O que eu estava fazendo mesmo? A era dos ladrões de atenção
Nova edição de VEJA SAÚDE mira uma das queixas mais frequentes destes tempos: a falta de foco
Juro que contei: desde o instante em que sentei para escrever este texto até a sua conclusão e releitura, perdi a concentração na tarefa 18 vezes. Em todas elas, a culpa foi da tela vizinha à do computador em que redijo estas linhas: a do celular.
Está certo que quase sempre desviei meus olhos para ele em função de notificações atreladas a questões de trabalho.
Como mais de meio mundo, dependo dessa ferramenta para tocar várias frentes da labuta ao mesmo tempo e, sem querer, volta e meia me vejo enredado em alguma mensagem ou post fora do campo estritamente profissional.
No fim, é um modus operandi que, com frequência, nos deixa estressados, ansiosos e cansados. Escritores e pesquisadores da área da saúde mental e da neurociência são categóricos em afirmar que estamos cada vez mais sem foco — e sedentos dele.
Somos vítimas, mas também cúmplices, dos “ladrões de atenção”, para usar a expressão de Johann Hari, autor de uma obra que acaba de chegar às livrarias cujo título resume bem o cenário atual: Foco Roubado, publicada pela editora Vestígio.
O celular, a internet e as redes sociais furtam nossa concentração, mas não estão sozinhos nessa quadrilha de agentes sabotadores da cognição.
É o que expõe o jornalista André Bernardo na reportagem de capa desta edição, um trabalho informativo e reflexivo recheado de pesquisas, entrevistas, advertências, conselhos e sugestões de leitura.
André diz ter aprendido e buscado colocar em prática alguns dos princípios evocados na pauta. “Faz tempo que desativei as notificações sonoras do celular. Caso contrário, não faria outra coisa da vida”, conta.
“Tento não ser multitarefa, mas nem sempre consigo por causa da profissão. Mas gostei do conceito do mindfulness, a atenção plena, e, na medida do possível, vou procurar segui-lo”, prossegue nosso colaborador carioca.
Ele não está sozinho nesse barco. Se não respirarmos fundo e colocarmos as mãos no leme, dificilmente atravessaremos águas tranquilas. Pior: não chegaremos a porto algum.
É a velha história de começar uma porção de coisas e não terminar nenhuma, afogando-se num sentimento de frustração e fadiga eterna que movimenta um círculo vicioso.
E é nessas que, exaustos, perdemos o foco e a produtividade de vez. “Cansado, não escrevo nada, nem bilhete”, crava André.
É hora de repensarmos como desembarcamos nessa praia e replanejarmos as rotas e o destino em mente. Pode ser desafiador, mas nos sentiremos mais presentes, fecundos e felizes — e não com a cabeça em outro canto.
Chegam reforços
É um prazer apresentar à nossa comunidade de leitores os dois repórteres que passam a integrar a equipe de VEJA SAÚDE, emprestando seu talento, foco e dedicação às matérias da revista e do site.
Com vocês, Larissa Beani, jornalista natural de São Paulo que atuou no Jornal da USP e na Galileu. E Lucas Rocha, um mineiro que já viveu no Rio e hoje está na capital paulista, com passagem pela Agência Fiocruz de Notícias e pela CNN Brasil. Bem-vindos a bordo!