Hoje, ao falar em doenças respiratórias, dois vírus logo vêm à mente das pessoas: o coronavírus, causador da Covid-19, e o influenza, que leva à gripe. Mas tem um terceiro agente infeccioso que merece atenção: o vírus sincicial respiratório, mais conhecido pela sigla VSR.
Ele é o responsável por 75% das bronquiolites e 40% das pneumonias em crianças de até 2 anos de idade no Brasil.
Quanto mais novinho o bebê, mais perigoso o vírus se torna. Daí porque os prematuros são os que correm mais riscos. Para ter ideia, eles têm 16% mais chances de serem internados por infeções respiratórias provocadas pelo VSR.
Por que a preocupação com o VSR aumentou?
Nunca se negou a periculosidade desse vírus, mas a história ficou mais complexa depois da pandemia do coronavírus.
Por quase dois anos, devido ao isolamento, a maioria dos recém-nascidos e bebês permaneceu em casa. Com isso, o sistema imunológico desse grupo ficou menos preparado para lidar com eventuais infecções.
Quando houve a volta a creches e escolas, o VSR tirou proveito da situação.
Outra consequência disso foi uma mudança comportamental do vírus. Antes, ele circulava mais a partir de março, ou seja, no início do outono, e agora ele se mantém em alta o ano todo.
No fim do ano passado, entre a primavera e o verão, o país teve uma alta de 22% de exames positivos para VSR, segundo boletim do Ministério da Saúde.
“Essa tendência se mantém em 2023, ao observamos os testes feitos até aqui”, conta o pediatra e infectologista Renato Kfouri, presidente do departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
O relatório Infogripe Fiocruz aponta que, entre os 37 057 casos já reportados de síndrome respiratória aguda (que reúne casos graves de doenças respiratórias) até 1 de abril deste ano, 32% são decorrentes do VSR, que atingiu em maior parte as crianças de até 4 anos.
Ele só perde para o coronavírus, que apareceu em 50% dos testes realizados neste ano.
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A subida de casos, com início no fim do ano passado, tem sido mais grave em algumas regiões, como o Distrito Federal, com alta de 450%, e Minas Gerais, com 316%.
Na sequência, vem Santa Catarina (72%), Roraima (71%), Paraná (30%), Rio Grande do Sul (26%) e São Paulo (3%).
“No mundo, o VSR é a segunda causa de morte entre crianças menores de 1 ano. Mesmo crianças saudáveis podem chegar à UTI por causa desse vírus”, lembra Kfouri.
Sintomas da infecção por VSR
No início, ele pode causar sinais similares aos de uma gripe comum, com espirros, febre, falta de apetite e irritabilidade.
Depois, vem o chiado no peito, a tosse e a falta de ar.
Como se prevenir?
Nos adultos, o VSR pode causar sintomas parecidos com os de um simples resfriado. Por isso, na presença de espirros, coriza e afins, é crucial evitar contato com bebês. Até porque o VSR é facilmente transmitido por aí.
Para quem é cuidador, o jeito é higienizar bem as mãos e utilizar máscara antes de chegar perto dos bebês.
Mesmo na ausência de sintomas respiratórios, é fundamental estar com as mãos limpas ao tocar nas crianças, sobretudo nas mais novinhas.
Outra coisa: não leve bebês a locais com muita aglomeração.
Mais um ponto importante, e pouco mencionado, é evitar que a criança seja exposta ao fumo passivo, pois a fumaça do cigarro a deixa mais vulnerável a bronquiolite.
O aleitamento materno ajuda o recém-nascido a ter mais anticorpos contra doenças.
Manter as imunizações em dia faz parte da rede de proteção. A vacina da gripe para os maiores de 6 meses é especialmente relevante nesse sentido.
Campanha contra o VSR
Recentemente, a farmacêutica AstraZeneca promoveu um evento para lançar a campanha “Prevenção ao VSR – Muito Além de um Detalhe”.
