Desde que a vacinação contra o coronavírus começou, a maioria dos brasileiros não vê a hora de chegar a sua vez na fila. Mas como fica a vida após a imunização? E o que podemos e não podemos fazer a partir daí?
O imunologista Carlos Zárate-Bladés, do Laboratório de Imunorregulação do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa Catarina, já adianta que o uso de máscaras e o distanciamento social segue recomendado para os vacinados do nosso país em um primeiro momento. E há alguns motivos para isso. Confira os principais:
As vacinas não geram um efeito instantâneo
As injeções estimulam nosso corpo a produzir células de defesa e anticorpos contra o Sars-CoV-2. Mas isso leva um tempinho.
“Estamos falando da chamada imunidade adaptativa. No caso da Covid-19, as vacinas demoram cerca de duas semanas após a segunda dose para surtir efeito”, informa Zárate-Bladés. Se antes disso alguém entra em contato com o agente infeccioso, é possível que ele consiga causar estragos.
Aliás, é de extrema importância não desistir da segunda dose. “A pessoa deve cumprir o protocolo prescrito, porque só assim garante o nível de eficácia que foi estudado por cientistas e analisado pelas agências regulatórias”, orienta o microbiologista.
Até o momento, o único imunizante que exige apenas uma picada é o da farmacêutica Janssen (da Johnson & Johnson). Mas ele não está disponível no Brasil.
Alguns vacinados podem ainda ter Covid-19
Toda vacina aprovada é segura e diminui o risco de uma pessoa apresentar sintomas da Covid-19. Ainda assim, alguns azarados tomam as doses e, por algum motivo, não desenvolvem a imunidade contra o coronavírus, ou ao menos não uma imunidade completa, digamos assim. Ou seja, eles continuam suscetíveis a sofrer com a doença.
A boa notícia é que, mesmo quando isso ocorre, estudos indicam que os imunizantes para o Sars-CoV-2 reduzem consideravelmente a probabilidade de o caso se tornar grave ou levar à morte.
Em um contexto de baixa circulação do vírus, esse seria um problema menor do ponto de vista de saúde pública — e, portanto, certas flexibilizações poderiam ser consideradas. Mas esse não é o cenário brasileiro. E aí entramos em outro motivo.
Ainda não sabemos o potencial das vacinas em conter a transmissão do vírus
Como dissemos, os estudos atuais são contundentes ao demonstrar que a vacinação afunda o risco de a Covid-19 se manifestar. Por outro lado, a capacidade de as doses evitarem que uma pessoa infectada passe o vírus para outra ainda está sendo avaliada.
A vacina da Universidade de Oxford e da AstraZeneca, produzida junto com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), apresentou um estudo preliminar indicando uma redução de 67% na transmissão. Dados iniciais do imunizante da Pfizer também mostram que ele diminui em quase 90% a disseminação do Sars-CoV-2. Mas outros levantamentos ainda são necessários.
Aí que está: se ainda desconhecemos a real capacidade de as doses evitarem a propagação da doença e se pouca gente está vacinada no Brasil, é arriscado liberar pessoas que já tomaram as injeções para voltar a circular livremente. Ora, elas talvez passem a infecção para alguém desprotegido, que pode desenvolver sintomas graves ou mesmo morrer.
Quando uma parcela considerável da população for imunizada, é plausível imaginar flexibilizações específicas. Nos Estados Unidos, por exemplo, pessoas vacinadas agora podem se reunir sem máscaras e sem distanciamento social com outras que estão na mesma situação ou com quem possui um baixo risco de complicação, desde que em um ambiente privado. E as máscaras ainda são obrigatórias a todos em locais públicos por lá.
Acontece que, no dia 10 de março, 29% dos norte-americanos já haviam recebido suas doses, segundo o site Our World In Data. No Brasil, esse número está em 5% (quase seis vezes menos) e seguimos em um ritmo lento.
Ou seja, no estágio atual, mesmo os brasileiros que tomaram a vacina devem seguir utilizando máscaras, mantendo o distanciamento social e lavando frequentemente as mãos.
“Isso também é necessário para evitar que mais variantes do coronavírus surjam. Já que, quanto mais gente se contamina, mais o vírus pode sofrer mutações”, acrescenta Zárate-Bladés.
O especialista finaliza com um recado: “Depois da vacina, você também precisa continuar ajudando a não espalhar notícias falsas sobre ela ou sobre tratamentos ineficazes”.