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Vacina da Pfizer contra Covid-19: o que tirar do anúncio de alta eficácia

Dados anunciados pela empresa e por cientistas envolvidos com essa vacina para o coronavírus sugerem eficácia superior a 90%. Eles animam, mas pedem cautela

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 27 Maio 2021, 19h08 - Publicado em 11 nov 2020, 11h54

Do mercado financeiro aos laboratórios de pesquisa, o mundo comemorou a notícia dada pelas empresas Pfizer e BioNTech de que sua vacina contra Covid-19 demonstrou mais de 90% de eficácia em análise preliminar da fase 3, a última etapa de testes antes da aprovação. O número indica uma alta capacidade de prevenir o coronavírus.

A notícia é promissora, mas o número foi divulgado antes de a pesquisa alcançar um limite mínimo de participantes infectados (o que é importante, como falaremos adiante). E não houve uma apresentação dos dados para a comunidade científica, que poderia esmiuçar os métodos e as estatísticas. “Basicamente, é um indício de meio do caminho, que confirma que estamos indo na direção correta”, explica Natália Pasternak, microbiologista e presidente do Instituto Questão de Ciência. Claramente isso não significa a aprovação da vacina.

Para que a eficácia de um imunizante qualquer seja comprovada, os pesquisadores e o fabricante estipulam um número mínimo de infectados que o estudo precisa atingir na fase 3, quando dezenas de milhares de voluntários recebem a vacina ou um placebo. Quando esse limiar é alcançado, um comitê independente, ao qual os experts que conduzem os testes não têm acesso, analisa os dados e vê quantos indivíduos que pegaram o coronavírus estavam no grupo placebo e quantos receberam a dose real.

“Esse número deve estar previsto no protocolo, e nos dá poder estatístico para dizer que o resultado está de fato certo, e não é apenas uma coincidência”, comenta a epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin. A eficácia da vacina da Pfizer será determinada pra valer quando ao menos 164 voluntários contraírem a Covid-19. O que está sendo divulgado agora é uma análise prévia, realizada com os 94 primeiros casos confirmados da infecção. E, de novo, esse número foi veiculado pela própria empresa, não por um artigo científico.

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O estudo da vacina da Pfizer e BioNTech

Mais de 43 mil voluntários ao redor do mundo receberam duas doses da vacina até o dia 8 de novembro. Deles, 42% pertencem a etnias não-brancas  (a diversidade é um dos pontos positivos do trabalho). A análise dos primeiros 94 casos de Covid-19 concluiu que o número de infecções sintomáticas era 90% menor entre os que tomaram a vacina real.

A proteção foi verificada sete dias depois do recebimento da segunda dose e 28 dias após a primeira. Até agora, nenhuma reação adversa séria foi observada, mas a segurança só será realmente confirmada quando se passarem dois meses da aplicação da última injeção em ao menos metade dos participantes – marco que pode ser alcançado já na terceira semana de novembro.

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A partir daí, se tudo der certo, a Pfizer solicitará a aprovação da vacina em caráter emergencial ao Food and Drug Administration Agency (FDA), órgão que controla o setor farmacêutico nos Estados Unidos. O mesmo deve ocorrer com a Anvisa e outras autoridades regulatórias no mundo.

A comunidade científica pede ainda outras informações, como sobre a capacidade de o imunizante impedir a transmissão (não só a manifestação de sintomas), de evitar casos especialmente graves e por aí vai. Só a continuidade dos estudos responderá a essas e outras questões.

Resultados da vacina impactam mercado financeiro

A fabricante se comprometeu a enviar, assim que possível, o material completo da pesquisa fase 3 para publicação em periódicos científicos. Aliás, esse é outro ponto de atenção: o resultado positivo foi anunciado via comunicado de imprensa, uma prática que se tornou mais comum durante a pandemia, dada a urgência do interesse público (e comercial) no assunto.