Na ocasião, a apresentadora Rafa Brites falou sobre o sufoco que passou ao internar seu primeiro filho devido ao VSR. “Queria ser uma mãe legal, que deixa todo mundo chegar perto do bebê”, disse.
Após esse episódio, ela mudou seu comportamento. “Com meu segundo filho, foi diferente. Visita? Só depois de alguns meses. Comecei a entender que beijar recém-nascidos não deve ser algo comum”, relatou.
Médicos querem ampliar direito a medicamento
Não existe vacina contra o VSR, mas há um medicamento preventivo disponível para bebês de alto risco. Isto é: prematuros até 28 semanas e 6 dias e bebês que sejam portadores de cardiopatias congênitas ou doença pulmonar crônica.
É o anticorpo monoclonal palivizumabe, aplicado mensalmente durante cinco meses.
O mercado espera a aprovação de outro composto semelhante, o nirsevimab. Ele é o primeiro anticorpo monoclonal de dose única, indicado a bebês saudáveis e também aos prematuros, e apresentou eficácia de 80% no estudo de fase 3 (último estágio de testes). Ele já foi aprovado pela Agência Europeia de Medicamentos.
“Com mais opções no mercado, a esperança é que todos os prematuros, e não só aqueles com até 28 semanas, tenham direito ao medicamento, pois eles têm risco real de gravidade”, afirma Kfouri.
Cabe destacar que todos os bebês nascidos antes das 37 semanas de gestação são considerados prematuros.
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Além de facilitar o acesso a medicamentos preventivos, organizações como a Prematuridade.com lutam para que mães tenham mais tempo ao lado dos filhos que chegam antes da hora.
“O bebê pode ficar três meses internado, e quando ele sai do hospital, a mãe já se vê obrigada a trabalhar. Ela não consegue passar mais tempo com a criança, que, sob responsabilidade de outros cuidadores, acaba correndo mais risco de se expor ao VSR”, pontua Denise Leão, diretora e fundadora da ONG.
E as vacinas?
Uma injeção para a gestantes, desenvolvida pela Pfizer, apresentou 80% de eficácia em evitar casos graves de infecções respiratórias por VSR nos primeiros testes, e protegerá mãe e bebê.
A mesma farmacêutica prepara um imunizante para os idosos, que também fazem parte dos grupos suscetíveis a quadros perigosos promovidos pelo VSR.
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A GSK desenvolve outra opção aos maiores de 60 anos, e estudos já indicaram 83% de eficácia contra situações graves.
“Para crianças, por enquanto, ter uma vacina é uma realidade distante. É mais fácil que surjam mesmo novos anticorpos monoclonais”, avisa o infectologista da SBP.
Testes rápidos para detectar o VSR
Existem diversos tipos de exames e testes rápidos para diferenciar os vírus respiratórios.
Um exemplo é o de PCR, que faz a distinção de quatro vírus diferentes – coronavírus, influenza dos tipos A e B e o VSR.
Mas um equipamento lançado pela empresa de tecnologia médica BD, que também mira no VSR, tem apresentado uma vantagem: a coleta é menos invasiva, ideal para os pequenos.
O cotonete passa pelas duas narinas, mas sem a necessidade de chegar ao fundo do canal. A secreção retirada da região é misturada a uma solução, e esse líquido é pingado em uma base. Bem parecido com os testes de Covid-19.
A diferença é que essa base funciona como uma espécie de pen-drive, que é conectada a um aparelho, oferecendo um diagnóstico mais preciso. Outra particularidade é que esse método é realizado apenas por profissionais de saúde.
“Na maioria dos testes disponíveis no mercado, o profissional interpreta as linhas que aparecem no visor. No caso desse teste, a leitura é feita digitalmente pelo próprio dispositivo, deixando o processo mais seguro e confiável”, avalia Kfouri.
O aparelho pode ser encontrado em alguns hospitais e clínicas.