Alguns problemas psiquiátricos, como depressão e ansiedade, já foram associados ao Alzheimer – uma doença que apaga as memórias e afeta cerca de 1,2 milhão de pessoas no Brasil. Eis que um estudo da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, agora aponta esses transtornos que abalam o bem-estar mental como sintomas iniciais da demência (e não como fatores de risco para ela).
Como os cientistas americanos chegaram a essa conclusão? Eles, antes de tudo, pediram uma ajuda a companheiros brasileiros do Biobanco de Estudos do Envelhecimento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Nesse local são armazenados tecidos cerebrais coletados em autópsias, bem como os resultados de exames feitos com eles.
A partir daí, os experts selecionaram amostras de 455 pessoas que morreram com mais de 50 anos, entre 2004 e 2014. Alguns dos cérebros incluídos no experimento possuíam sinais claros da presença de Alzheimer – como a presença de moléculas conhecidas como TAU e beta-amiloide –, enquanto outros estavam livres de qualquer degeneração.
Para completar, eles utilizaram informações fornecidas pelos familiares e cuidadores sobre o estado cognitivo dos pacientes enquanto estavam vivos. E, também, sobre a eventual presença de distúrbios psiquiátricos.
Cruzando os dados a partir de métodos científicos, a equipe da Universidade da Califórnia revelou que concentrações da molécula TAU no cérebro foram vinculadas a traços de ansiedade, agitação, depressão, perturbações do sono e alterações de apetite. Detalhe: em muitos casos, o indivíduo já sofria com esses comportamentos alterados, mas não com a perda de memória ou os déficits cognitivos, tidos como manifestações clássicas do Alzheimer.
“Isso sugere que algumas pessoas com sintomas neuropsiquiátricos não correm o risco de desenvolver Alzheimer – elas já a têm”, diferencia a neurologista Lea Grinberg, líder do estudo, em comunicado à imprensa.
Para reforçar: a ansiedade, a tristeza e por aí vai não indicariam que um indivíduo corre um maior risco de ter Alzheimer. Esses distúrbios seriam um aviso de que os neurônios já estão padecendo com a demência em questão.
Claro que tais achados precisam ser confirmados por outras investigações científicas. Contudo, a ideia dos pesquisadores é que a descoberta passe a ser levada em consideração – ao lado da avaliação médica tradicional e de exames cerebrais e de sangue – para facilitar o diagnóstico do Alzheimer em estágio inicial.
“Se pudéssemos usar esse novo conhecimento para encontrar uma maneira de reduzir o peso dessas condições em adultos idosos, seria absolutamente fantástico”, conclui a neurologista.