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Participante do BBB com vitiligo gera debate sobre aceitação e preconceito

Doença é marcada pela presença de manchas brancas na pele. Desconhecimento sobre o quadro, que não é contagioso, abala a saúde mental dos portadores

Por Fabiana Schiavon
Atualizado em 19 jan 2022, 18h51 - Publicado em 19 jan 2022, 18h44
BBB com vitiligo
A participação da modelo mineira Natalia Deodato no reality show Big Brother Brasil (BBB) é importante para derrubar mitos sobre o vitiligo, segundo especialistas. (Foto: Instagram/deonaty_/Divulgação)
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A participação da modelo mineira Natália Deodato no reality show Big Brother Brasil (BBB), da TV Globo, colocou em debate o preconceito vivido por quem tem vitiligo. A doença autoimune, que provoca manchas brancas na pele, atinge 1 milhão de pessoas no Brasil.

Esse distúrbio não tem cura, mexe com a confiança e requer uma rotina de cuidados para controlar o aparecimento das marcas. Driblar o preconceito e enfatizar que não se trata de uma doença contagiosa estão entre os desafios de quem convive com o quadro.

“O principal problema é o impacto causado na aparência, que, por fugir aos padrões pré-estabelecidos, leva à baixa na autoestima. Isso resulta em isolamento e traumas emocionais”, afirma Caio Castro, dermatologista especialista da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SDB).

“As manchas abalam o amor próprio e muita gente ainda acha que a doença é contagiosa, principalmente crianças e adolescentes, o que traz consequências para a saúde mental. Os pacientes precisam de acompanhamento psicológico por todos esses fatores”, completa a dermatologista Thayse Branco, especialista em medicina estética, do Rio de Janeiro.

Aos poucos, a conscientização evolui. Há dois anos, a canadense Winnie Harlow foi a primeira modelo com vitiligo a surgir em uma passarela, durante o Victoria’s Secret Fashion Show. Mas a desinformação ainda é grande.

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Ter uma participante com vitiligo no BBB é outro marco importante nesse sentido. “A forma como a candidata Natália Deodato se relaciona com a doença é um exemplo de como pessoas com essa condição devem manter sua autoestima em alta e ocupar espaços no convívio social”, defende o dermatologista Mauro Enokihara, presidente da SBD.

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A entidade reforça, em nota sobre o tema, que as pessoas “que apresentam vitiligo não possuem limitações físicas ou cognitivas, não transmitem sua condição pelo contato social e estão aptas ao trabalho e ao desenvolvimento de relação afetivas e humanas em qualquer contexto”.

BBB com vitiligo
Há dois anos, a canadense Winnie Harlow foi a primeira modelo com vitiligo a surgir em uma passarela, durante o Victoria’s Secret Fashion Show (Foto: Instagram/winnieharlow/Divulgação)

Como a doença surge e como é feito o diagnóstico?

No vitiligo, os melanócitos – ou seja, as células produtoras de melanina, responsável pela cor da pele – são atacados pelos linfócitos T, que fazem parte do sistema imunológico. Mas, nesse caso, eles atuam de forma desregulada. Daí porque se trata de uma doença considerada autoimune. Sem a produção do pigmento, a cor da pele muda.

Histórico familiar, exposição a toxinas, estresse e lesões graves estão na lista de fatores de risco por trás do distúrbio. “Quando o tratamento psicológico se inicia, não são raras as vezes que descobrimos grandes perdas e problemas familiares como gatilhos”, relata Thayse.

O vitiligo afeta ambos os sexos e pessoas de qualquer etnia. Os sinais costumam aparecer, em média, aos 24 anos. Mas há também diagnóstico em crianças e adolescentes.

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+ Leia também: Vitiligo exige cuidados extras em tempos de coronavírus

Cada indivíduo pode apresentar os sinais do vitiligo de forma diferente. Porém, geralmente, as primeiras manchas aparecem no rosto, nas mãos e na região genital.

O diagnóstico clínico é feito, a princípio, a olho nu, apenas com o auxílio de uma lâmpada especial. “Quando há dúvidas, é realizada biópsia das lesões, já que as manchas do vitiligo podem se confundir com as de outras doenças de pele, como micose fungoide hipocromiante ou lúpus discoide”, explica Castro.

Tipos de vitiligo

  • Focal: manchas pequenas em uma área específica do corpo
  • Mucosal: atinge somente as mucosas, como lábios e região genital
  • Segmentar: marcas distribuídas unilateralmente, apenas em uma parte do corpo
  • Acrofacial: manchas nos dedos e em volta da boca, dos olhos, do ânus e das genitais
  • Comum: atinge tórax, abdome, pernas, nádegas, braços, pescoço, axilas e demais áreas acrofaciais
  • Universal: manchas espalhadas por quase todas as regiões do corpo

Tratamento e cuidados

Não há cura para o vitiligo, e as terapias nem sempre conseguem impedir ou reverter as manchas.

“Mas existem vários tratamentos clínicos e cirúrgicos. É essencial a consulta com o dermatologista para estabelecer o caminho mais adequado e avaliar indicações, contraindicações e efeitos colaterais”, analisa Thayse. “Os principais objetivos são impedir o crescimento das manchas, repigmentar e evitar novos ciclos de piora“, acrescenta.

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Alguns tipos de terapias pedem paciência, porque há uma combinação de medicamentos que exigem exposição limitada ao sol.

Por falar no astro-rei, a proteção contra os raios solares é essencial em todos os casos. “As manchas deixam a pele sem pigmento e, por isso, totalmente desprotegida, aumentado o risco de câncer”, esclarece a dermatologista.

+ Leia também: “Me acho mais bonita hoje, com vitiligo”

De olho nisso, o filtro escolhido deve ter o maior fator de proteção possível. Chapéus e óculos escuros completam o combo defensor.

Medicamentos como corticóides – seja em formato oral, tópico [cremes e pomadas] ou intralesional [injeção] – ajudam a estimular a repigmentação da pele. Eles costumam ser opções mais baratas porque há genéricos à venda.

De valor mais salgado, também é possível recorrer a pomadas imunomoduladoras, que agem no sistema imune da pele, ou a recursos como a fototerapia.

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“É um tratamento que utiliza luz UVB para estimular a produção de melanina e suaviza a diferença de pigmentação, além de reduzir a inflamação e aliviar a escamação da pele. Há algumas tecnologias à base de laser também”, ensina Tahyse, lembrando que essas escolhas devem ser feitas com cautela e ajuda de um dermatologista.

Cabe reforçar ainda o forte elo entre as emoções e o vitiligo. Inclusive, em momentos tensos, as marcas podem podem crescer, se espalhar ainda mais ou até reaparecer. Por isso, atividades que ajudam a controlar a tensão, a exemplo de meditação e ioga, são aliadas dos pacientes.

Doenças relacionadas

Aproximadamente 15% dos pacientes com vitiligo têm alguma doença relacionada à tireóide, segundo dados da SBD.

“Os problemas nesse órgão são causados pelos mesmos fatores que provocam o vitiligo. Não há uma relação de dependência entre as duas condições autoimunes”, esclarece Castro.

“Por ser uma doença sistêmica [isto é, que afeta todo o corpo], os pacientes com vitiligo podem desenvolver uveíte (inflamação nos olhos) e aproximadamente 10% dos afetados apresentam déficit auditivo”, completa o médico. Os indivíduos ainda têm uma maior tendência de envelhecimento na pele. 

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