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Uma nova esperança contra a doença de Chagas

Estudo avalia molécula capaz de reverter lesões no coração causadas pela doença de Chagas, que já é a terceira causa de transplante cardíaco no Brasil

Por Fábio de Oliveira, da Agência Einstein
9 dez 2019, 18h11

Os dados oficiais estimam que de 2 a 5 milhões de brasileiros sofrem cronicamente com a doença de Chagas. “É a terceira causa de transplante cardíaco no Brasil”, revela o cardiologista Sandrigo Mangini, do Programa Einstein de Transplantes. O mal provoca lesões em órgãos como o coração ao longo de décadas e de maneira silenciosa, levando a quadros de insuficiência cardíaca — quando a bomba que existe no peito aumenta de tamanho e não consegue mais trabalhar direito. “O tratamento clínico para Chagas não é tão bem-sucedido em comparação com outras doenças coronarianas”, explica Mangini. Daí a promessa de uma pesquisa que está sendo conduzida no Instituto Oswaldo Cruz (IOC), no Rio de Janeiro.

Os cientistas testaram uma molécula capaz de bloquear o processo de fibrose do tecido cardíaco que ocorre na fase crônica da enfermidade. “Usamos um composto que inibe o receptor da TGF-beta”, conta Mariana Whagabi, líder do estudo e pesquisadora do Laboratório de Genômica Funcional e Bioinformática do IOC. É essa proteína do sistema imune que está por trás das alterações no coração.

Os resultados foram bastante animadores. Houve reversão do processo de cicatrização e melhora da função cardíaca. Em um dos esquemas terapêuticos, foi verificada também regeneração do tecido muscular do órgão.

Publicado na revista científica PLOS Neglected Tropical Diseases, o trabalho usou camundongos para testar a molécula, que é produzida pelo laboratório GSK. Os animais foram inoculados com o Trypanosoma cruzi, o protozoário que provoca a doença de Chagas. Neles, o problema ocorre de forma parecida com a dos seres humanos. “É um bom modelo”, diz Mariana.

O que é a doença de Chagas e qual seu tratamento

Para se tornar crônica em homens e mulheres, a enfermidade leva de 20 a 30 anos. Trata-se de uma doença negligenciada. Entram nesse grupo moléstias causadas por vírus, parasitas e bactérias que acometem principalmente as camadas mais pobres da população. Eis a razão do pouco interesse da indústria farmacêutica em buscar medicamentos inovadores.

O Trypanosoma cruzi pode ser transmitido pelo barbeiro. Ele pica a vítima para se alimentar de sangue e, no ato, defeca, evacuando o parasita. Alimentos como açaí e cana de açúcar com restos do inseto e suas fezes são outra forma de o contágio ocorrer, além de transfusão de sangue.

Feridas são a porta de entrada do Trypanosoma cruzi no organismo. Ele viaja pela corrente sanguínea e se abriga nas células cardíacas. Na gestação, a mãe infectada também pode passar o problema para o filho.

Do ponto de vista dos sintomas, a fase aguda da doença de Chagas se assemelha com a gripe. Já na crônica, a resposta imunitária gerada pelo corpo pode deflagrar um processo inflamatório intenso que provoca lesões no coração, além de esôfago e intestino. Tudo de maneira silenciosa. Daí o surgimento de insuficiência cardíaca décadas depois.

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A droga disponível hoje para o tratamento, o benzonidazol, é capaz de dar cabo do Trypanosoma cruzi nos estágios iniciais da doença. Mas alguns parasitas podem apresentar resistência a ela, sem contar que o problema quase não é diagnosticado na fase aguda.

Com isso, muitos pacientes crônicos com Chagas acabam na fila do transplante. “Ele é uma boa opção”, atesta o cardiologista Sandrigo Mangini. Isso porque essas pessoas geralmente têm de 35 a 40 anos e não apresentam outras doenças, a exemplo de diabetes, hipertensão e obstrução das artérias.

Contudo, a espera pelo novo coração pode ser demorada e, infelizmente, 30% dos pacientes acabam morrendo. “A doença de Chagas está relacionada com uma questão socioeconômica, e o transplante tem um custo alto”, diz Mangini. “É louvável qualquer estratégia nacional que busque interferir nos mecanismos desse problema”, conclui.

Este conteúdo foi produzido pela Agência Einstein.

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