“Bom dia, Verônica” e a triste realidade da violência doméstica no Brasil
Seriado expõe uma das chagas no dia a dia de muitas brasileiras. Psicóloga analisa o problema
“Bom dia, Verônica” é uma série de TV lançada pela Netflix em 2019 cuja história gira em torno de uma secretária de polícia (a Verônica), que, ao perceber a falta de ação de seu chefe, decide investigar por conta própria crimes contra mulheres. Um dos casos é o de Janete, uma mulher que sofre violência física e psicológica praticada pelo marido, o policial Brandão.
Como acontece com a maioria das mulheres vítimas de violência, Janete sente medo do agressor, apanha, tem sua rotina fiscalizada, não tem acesso à internet e nem contato com a família.
Sem forças para se opor ao marido e já distanciada de si mesma, ela pede ajuda a Verônica após vê-la dando uma entrevista na televisão sobre o suicídio de uma jovem mulher.
A violência psicológica vivida por Janete mostra um longo processo de esquecimento de quem ela é, tornando-a vulnerável e facilitando a agressão. O agressor, por sua vez, a manipula para que isso aconteça, para que a vítima perca cada vez mais sua autonomia e identidade.
Além disso, o personagem ilustra características muito comuns nos agressores: um homem gentil e profissional exemplar que, na maior parte do tempo, agride a mulher com olhares e falas, de uma forma calma e pausada, e, em poucos momentos, explode ou parte para a agressão física. Isso ilustra a violência psicológica no dia a dia.
Infelizmente, o final de Janete não é diferente de muitos casos da vida real. Verônica não consegue salvá-la e a personagem morre queimada pelo próprio marido.
Apesar de ser uma ficção, podemos conviver mais perto do que imaginamos com “Janetes”, “Brandões” e mesmo o despreparo da polícia e da sociedade ao lidar com mulheres em situação de violência.
De acordo com os dados do projeto Justiceiras, criado para o acolhimento de vítimas de violência doméstica, em 2021 a quantidade de denúncias aumentou de 340 casos por mês para mais de 650.
Muitas vezes, na ausência da violência física, as pessoas não compreendem a agressão por meio das palavras ou dos abusos de poder, naturalizando a violência psicológica.
Por isso, é fundamental conhecer e atentar a qualquer sinal de violência no relacionamento, até porque nem sempre as vítimas conseguem identificar o problema sozinhas.
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Controle, ciúme excessivo, olhares intimidadores, agressões verbais, falas depreciativas em tons de “brincadeira”, desrespeito e abuso de poder sobre a decisão da parceira… Tudo isso é sinal de uma relação abusiva. Mas o que seria uma relacionamento saudável?
Uma relação saudável não se baseia só na ausência de conflitos. Cada casal tem seus desafios, já que somos seres humanos complexos por natureza.
A premissa básica, porém, é que o relacionamento envolva respeito, autonomia, carinho, atenção, confiança e liberdade.
Repito: agressões e abusos, psicológicos ou físicos, não fazem parte de um relacionamento saudável. Se acontecer com você, ligue 180 e denuncie.
* Ana Carolina Nucci é psicóloga, idealizadora da comunidade Psicologar e organizadora do livro recém-lançado Mulheres no Cinema: Uma Análise do Feminino (Editora APMC)