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Vem aí a atomoxetina, primeiro medicamento não estimulante para TDAH

Com o nome comercial Atentah, esse novo remédio deve chegar ao Brasil em outubro. Entenda como ele funciona

Por Ingrid Luisa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 29 ago 2023, 16h00 - Publicado em 29 ago 2023, 15h51
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Nova droga é mais específica que os estimulantes comuns. (Veja Saúde/SAÚDE é Vital)
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O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, conhecido como TDAH, afeta entre 5% e 8% da população mundial, segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA).

O tratamento é multidisciplinar e costuma envolver, além da psicoterapia e outras medidas comportamentais, o uso de medicamentos.

As únicas drogas atualmente disponíveis no país para o manejo da condição são os estimulantes, como a Ritalina (metilfenidato) e o Venvanse (lisdexanfetamina).

Elas são, em geral, eficazes, mas oferecem maior risco de dependência por atuarem de maneira inespecífica, em todo o cérebro.

Pois uma nova opção está para chegar ao Brasil. Em julho deste ano, o primeiro medicamento à base de atomoxetina foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Trata-se do Atentah, da fabricante Apsen Farmacêutica.

Ele não é considerado estimulante e tem um mecanismo de ação mais específico, que diminui a quase zero o risco de dependência, segundo estudos.

Os medicamentos estimulantes

O metilfenidato e o lisdexanfetamina elevam a disponibilidade de neurotransmissores como dopamina e norepinefrina (ou noradrenalina), o que ajuda a melhorar a concentração e o foco em pessoas com TDAH.

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Mas há uma questão. Essas moléculas também estimulam o sistema de recompensa, daí a preocupação com a dependência química.

Com a ilusão de que poderiam melhor o desempenho no trabalho ou nos estudos, muitas pessoas neurotípicas (sem transtornos diagnosticados) estão tomando esses remédios por conta própria.

Mas isso é perigoso: além da alta chance de dependência, estudos ainda demonstram que essas medicações podem, na verdade, atrapalhar o rendimento desses indivíduos.

+Leia Também: Os perigos do Venvanse, droga em alta entre executivos e nas baladas

No caso de pessoas com TDAH, as vantagens superam os ônus. Cerca de 70% dos portadores do problema respondem bem aos estimulantes.

Só que, muitas vezes, o quadro vem acompanhado de outros diagnósticos, como autismo ou transtorno de ansiedade. E, para eles, esses medicamentos são um problema.

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“Eles podem piorar as estereotipias dos autistas ou aumentar a ansiedade, então não são recomendados quando há outras questões associadas”, explica o médico psiquiatra Paulo Mattos, professor do Programa de Doutorado em Ciências Médicas do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR).

Novo caminho mais específico: atomoxetina

Quando há a presença de comorbidades, países como Estados Unidos, Japão e algumas nações europeias usam a atomoxetina.

Ela também aumenta a disponibilidade de um neurotransmissor, a noradrenalina. Mas, diferente dos estimulantes, é altamente específica: age apenas no córtex pré-frontal.

Por não interferir no sistema de recompensa, sua capacidade de gerar vício ou dependência é considerada nula. Mas, justamente pela atuação mais controlada, prevê-se certa demora para apresentar resultados, em relação aos estimulantes comuns.

Depois da aprovação recebida em julho, o medicamento será precificado e a a previsão é que esteja disponível no mercado brasileiro em outubro.

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“Aumentar as opções de medicamentos no Brasil será muito positivo, e vai exigir uma análise mais cuidadosa de cada caso, o que acaba evitando que o tratamento seja uma receita de bolo”, comenta o psiquiatra.

O que é o TDAH e como flagrá-lo

Ele é um transtorno do neurodesenvolvimento, ou seja, é caracterizado por alterações que ocorreram durante o desenvolvimento do cérebro do indivíduo, principalmente na área do córtex pré-frontal, região que regula atenção, foco e autocontrole.

Essas mudanças geralmente acontecem quando a pessoa ainda está na barriga da mãe, e resultam em características atípicas, como dificuldade de concentração, inquietação, impulsividade, dentre outras.

Há ainda um componente genético associado ao TDAH.

Se não for corretamente diagnosticada e tratada, a condição pode trazer prejuízos ao aprendizado, relações profissionais e até pessoais.

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+Leia Também: TDAH decodificado: por dentro do déficit de atenção

O diagnóstico é feito por avaliação clínica, com informações sobre o desenvolvimento da linguagem, pedagógico e social da pessoa, além de análise do histórico familiar.

“Há diagnóstico de medicina que são mais duros. Por exemplo, no câncer, não existe meio termo: você tem ou não um tumor. Mas nem tudo é assim, existem dimensões”, explica Paulo Mattos.

“O diabetes é um bom exemplo para entender isso. Todo mundo carrega açúcar na veia, uns um pouco mais, outros um pouco menos. Só quando o nível passa de um determinado ponto é que eu chamo de diabetes. O TDAH é exatamente assim”, exemplifica o especialista.

Ao todo, essa condição possui 18 sintomas, divididos em 3 grupos: 9 relacionados à desatenção, 6 à hiperatividade e 3 à impulsividade.

É normal termos características desta lista, em especial nos dias de hoje, cheios de estresse e estímulos constantes.

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“Se alguém me disser que não tem nenhum sintoma desses 18, tem alguma coisa errada. É a mesma coisa que dizer que não tem açúcar no sangue”, comenta o pesquisador.

Casos leves de desatenção e impulsividade, que são resolvidos com terapia e atividade física, não são classificados como TDAH. O que configura o transtorno é manifestar os sintomas exageradamente, com impactos significativos na qualidade de vida.

+Leia Também: Em busca do foco perdido: o que fazer para recuperar a concentração?

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