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Ludopatia: conheça a doença do “vício em apostas”

Em franca explosão após o advento das bets, o vício em apostas e jogos de azar no Brasil só não é maior do que a dependência por álcool e tabaco

Por Clarice Sena
Atualizado em 14 out 2024, 09h19 - Publicado em 14 out 2024, 08h59
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Ludopatia envolve vício em jogos de azar de modo geral, muito além das apostas esportivas (Freepik/Freepik)
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A popularização das plataformas de apostas online aumentaram consideravelmente o acesso dos brasileiros aos jogos de azar. Com isso, os problemas com vícios em apostas cresceram expressivamente no país.

A condição é reconhecida como doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e tem nome próprio — ludopatia, o vício recorrente em qualquer tipo de jogo, o que inclui dados, roleta, bingo e outros.

O nome vem do latim ludus, que significa “jogo” mesmo, e pathe, termo usualmente associado a um estado de aflição ou doença. Segundo dados do Senado Federal, a ludopatia é o terceiro vício mais frequente no Brasil atualmente. Estima-se que ela atinja pelo menos 2,78 milhões de brasileiros, ficando atrás apenas do álcool e do tabagismo.

O problema aumenta ainda mais ao considerar que o vício prejudica não apenas o dependente: também atinge todos à sua volta, especialmente a família.

O que causa a ludopatia?

A ludopatia é categorizada como um transtorno de controle de impulso que pode variar entre leve, moderado e grave e que pode acontecer de forma crônica, por um longo período, ou com episódios transitórios.

Embora o problema com o vício em apostas atinja pessoas de todas as idades, classes sociais e gêneros, a combinação de maior risco é a vulnerabilidade socioeconômica e a alta exposição aos jogos de azar.

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Alguns estudos mostram que homens, jovens adultos, pessoas não casadas e de baixa renda geralmente são as que se encontram em maior risco de desenvolver ludopatia. Pertencer a minorias étnicas, ter pouca educação formal e estar desempregado também são fatores de risco, bem como a proximidade residencial a locais de jogos de azar.

Fatores genéticos, neurocognitivos e neurobiológicos também estão ligados à predisposição para a dependência em jogos.

+Leia também: A anatomia dos vícios: por que eles surgem e como domá-los

Pequenos ganhos reforçam o vício

Fatores adicionais incluem ter familiares ou amigos que são apostadores regulares e/ou problemáticos, a participação em várias formas de jogo, altos gastos com apostas e experimentar uma grande vitória em uma aposta inicial.

Isso porque os ludopatas agem sob um padrão de reforço intermitente no qual às vezes ganham um pequeno prêmio (reforço positivo) para continuar jogando e outras vezes não. Por isso, um jogador que, por exemplo, ganha uma rodada e perde duas não se vê tão mal, graças à pequena vitória.

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Diante de máquinas caça-níqueis ou outros estímulos, os pacientes são acometidos por sentimentos de culpa que geram num primeiro momento uma resistência ao jogo. Contudo, esse sentimento é rebatido pela possibilidade de ganho e, em casos nos quais o prejuízo econômico já existe, pela possibilidade de recuperar o dinheiro que já foi perdido.

Com essa ambivalência, os ludopatas entram em crise e recorrem à jogatina para escapar dos sentimentos negativos.

Os pacientes com ludopatia também apresentam pensamentos repetitivos e intrusivos sobre apostas, similares a transtornos do espectro obsessivo-compulsivo. De acordo com a OMS, o abuso de substâncias como o álcool e o tabaco pode servir como porta de entrada para o problema com a jogatina, embora os danos do vício com apostas sejam considerados ainda maiores porque geram impactos financeiros, psicológicos, sociais e na saúde.

Qual o tratamento para a ludopatia?

Ainda não existe um consenso sobre o tratamento ideal para a ludopatia. O mais indicado é recorrer ao acompanhamento psicológico e psiquiátrico, e este último pode vir a receitar medicamentos inibidores da recaptação da serotonina.

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Pesquisas apontam que dentre os métodos terapêuticos que se mostraram mais eficazes estão a terapia de aceitação e compromisso (ACT). Essa metodologia ajuda a reduzir o sofrimento vivenciado pelo paciente e com a eliminação gradativa do impulso pelo jogo.

A terapia leva o indivíduo a compreender que tanto a atitude de jogar quanto a de não jogar têm consequências danosas e, a partir disso, fazê-lo se comprometer com uma dessas opções.

Outra metodologia considerada em estudos recentes é a terapia cognitivo-comportamental modelada na exposição e prevenção de resposta, a fim de trabalhar com o paciente suas associações e avaliações em relação aos jogos. Grupos de autoajuda e de terapia em grupo também obtiveram respostas positivas.

A ludopatia é um problema de saúde pública que não afeta apenas o indivíduo viciado em apostas: para cada jogador, há pelo menos um outro membro da família que também sofrerá com as consequências dessa situação. Por isso, entre as medidas que podem ajudar a diminuir o problema estão reduzir a oferta de jogo e limitar a possibilidade de participação.

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