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Covid-19: Vacinas ainda funcionam contra a variante Ômicron

Embora percam um pouco da eficácia contra a infecção em si, elas seguem protegendo de casos graves e mortes. Veja o que mais sabemos sobre o assunto

Por Chloé Pinheiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 20 dez 2021, 16h28 - Publicado em 20 dez 2021, 16h25
nova variante do coronavírus
Achados indicam que, embora a Ômicron escape um pouco das vacinas, elas seguem cumprindo seu objetivo de reduzir casos graves e mortes.  (Foto: Unsplash / Jeremy Bezanger/Divulgação)
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Se a variante Ômicron do coronavírus pode se replicar até 70 vezes mais rápido, a ciência também aumentou sua já acelerada marcha para conhecê-la. Cerca de um mês depois de seu surgimento, temos insights importantes sobre como a nova cepa se comporta e como as vacinas devem responder a ela.

O primeiro achado, agora confirmado por diversos laboratórios ao redor do mundo, é o de que a Ômicron consegue escapar dos anticorpos gerados tanto pela vacina quanto por infecções prévias – sendo que, nesse segundo caso, eles parecem ser ainda menos eficientes.

Mas isso só foi demonstrado em testes no tubo de ensaio, e não quer dizer que as vacinas deixem de funcionar. Na verdade, também já temos evidências preliminares de que a imunidade celular, outra parte crucial da resposta imune, que reprime o agravamento da infecção, não parece afetada pela nova mutante quando se toma duas doses.

A terceira dose, contudo, é fundamental para aumentar a proteção. Um estudo recente publicado no periódico The Lancet mostrou que o reforço das vacinas de RNA mensageiro, como as da Pfizer e AstraZeneca, eleva os níveis de anticorpos neutralizantes em circulação. O governo do Reino Unido, analisando dados do mundo real, já notou que o reforço diminui o risco de adoecer, mesmo que a infecção aconteça.

“Os estudos mostram que a terceira dose ajuda muito a aumentar os níveis de anticorpos e também a deixá-los ainda mais efetivos contra a Ômicron. Mesmo que eles caíam de novo com o tempo, a memória do sistema imune será melhor”, explica a virologista Theodora Hatziioannou, da Universidade Rockefeller, nos Estados Unidos, em evento sobre o tema realizado pelo Instituto Aspen.

LEIA TAMBÉM: Exame de anticorpos pós-vacina: fazer ou não?

A resposta do sistema imune à Ômicron

Os estudos de anticorpos neutralizantes são testes feitos in vitro, simulando uma situação em que o vírus entraria na corrente sanguínea e seria interceptado por soldados programados para isso, antes de sequer infectar as células. Ou seja, não representa tudo o que acontece no corpo humano de verdade.

“Essa é só uma parte da imunidade. Ela conta com diversos mecanismos”, resume a biomédica e imunologista Letícia Sarturi, doutora em biociências e fisiopatologia pela Universidade Estadual de Maringá.

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É até natural que haja uma queda dos anticorpos neutralizantes em circulação após longos períodos sem contato com o vírus ou com a vacina. “São proteínas. E elas acabam degradadas pelo corpo depois de um tempo”, explica Letícia.

Existem ainda as células de memória, que produzem os anticorpos neutralizantes novamente frente a um encontro com o vírus – falamos aqui de outra categoria de anticorpos e um sistema completamente diferente.

“Outra parte importante é a imunidade celular mediada pelos linfócitos T, que impede o agravamento da infecção depois que ela ocorreu. E já temos dados indicando sua ação contra a variante”, explica a especialista.

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Vacinas ainda não precisam de atualização

“Apesar da queda, alguns anticorpos neutralizantes ainda se ligam na variante, reforçando que eles reconhecem o vírus”, complementa Letícia. Tanto é verdade que os especialistas ainda não veem a necessidade de atualizar a vacina.

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Para eles, é melhor acelerar a imunização de quem ainda não tomou as duas primeiras doses e também a dose de reforço.

“Seria relativamente fácil fazer uma atualização, mas pode ser desnecessário uma vez que temos a terceira dose funcionando”, comentou a médica infectologista e epidemiologista Céline Gounder, da NYU Grossman School of Medicine, também no evento do Instituto Aspen.

Outro ponto interessante: mesmo que o coronavírus esteja um pouco diferente, o corpo pode produzir anticorpos mais especializados ao encontrá-lo. Isso ocorreria a partir da linha de produção já estabelecida pela vacina. “É como se ele se adaptasse a essa nova cara”, explica Letícia.

Vacinados ficam menos doentes, podem transmitir e se infectar

É importante ressaltar que nenhum imunizante protege 100% contra uma doença, assim como nenhum remédio é 100% eficaz em todas as situações. “A chamada imunidade esterilizante, que impede a pessoa de se infectar, não acontece na Covid-19, nem com a infecção natural nem com a vacina”, comenta Letícia.

