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Covid-19: o que é a eficácia global de uma vacina e quais os outros tipos?

O anúncio da eficácia da Coronavac trouxe dúvidas sobre o que essa taxa significa na pandemia de coronavírus. Desfizemos a confusão para você

Por Maria Tereza Santos
Atualizado em 10 fev 2021, 09h18 - Publicado em 15 jan 2021, 11h53

O Instituto Butantan, em São Paulo, vem divulgando resultados da fase 3 do estudo da Coronavac, vacina que está sendo produzida com a Sinovac contra a Covid-19. Só que os anúncios geraram confusão porque, ao contrário de Moderna, Pfizer e AstraZeneca, que compartilharam apenas a taxa de eficácia global, o instituto e o governo do estado trouxeram a público vários números diferentes, em datas distintas, e com explicações atabalhoadas em um primeiro momento.

Então vamos partir do princípio. O microbiologista Luiz Gustavo de Almeida, coordenador dos projetos educacionais do Instituto Questão de Ciência (IQC), conta que, antes de desenvolver qualquer vacina, os cientistas definem o que será avaliado na pesquisa: o nível de transmissão do vírus, a quantidade de pessoas infectadas, a capacidade de evitar sintomas etc.

“No caso do coronavírus, foi acordado com a Organização Mundial da Saúde (OMS) que os imunizantes deveriam ser testados primeiramente para avaliar a redução no número de indivíduos doentes. É isso que todos os laboratórios estão buscando”, informa Almeida.

A eficácia global, portanto, é o potencial em reduzir o risco de alguém desenvolver a Covid-19. Esse é o dado que a Anvisa irá considerar na hora da aprovação. Lembrando que, como dissemos nesta outra reportagem, a porcentagem mínima exigida é de 50%.

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Segundo a coletiva de imprensa do dia 12 de janeiro, a Coronavac possui 50,4% de eficácia global. Atenção: isso não significa que metade dos vacinados vai pegar a doença e metade, não. Na verdade, o imunizante diminui em 50,4% a probabilidade de apresentar Covid-19. Exemplo: se dez pessoas de um grupo ficam doentes, com a vacina o número cairia para cinco.

Eficácia global X eficácia em casos leves, moderados e graves

Como dissemos, a primeira é a capacidade de evitar a Covid-19. Já a eficácia para casos leves é o potencial de impedir sintomas que exigem assistência médica. E a para casos moderados e graves é o de afastar complicações da enfermidade que exijam hospitalização e UTI.

A Coronavac apresentou eficácia para casos leves de 78% e, para moderados e graves, de 100% (embora, nesse último cenário, o número de voluntários tenha sido muito pequeno para garantir uma confiabilidade estatística).

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Isso é importante porque indica que a vacina do Instituto Butantan é especialmente útil para evitar os episódios mais severos disparados pelo Sars-CoV-2, que enchem os hospitais e podem terminar em morte. Como brincou o pesquisador Hugo Fernandes, da Universidade Estadual do Ceará, em seu Twitter: “O avião tá caindo. A maioria vai sobreviver, mas vários vão morrer. Você recebe um paraquedas que te dá 100% de certeza de sobreviver; uma chance 78% menor de quebrar o pé e 50% menor de arranhar a bunda. Essa é a comparação honesta com a Coronavac. Sim, aceito o paraquedas”.

Um ponto importante: a definição de casos leves, moderados e graves muda ligeiramente de uma pesquisa para a outra. Em outras palavras, comparações de eficácia global entre diferentes vacinas não são confiáveis. A Sociedade Brasileira de Imunologia disparou um comunicado com exemplos práticos e elucidativos:

“No estudo da Moderna, foi considerado como caso [de Covid-19] “dois sintomas de um grupo formado por febre, arrepios, dor no corpo, dor de cabeça, dor de garganta, perda de olfato ou paladar” com diagnóstico viral confirmado; ou um sintoma grave como falta de ar, tosse, diagnóstico radiológico. Ou seja, dois sintomas leves OU um sintoma grave. […] No estudo do Instituto Butantan, foram considerados como casos qualquer um dos sintomas leves, MAIS sintomas não incluídos por outros estudos: náusea, vômito e diarreia. Em consequência, ele abriu margem para detecção de mais casos por diagnóstico molecular”

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No mais, a pesquisa da Coronavac no Brasil se concentrou apenas em profissionais de saúde, que está especialmente expostos ao vírus. Ou seja, é possível que, usando outros critérios para a definição de casos e para a seleção de participantes, a Coronavac exibisse uma eficácia global maior do que a apresentada.

E a capacidade de evitar a disseminação do coronavírus?

A eficácia da taxa de transmissão, ou seja, quanto um imunizante consegue conter o espalhamento do agente infeccioso, também pode ser analisado nas pesquisas. Mas normalmente esse dado só é encontrado nos estudos de fase 4. Ou seja, quando a vacina já está aprovada pelos órgãos reguladores e é aplicada na população em geral, com uma monitorização por parte dos cientistas.

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Almeida relata que o único laboratório que tentou encontrar essa informação ainda na fase 3 foi a AstraZeneca. Porém, não chegou a uma conclusão certeira.

“Seria mais caro fazer uma pesquisa para avaliar a transmissão”, afirma Almeida. Para checar quanto o vírus está se transmitindo, seria preciso testar periodicamente todos os voluntários, mesmo os que não apresentassem sintomas. Essa é uma opção mais complexa, especialmente diante de uma pandemia que demanda agilidade. Mas também teremos resposta para essa pergunta no futuro.

Como não sabermos se a vacina é capaz de evitar a transmissão — e como apenas poucas pessoas no mundo receberam suas doses até agora —, a regra é seguir usando máscaras e evitando aglomerações. Inclusive depois de tomar sua injeção.

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A efetividade também é importante

Apesar de serem palavras semelhantes, eficácia e efetividade são conceitos distintos no universo da vacinação. “A eficácia é analisada num grupo controlado de voluntários, dentro de uma pesquisa. A efetividade é a capacidade de o imunizante mudar o mundo real, diminuindo a quantidade de indivíduos internados”, diferencia o microbiologista.

Para impedir que as hospitalizações por Covid-19 continuem, não basta ter um bom imunizante. É necessário que ele esteja disponível às pessoas e que haja uma campanha maciça de vacinação.

Almeida relata que esse é um desafio entre a maioria dos países que já estão aplicando as doses contra o coronavírus na população. “Mesmo com uma aprovação rápida, eles não estão conseguindo implementar essa ação tão bem e, por isso, não estão protegendo o número adequado de habitantes”, argumenta.

Apesar de o cenário brasileiro não ser dos mais animadores, cabe lembrar que nosso país sempre foi referência em campanhas de vacinação. Almeida destaca que a mobilização contra a gripe de 2020, em plena pandemia de Covid-19, ultrapassou a meta de 90%, alcançando 90,2% do público-alvo. Foram quase 64,9 milhões de doses aplicadas.

A experiência existe. Basta colocar em prática.

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