Um em cada três adultos vive com hipertensão no mundo, diz OMS
Para piorar, cerca de 4 em cada 5 pessoas com o problema não são tratadas adequadamente, de acordo com relatório inédito da entidade
A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou, nesta terça-feira, 19, dados inéditos e alarmantes sobre a hipertensão no mundo.
Um em cada três adultos sofre de pressão alta e está em risco aumentado de ataque cardíaco, acidente vascular cerebral e morte.
O número equivale a cerca de 1,3 bilhão de pessoas, o dobro do registrado em 1990, quando o mundo tinha ao menos 650 milhões de hipertensos.
Além disso, quase metade dos portadores do problema desconhece a sua condição. Aproximadamente 4 em cada 5 pessoas não são tratadas adequadamente.
No relatório global, a OMS defende que o aumento da adesão aos cuidados pode evitar 76 milhões de óbitos até 2050.
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Cenário preocupante no Brasil
O relatório da OMS inclui dados do Brasil. Por aqui, mais de 50,7 milhões de adultos vivem com hipertensão. Destes:
- 56% foram diagnosticados
- 62% foram tratados
- 33% mantêm a pressão controlada
A cada dia, 388 pessoas morrem pela doença no país, de acordo com o Ministério da Saúde. E os dados mais recentes divulgados pela pasta apontam para um cenário negativo.
A taxa de mortalidade chegou, em 2021, ao maior valor dos últimos dez anos, segundo indicadores do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). Neste ano, foram registradas 18,7 mortes por 100 mil habitantes no país.
Para ter ideia, no período de 2011 a 2018, o indicador não ultrapassou 13 óbitos por 100 mil habitantes.
Doença silenciosa
A hipertensão é uma condição crônica, que ocorre quando os valores da pressão arterial são iguais ou maiores do que 140/90 mmHg, índice mais conhecido pela medida “14 por 9”.
O problema sobrecarrega o coração, que precisa realizar um esforço aumentado para garantir a circulação adequada do sangue pelo organismo.
Além de ser o principal fator de risco para o acidente vascular cerebral (AVC) e um dos mais relevantes para o infarto, ela pode levar a quadros graves de insuficiência cardíaca, danos aos rins e formação de aneurismas nas artérias.
No novo relatório, a OMS descreve a hipertensão como uma assassina silenciosa, devido ao fato que ela pode se instalar sem apresentar sintomas em grande parte dos casos.
Para algumas pessoas, os sinais surgem somente diante de um pico de pressão. Entre os incômodos, estão dores no peito e de cabeça, tontura, sensação de zumbido no ouvido, visão embaçada, sangramento no nariz e fraqueza.
Fatores de risco
A idade avançada e a genética podem aumentar o risco de desenvolvimento da pressão alta.
Contudo, há fatores de risco comportamentais que podem ser modificados, como explica o médico cardiologista Hélio Castello, coordenador da hemodinâmica do Centro Especializado em Cardiologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
“Existem pontos controláveis, como sobrepeso, obesidade, o excesso de sal na comida e o sedentarismo, pois a atividade física diminui a hipertensão”, diz Castello.
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Barreiras na adesão ao tratamento
A hipertensão não tem cura, mas o tratamento previne o desenvolvimento de complicações.
Para algumas pessoas, ele pode ser realizado apenas com acompanhamento médico e mudanças no estilo de vida, como adotar uma alimentação mais saudável, parar de fumar e praticar exercícios regularmente.
Em outros casos, pode ser necessário combinar alterações na rotina com o uso de um ou mais medicamentos.
É justamente neste ponto que o mundo enfrenta um grande desafio.
Se por um lado há um número significativo de pessoas sem diagnóstico, por outro existe também uma lacuna grande no controle da doença, como indica o documento da OMS.
“A hipertensão pode ser controlada eficazmente com medicamentos simples e baratos. No entanto, apenas uma em cada cinco pessoas com hipertensão mantém a pressão nos níveis adequados”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, em comunicado.
Parte do problema pode ser explicada pela falta de financiamento dos programas de controle da hipertensão dos países, segundo Adhanom.
O médico cardiologista Marcelo Ferraz Sampaio, da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, destaca a falta de orientação adequada do paciente sobre a importância do uso contínuo das medicações quando indicadas.
“É muito frequente que o indivíduo não esteja ciente de que se trata de uma doença crônica, que necessita tratamento para o resto da vida. Assim, ele deixa de tomar o medicamento. Campanhas de conscientização e uma boa conversa do médico com seu paciente podem aumentar a adesão”, diz Sampaio.
Diagnóstico é simples
O diagnóstico pode ser feito ao medir a pressão regularmente, um procedimento simples que pode ser realizado por profissionais em hospitais, farmácias e Unidades Básicas de Saúde (UBS).
O Ministério da Saúde recomenda que pessoas acima dos 20 anos façam a aferição ao menos uma vez por ano. Diante de casos da doença na família, a periodicidade deve ser de duas vezes ao ano.
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O que ainda pode ser feito
O relatório da OMS é lançado no contexto da 78ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), que aborda os progressos alcançados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
A OMS defende que a atenção à hipertensão é essencial para progredir nessas metas. A proposta é que os países invistam em estratégias para aumentar o número de pacientes tratados.
No melhor dos cenários, a estimativa é de prevenir, de agora até 2050:
- 76 milhões de mortes
- 120 milhões de acidentes vasculares cerebrais
- 79 milhões de ataques cardíacos
- 17 milhões de casos de insuficiência cardíaca
Entre as ações recomendadas pela entidade, estão protocolos de tratamento e manejo da pressão, acesso regular e ininterrupto a medicamentos, cuidado multidisciplinar dos pacientes, e investimento em sistemas de informação simples para facilitar o acompanhamento de cada caso.