O câncer de próstata é o segundo tipo da doença mais comum entre os homens no Brasil, com 65 mil novos diagnósticos ao ano, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). E, tirando o câncer de pulmão, esse é o que mais causa mortes entre a população masculina do mundo.
Só no Brasil, estima-se que a doença faça 15 mil vítimas anualmente. Felizmente, estão surgindo inovações para ajudar a combater o problema e reduzir esses números.
“Com novos tratamentos, damos oportunidades para indivíduos com casos mais avançados e, além disso, muito está sendo feito para avaliar melhor a enfermidade em seu início”, destaca a médica especialista em Medicina Nuclear Camila Mosci, coordenadora da Medicina Nuclear do Hospital Vila Nova Star, em São Paulo.
Vamos olhar mais de perto três destes avanços:
1) Terapia para tumor de risco intermediário
Um estudo realizado pelo Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, nos Estados Unidos, mostrou benefícios da chamada terapia fotodinâmica com alvo vascular para o câncer de próstata de risco intermediário.
Antes de descobrir por que ela é tão promissora, é necessário entender como a doença é tratada atualmente.
O urologista Lucas Nogueira, diretor científico da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), explica que, quando o câncer diagnosticado é classificado como de risco baixo ou intermediário, a recomendação é manter seu portador em observação para checar a progressão do tumor.
Só se recomenda iniciar o tratamento, geralmente com cirurgia e radioterapia, em casos considerados de alto risco.
“Os pacientes intermediários ficam no meio do caminho. Alguns já precisam receber terapia, enquanto outros podem permanecer em vigilância. Só que não temos tanta segurança nessa situação, porque muitos progridem e perdemos a janela de cura”, relata Nogueira.
É aí que entram as terapias focais, que visam cuidar somente da área afetada. Elas existem nas modalidades crioterapia e ablação por radiofrequência, nas quais o tumor é destruído com congelamento e calor, respectivamente, por meio da inserção de sondas que geram essas temperaturas.
“Já na terapia fotodinâmica com alvo vascular, nós injetamos no sangue do indivíduo uma substância sensível à luz derivada da clorofila das plantas, chamada padeliporfina, e utilizamos um laser infravermelho na área a ser tratada”, informa o urologista.
Depois que a substância entra na circulação, um aparelho endoscópico inserido pela uretra do paciente aplica, com agulhas minúsculas, o infravermelho. O contato com a luz estimula a padeliporfina, desencadeando reações químicas que causam uma obstrução progressiva nos vasos sanguíneos da região e levam à necrose do tecido acometido.
É um tratamento minimamente invasivo, feito no ambulatório, em cerca de 90 minutos. O sujeito volta para casa no mesmo dia, devendo apenas não se expor ao sol pelos próximos três dias e caprichar na hidratação para eliminar a substância pela urina.
A pesquisa americana, da qual Nogueira participou, foi feita com 46 homens, que realizaram uma ou duas sessões. Após 12 meses, em 83% deles a enfermidade não havia evoluído para estágios mais graves.
“Os efeitos colaterais apareceram em 12% dos voluntários, sendo uma dor no períneo o relato mais frequente, que passou com o uso de analgésico comum e teve duração curta”, afirma o especialista. Não houve queixas de incontinência urinária ou impotência, preocupações recorrentes em tratamentos envolvendo a glândula.
O método é usado na Europa para tumores de baixo risco desde 2017. Mas ainda são necessários novos estudos, com mais participantes, para bater o martelo sobre a eficácia e a segurança nos casos intermediários.
2. Novo medicamento contra o câncer de próstata metastático
Outra investigação, publicada no periódico científico The New England Journal of Medicine, demonstrou resultados promissores da PSMA-177 Lu, uma nova droga desenvolvida pela Novartis.
Trata-se de um radiofármaco, tipo de medicamento que contém um elemento radioativo. Este é formado pela união entre uma molécula de PSMA, proteína presente nas células da próstata que cresce quando o tumor surge, e a molécula Lutécio 177 (177 Lu).
O PSMA-177 Lu se liga às células cancerígenas e as danifica por meio da emissão de uma radiação de pequeno alcance. Isso significa que o composto consegue destruir o tecido doente sem prejudicar as partes saudáveis na vizinhança.
O medicamento surge como esperança aos portadores de câncer metastático resistente à castração (retirada dos testículos).
“São casos em que a pessoa com a doença avançada é tratada com o método convencional, mas a terapia falha e o tumor avança até atingir outros lugares do corpo”, esclarece o urologista Rodolfo Borges, chefe do departamento de Uro-oncologia da SBU.
Na pesquisa recém-publicada, participaram 831 homens divididos em dois grupos: 280 passaram apenas pela terapia já estabelecida e 551 receberam junto com ela o PSMA-177 Lu.
Ao final da análise, os cientistas constataram que o radiofármaco aumentou a sobrevida dos voluntários em 15,3 meses, enquanto o tratamento padrão sozinho alcançou 11,3 meses. Além disso, a possibilidade de progressão da doença caiu em 60%.
“Esse estudo mostrou um grande potencial para a medicação, que é aplicada em apenas quatro sessões e não traz efeitos colaterais que afetem a qualidade de vida”, comenta Camila.
Como esse é um estudo de fase três, seus resultados já podem ser usados pelo laboratório para solicitar a aprovação desta nova opção terapêutica.
3. Exame inovador ajuda a diagnosticar metástases
Atualmente, os exames disponíveis para diagnóstico do câncer de próstata são a dosagem de PSA e o toque retal. No entanto, nenhum deles têm 100% de precisão, sendo necessários testes complementares para detectar o estágio da doença, por exemplo.
O PET/CT com PSMA é utilizado justamente para isso. O método é considerado uma das maiores inovações dos últimos tempos no combate ao câncer de próstata.
Ele funciona mais ou menos como uma tomografia computadorizada: aplica-se no sangue da pessoa uma combinação de PSMA (a mesma proteína que citamos acima) e um material radioativo, que pode ser Gálio-68 ou Flúor-18, ambos sem capacidade de causar problemas no organismo.
Ao ser injetada no corpo, essa substância localiza e marca as células afetadas pelo tumor, mesmo quando ele já se espalhou no organismo. Depois disso, o indivíduo entra no tomógrafo, que mostra para o profissional da saúde onde estão os focos da doença e indica a gravidade deles.
“O exame vem fazendo uma revolução, principalmente em duas situações: pessoas com câncer de alto risco, para descobrir se há metástase, e naqueles que sofreram recidiva”, conta Borges.
“Atualmente, é o teste mais sensível que temos. Os convencionais, como a cintilografia óssea, a tomografia e a ressonância magnética, são limitados”, acrescenta Camila.
O exame está disponível há alguns anos no Brasil, mas com acesso muito restrito, uma vez que ainda não é oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nem coberto pelos convênios médicos.