressão
  • 50% das pessoas que sofrem de ciúme excessivo já tentaram o suicídio alguma vez
  • 69% dos homens revelaram ter ciúme sexual, segundo pesquisa da USP
  • 89% das mulheres se incomodam mais com o ciúme emocional

Ciúme excessivo & Amor patológico: Quando o medo da traição e do abandono se torna uma obsessão

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