O que os anticorpos fazem é bloquear a entrada do vírus na célula, e as outras partes do sistema imune identificam e eliminam as células já infectadas, impedindo a progressão da doença.

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É por isso que, embora vacinados possam transmitir e se infectar, a tendência é que tenham quadros mais leves e transmitam o vírus por menos tempo.

LEIA TAMBÉM: Covid-19: como interpretar casos de morte depois da aplicação da vacina

A Ômicron é mais leve do que a Delta?

Poucas semanas depois do surgimento da Ômicron, o governo da África do Sul – país que registrou os primeiros surtos de Covid-19 relacionados a ela – anunciou que ela causava menos hospitalizações do que sua antecessora, a Delta. Ou seja, que seria mais leve.

O anúncio fez com que a nova mutante fosse definida até como um “presente de Natal”. Mas é cedo demais para tirar esse tipo de conclusão.

A variante tem um perfil inédito em volume de mutações, que ainda estão sendo estudadas. “São cerca de 30 mudanças somente no código genético da proteína spike, com potencial para aumentar a transmissibilidade do vírus, e não sabemos ainda como elas refletirão na agressividade ”, comenta o virologista Fernando Spilki, professor da Universidade Feevale.

Os achados preliminares reforçam a questão da transmissibilidade, indicando que ela se reproduz até 70 vezes mais rápido nas vias aéreas, e dão pistas da severidade, uma vez que isso não ocorre nos pulmões.

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“Mas, mesmo se ela for muito mais transmissível e menos grave, estatisticamente causará um aumento de casos e mortes por onde se espalhar”, aponta Spilki. Achados do governo do Reino Unido indicam uma severidade nem melhor nem pior do que a da Delta, ou seja: igualmente preocupante.

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Fora que, além das questões do vírus, existem as relativas ao hospedeiro. Entenda: um aspecto que confunde esse tipo de análise é o fato de que boa parte da população já teve contato com o vírus, seja pela infecção natural, seja pela vacina. Logo, a imunidade prévia pode ajudar o corpo a lidar melhor com novos encontros.

Por outro lado, o componente social ajuda qualquer variante a se alastrar mais facilmente. “Para a formação e disseminação de novas cepas, em geral vemos ondas relacionadas a determinados fenômenos sociais, como o relaxamento das medidas preventivas ou megaeventos que geram aglomeração de pessoas”, aponta Spilki.

Com tudo isso em mente, não dá para saber o que vai acontecer com a Ômicron no Brasil. Algumas cidades já confirmaram a transmissão comunitária, acendendo o alerta para as festas de fim de ano.

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Vacinar é imprescindível

A essa altura, é pouco provável que a imunidade de rebanho (quando tantas pessoas estão imunizadas que o vírus naturalmente desaparece) seja um dia atingida com a Covid-19. O que se espera é que as vacinas sigam protegendo contra casos graves, hospitalizações e mortes, além de reduzir a circulação do coronavírus a um ponto mais controlável.

Para o médico Onyema Ogbuagu, professor da Universidade Yale, nos Estados Unidos, que participou dos testes com a fórmula da Pfizer, a alta eficácia das vacinas demonstrada nos estudos pré-aprovação levou a uma falsa sensação de que os imunizantes seriam uma bala de prata para a pandemia.

“As pessoas começaram a achar que nunca se infectariam, mas agora estamos vendo que a imunidade diminui um pouco com o tempo, então teremos que ajustar nossas expectativas”, declarou no seminário do Instituto Aspen. Se o esquema vacinal será de três doses ou haverá um reforço anual, como ocorre com a gripe, o tempo e a ciência irão dizer.

De qualquer maneira, a vacinação segue sendo a melhor arma tanto para proteção individual quanto coletiva. “Em países que haviam enfrentado surtos violentos e estavam com alta cobertura vacinal, a Delta não se disseminou tanto assim”, aponta Spilki.

+ LEIA TAMBÉM: É falsa a informação de que vacinas facilitam o surgimento de variantes

O Brasil, que foi devastado pela Gama e em seguida engatou na vacinação, viveu uma alta de casos com a Delta, mas isso não se refletiu tanto no número de hospitalizações e óbitos.

Na outra ponta, os países com baixa cobertura – por conta da desigualdade social ou com campanhas estagnadas pela recusa vacinal – podem sofrer mais com as mutantes e ainda atuarem como celeiro de variantes.

“Enquanto tivermos regiões pouco vacinadas, ainda corremos o risco de ver variantes aparecerem. Essa é a lição da Ômicron que está aí para aprendermos”, comentou Ogbuagu.

É fato que estamos mais preparados para enfrentar a variante, mas também é consenso que não é hora de abandonar de vez as medidas de proteção. As vacinas devem ser complementadas com outras estratégias, como o uso de máscaras em locais fechados, evitar aglomerações e se isolar diante de qualquer sintoma.

Não estamos fora de perigo, especialmente considerando que o período de festas chegou. Os números impressionantes de novos casos no exterior estão aí para dar o recado.

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