Vinte dias após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovar o uso da vacina da Pfizer contra Covid-19 em crianças, o Ministério da Saúde incluiu a faixa dos 5 aos 11 anos no Plano Nacional de Imunizações (PNI).
As primeiras das 20 milhões de doses reservadas começam a chegar em 13 de janeiro, e devem ser distribuídas no dia seguinte pelo Brasil. As datas de início da aplicação estão sendo anunciadas por estados e municípios.
São necessárias 40 milhões de doses para proteger todo esse público. Como ocorreu com o cronograma adulto, os pequenos com comorbidades e deficiência permanente, indígenas e quilombolas terão prioridade no recebimento do imunizante.
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O Ministério da Saúde recomenda ainda que quem possui um adulto com risco elevado de desenvolver Covid grave em casa deve ser priorizado na fila.
Outra sugestão da pasta é que a vacinação comece pelas crianças mais velhas, porque elas têm mais probabilidade de apresentar sintomas e estão mais expostas nas escolas. Essas decisões, no entanto, cabem a cada município.
Durante o anúncio, foi sugerido por Rosana Leite de Melo, secretária-extraordinária de Enfrentamento à Covid do Ministério da Saúde, que os pais busquem os pediatras de seus filhos antes de tomar a vacina.
A frase gerou polêmica, pois a vacinação infantil é segura e recomendada pelas Sociedade Brasileira de Pediatria e Sociedade Brasileira de Imunizações, além dos governos de cerca de 30 países, entre eles Estados Unidos, França, Chile, Alemanha e Dinamarca.
Até por isso, o ministro Marcelo Queiroga reiterou que essa orientação é voltada apenas às famílias com crianças com comorbidades ou que tenham dúvidas sobre a segurança do imunizante. É natural que surjam dúvidas nos pais e o pediatra deve estar ali para esclarecê-las.
Como será a vacinação infantil
A dose das crianças é menor que a dos adultos, para reforçar a segurança, mas tem a mesma eficácia, o que foi demonstrado por estudos já publicados. No Brasil, o intervalo entre as duas doses será de oito semanas. A bula da Pfizer sugere três semanas, mas dados indicam que a produção de anticorpos neutralizantes é melhor quando se prolonga o tempo entre as injeções.
“Há ainda a possibilidade de reduzir os já raros riscos de miocardite quando esse intervalo é aumentado”, segundo Rosana. Não custa frisar que a miocardite é um evento adverso extremamente raro e que, ao acometer adolescentes e adultos vacinados, foi tratável em todos os casos e não provocou nenhuma morte.
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Austrália, Canadá, Espanha, Reino Unido e Portugal adotaram o mesmo intervalo. Já outros países aceleraram a segunda dose para tentar inibir a alta circulação do vírus por conta da variante Ômicron.
O Ministério da Saúde endossou as recomendações da Anvisa, que pede o acompanhamento de pais e responsáveis aos postos e que eles acompanhem a vacinação junto ao profissional de saúde. Caso os pais não estejam presentes, a criança deverá levar uma autorização por escrito.
As reações adversas e a experiência de quem já tomou
Até o fim de dezembro de 2021, 6,5 milhões de crianças receberam, ao menos, a primeira dose da vacina da Pfizer, a Comirnaty, nos Estados Unidos. Parte da população infantil de sete países europeus também está em processo de imunização.
A Anvisa tirou proveito desses dados para avaliar as possíveis reações adversas do produto. As mais relatadas foram febre (em 7% do total de crianças vacinadas), dor de cabeça (6%), vômito (6%), tontura (5%), desmaio (5%) e fadiga (5%).
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O que mais preocupou as agências de saúde foi a falta de treinamento dos profissionais, que cometeram algumas falhas de aplicação — a fórmula do imunizante e a dosagem são diferentes para as crianças. Para evitar erros por aqui, o produto recebeu uma embalagem laranja.
Qual é a eficácia da vacina nas crianças?
Para chegar à dosagem correta e avaliar a eficácia da fórmula nos pequenos, a vacina foi testada em três fases. “Ficou comprovada a existência de anticorpos nas crianças na mesma quantidade observada nos adultos imunizados, e que eles são capazes de combater a variante Delta [ainda predominante no país]”, afirma Gustavo Mendes, gerente médico da Anvisa.
A eficácia estimada é de 90% contra casos graves e mortes. Ainda é preciso saber quanto tempo dura a proteção, algo que será visto agora, com a aplicação em larga escala, e se a fórmula se manterá eficiente contra novas variantes, como a Ômicron.
Nos adultos, a vacina demonstrou perder um pouco de eficácia contra a infecção da mutante, mas segue protegendo de casos graves e mortes, principalmente com o reforço. Esse é o principal objetivo da vacinação. O FDA, agência sanitária dos Estados Unidos, já aprovou a dose de reforço para adolescentes com mais de 12 anos.
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Por que é importante vacinar as crianças?
Em primeiro lugar, para protegê-las. Esse é um ponto unânime entre os pediatras. Apesar de geralmente terem quadros mais leves do que os adultos, elas ainda podem adoecer e morrer. Só em 2021, foram 1 400 óbitos de pessoas abaixo dos 18 anos devido à Covid-19, segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.
O número é maior do que as mortes provocadas por todas as outras doenças evitáveis por vacinas somadas. Além disso, crianças também podem ter sequelas da Covid e transmitir o vírus a outras pessoas, incluindo quem não pode se vacinar, como os bebês.
Segundo análise da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), quase metade dos menores de idade brasileiros mortos pelo coronavírus em 2020 tinha até 2 anos de idade. Um terço dos óbitos de pessoas com até 18 anos ocorreu entre menores de 1 ano, e 9% em bebês com menos de 28 dias de vida.
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Além da proteção individual, imunologistas ainda defendem que a circulação do vírus só irá diminuir quando a maioria da população estiver vacinada.
Quanto mais gente protegida, há menos risco de que novas variantes surjam. Isso porque pessoas sem proteção alguma dão espaço para o vírus se replicar em grandes quantidades. Cada vez que ele se espalha, há a possibilidade de novas mutações, que podem ou não mudar o rumo da pandemia.
Coronavac para crianças
Por aqui, só a vacina da Pfizer foi aprovada para crianças, mas a Coronavac tem estudos que confirmam a sua segurança também nos pequenos. Argentina, Chile, China, Índia e Emirados Árabes Unidos já estão usando a injeção nos pequenos a partir dos 3 ou dos 6 anos de idade.
Pode ser uma opção interessante, já que é uma vacina com tecnologia conhecida (a mesma usada na dose da gripe) e fabricada no Brasil. A Anvisa já recebeu o pedido do Instituto Butantan para autorização desse imunizante, mas solicitou dados mais aprofundados.