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“Mas, quando você adota essa estratégia, o ideal é disponibilizar os dados para a comunidade científica avaliar o que eles realmente representam, porque estamos agora com a palavra da companhia, que tem um investimento enorme em jogo”, destaca Denise. “Estamos bastante otimistas, mas cautelosos”, completa.

Como a Pfizer foi uma das três grandes farmacêuticas a abrirem seus protocolos de pesquisa em detalhes (junto com Moderna e AstraZeneca), a expectativa é de que o resultado se confirme. “Mesmo que, ao atingir 164 infectados, os 90% caiam um pouco, ainda assim será maior do que os 50% que estávamos esperando”, completa Denise.

Com a boa nova, o valor das ações da Pfizer subiu 8% nos Estados Unidos. As da BioNTech, parceira da farmacêutica, tiveram alta de 16% na bolsa de Frankfurt, na Alemanha. As empresas já disseram que não têm planos de realizar acordos de transferência de tecnologia, mas sim comercializar as doses aos países interessados.

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Primeira vacina de material genético

Caso aprovada, a vacina da Pfizer será a primeira de seu tipo entre todas as infecções. Sua estratégia é utilizar o RNA mensageiro – a parte do código genético responsável por transmitir as informações do vírus para as células humanas. Nesse caso, a receita para fabricar apenas uma parte do novo coronavírus, a proteína S.

O método é considerado uma revolução na maneira de fazer vacinas. “Ele é rápido, barato e simples, com alto rendimento de doses por litro e alta capacidade de adaptação na fórmula, caso ocorra alguma mutação significativa no Sars-CoV-2”, explica Natália.

Não é preciso sequer manipular o vírus vivo no laboratório – basta adquirir seu código genético e copiá-lo. “É muito bonito de ver essa estratégia, que pode beneficiar a luta contra outros vírus, sendo testada com sucesso em humanos”, comenta a microbiologista.

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Vacina de mRNA não altera o DNA

Por ser uma novidade, é natural que a tecnologia suscite dúvidas e acabe sendo tema da onda de notícias falsas que bombam na internet. As vacinas de mRNA e DNA (outra técnica que usa o material genético) foram acusadas de alterar o código genético humano e tornar as pessoas mais suscetíveis a doenças – em algumas teorias da conspiração, até de “apagar” o gene responsável pela crença religiosa.

A segurança da nova estratégia ainda está sendo avaliada, mas essa história de alteração genética não preocupa em nada os cientistas. O RNA injetado é rapidamente lido e degradado no citoplasma das células humanas, longe do núcleo, onde ficam bem guardados nossos genes, e não tem a capacidade de “conversar” com o nosso DNA.

A vacina da Pfizer virá para o Brasil?

Pergunta ainda sem resposta. Primeiro porque não há negociações em andamento com o governo brasileiro. Em nota, a farmacêutica afirma que ofereceu ao Ministério da Saúde uma proposta atualizada de fornecimento que permitiria imunizar “milhões de brasileiros”, mas ainda não obteve resposta.

A vacina precisa ainda ser armazenada em temperaturas muito baixas, de até 70ºC negativos. “Isso dificulta a distribuição fora das grandes capitais do Brasil, onde não temos essa infraestrutura disponível”, destaca Natália. Para contornar o problema, a Pfizer desenvolveu uma tecnologia para manter a vacina armazenada em freezer normal por até dez dias.

Por fim, a concorrência será grande. A Pfizer anunciou que pretende produzir 50 milhões de doses até o final de 2020 e até 1,3 bilhão em 2021. De acordo com levantamento realizado pela Bloomberg, mais de 280 milhões já foram negociadas com outros países, sendo Estados Unidos e Japão os maiores compradores.

Além da vacina em questão, em breve teremos resultados de outras que estão avançadas nos estudos, como a da AstraZeneca/Oxford, e a Coronavac, ambas testadas no Brasil. Por ora, é esperar para ver quando isso acontecerá.

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