Com o avanço do conhecimento sobre autismo, cada vez mais pessoas que enfrentaram alguma dificuldade no convívio social se questionam sobre um possível diagnóstico que não receberam mais cedo na vida. E surge a dúvida: é possível descobrir o autismo na idade adulta?
Vale lembrar que, hoje, o entendimento sobre os neuroatípicos avançou a ponto de entender que o “autismo” não se refere apenas às manifestações tradicionalmente associadas a essa palavra. Há uma variação de sintomas e dificuldades que podem afetar uma pessoa e não outras, constituindo o transtorno do espectro autista (TEA).
Como o nome indica, esse “espectro” pode ter diferentes graus que se apresentam de maneira distinta, conforme o caso.
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Alguns sinais para ficar de olho
Em geral, pessoas com TEA apresentam algum obstáculo nas interações sociais, no comportamento do dia a dia ou na comunicação com outras pessoas.
Também podem ocorrer as chamadas “estereotipias”, movimentos e comportamentos repetitivos que costumam se manifestar de forma mais acentuada em situações estressantes (um contexto de ansiedade ou uma sobrecarga sensorial, por exemplo).
Alguns sinais clássicos incluem:
- Dificuldade de se relacionar ou manter uma conversa com outras pessoas;
- Pouco uso de comunicação não verbal (gestos, expressões faciais, olhares) nas interações interpessoais, o que pode resultar em uma dificuldade de perceber os sentimentos alheios, algo que muitas vezes é confundido com “falta de empatia”;
- Escassa compreensão de figuras de linguagem, encarando textos ou falas de forma excessivamente literal;
- Histórico de sobrecarga sensorial, quando há baixa tolerância a barulhos ou mudanças de luz, por exemplo;
- Interesse excessivo e repetitivo em algum assunto específico (hiperfoco). É possível ter mais de um hiperfoco;
- Tendência a manter uma rotina rígida, com episódios de ansiedade, irritabilidade e confusão mental quando algo ocorre fora do que se imaginava;
- As próprias estereotipias, como esfregar as mãos, murmurar algum som repetido, balançar o corpo, entre outros, especialmente em situações estressantes.
Seja de forma isolada ou em combinação com outros, nenhum sinal crava um diagnóstico de autismo sem que haja uma avaliação mais aprofundada do caso – especialmente em pessoas que chegaram à idade adulta sem grandes dificuldades associadas ao que podem parecer sintomas do TEA.
Também é importante recordar que, dependendo dos sintomas, pode ser que o caso não seja de TEA, mas de alguma outra neurodivergência, como o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Os pontos de atenção e os possíveis tratamentos também variam de acordo com o diagnóstico.
Não faça autodiagnóstico
Mesmo que você ou alguém que você conheça apresente os sinais descritos acima, isso não necessariamente enquadra a pessoa no espectro autista. Apenas uma avaliação profissional – geralmente, com um neuropsicólogo – pode dar esse diagnóstico, bem como entender as dificuldades específicas de cada pessoa.
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Caso a vida cotidiana seja afetada pelo transtorno, algumas abordagens podem ser indicadas, como terapia cognitivo-comportamental, terapia ocupacional ou, em situações mais graves, medicamentos antidepressivos. No entanto, somente um médico especializado no assunto pode recomendar a melhor técnica, pois o tratamento deve ser individualizado.