Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Os bastidores de uma vacina que salvou o mundo

Livro acompanha de perto a trajetória do casal alemão de ascendência turca por trás do desenvolvimento do primeiro imunizante aprovado contra a Covid-19

Por Diogo Sponchiato
24 mar 2022, 14h50
vacina da pfizer
Cientistas que criaram vacina de mRNA contra o coronavírus protagonizam livro recém-lançado no país.  (Foto: Spencer Davis/ Unsplash/Divulgação)
Continua após publicidade

A minha história (e provavelmente a sua) deve muito aos médicos Ugur Sahin e Özlem Türeci. Quando a prefeitura da minha cidade anunciou a terceira dose da vacina contra o coronavírus para a minha faixa etária, me desloquei pontualmente até o posto agendado para tomar o tão falado imunizante da Pfizer, o primeiro no mundo a ser aprovado em larga escala com uma tecnologia inédita e dono de uma das maiores taxas de eficácia diante da Covid-19.

O nome da farmacêutica americana ganhou a boca do povo, mas quem está por trás da inovação sem precedentes na história da medicina é esse casal alemão, ambos filhos de pais turcos e criadores da empresa de biotecnologia BioNTech, sediada em Mainz, uma cidade com pouco mais de 215 mil cidadãos na Renânia.

Quem ler A Vacina (Intrínseca), do jornalista britânico Joe Miller (clique aqui para comprar), que teve o privilégio de cobrir de perto o desenvolvimento em tempo recorde (mas sem pular etapas) do produto, vai entender, com detalhes e bastidores, por que Ugur e Özlem não só ajudaram a salvar milhões de vidas como revolucionaram a ciência médica e, não duvido, um dia podem ganhar um prêmio Nobel.

capa do livro
(Capa: Intrínseca/Divulgação)

A Vacina
Autor: Joe Miller 
Editora: Intrínseca
Páginas: 320

Essa é uma história que não começou com a pandemia nem tem início com inimigos virais. O ponto de partida é a busca por um tratamento diferenciado contra o câncer lançando mão de uma técnica sofisticada e baseada numa polivalente molécula, o RNA mensageiro (ou mRNA).

Continua após a publicidade

(Parênteses para uma explicação ou recordação mais técnica: o RNA mensageiro é aquela peça do nosso maquinário genético que permite que as instruções codificadas no DNA sejam transformadas, de fato, em proteínas para formar os tecidos e cumprir as mais variadas funções dentro do organismo.)

Özlem e Ugur se conheceram no início da carreira numa enfermaria de tratamento oncológico. Foi aí que brotou a semente do casamento e de uma parceria para encontrar uma forma mais eficiente de derrotar tumores.

Anos e anos de estudo em imunologia e biologia molecular − os dois são assumidamente nerds − levaram o par a apostar no mRNA como uma plataforma inovadora contra a doença.

foto do médico
O médico, pesquisador e empreendedor Ugur Sahin. (Foto: BioNTech/Divulgação)
Continua após a publicidade
foto da médica
A diretora médica da BioNTech, Özlem Türeci. (Foto: BioNTech/Divulgação)

+ LEIA TAMBÉM: Um novo momento para a genética

A ideia, resumidamente, é a seguinte: vamos usar essa pecinha para instruir as células de defesa do corpo a reconhecer e atacar com precisão o tumor. Essa era a missão número 1 da BioNTech, que mantém pesquisas clínicas animadoras testando essa tática em pacientes com câncer avançado.

Mas, como narra Miller, apareceu uma doença respiratória misteriosa na China que viraria o mundo do avesso. E Ugur sacou com antecedência, ainda em janeiro de 2020, que a coisa poderia se transformar em pandemia e deixar a humanidade à mercê. Daí veio o estalo de criar uma vacina para o novo vírus. Uma vacina à base de mRNA.

A Vacina exibe, num ritmo que mexe até com o fôlego da gente, como foi esse percurso desde que o casal se alinhou com a companhia sob a sua direção, que já tinha um pequeno departamento de doenças infecciosas, para colocar a serviço da humanidade um imunizante capaz de deter o patógeno.

Continua após a publicidade

Um trabalho árduo para o time da BioNTech que, em menos de um ano e sem deixar de cumprir nenhuma fase do protocolo de segurança e eficácia em pesquisa, deu origem a uma vacina que quebrou recordes − primeiro produto à base de mRNA aprovado clinicamente e imunizante com maior número de aplicações em campanhas pelo mundo.

E o curioso: foi também o primeiro medicamento da empresa alemã a superar o muro dos experimentos e ganhar o mercado. Não é à toa que a BioNTech, que tinha uma dívida de meio bilhão de euros antes da pandemia, obteve uma receita de 16 bilhões em 2021.

Compartilhe essa matéria via:

Mas e a Pfizer?

Joe Miller demonstra no livro que essa é também uma história de parcerias que vão além dos laços de família. Entre tantos cientistas que contribuíram para a tecnologia do mRNA se tornar viável para uso em humanos, merece menção pelo menos a bioquímica húngara Katalin Karinkó, pioneira na área e autora de uma sacada para impedir reações adversas da molécula ao penetrar no nosso corpo − outra candidata ao Nobel.

Continua após a publicidade

E, claro, há os acordos com governos e as parcerias industriais e corporativas. É aí que entra a Pfizer. A gigante sediada nos Estados Unidos tem mérito também, não só porque acreditou e investiu na proposta de Özlem e Ugur como viabilizou a produção e os testes em larga escala. Sem a Pfizer eu não teria tomado aquela terceira dose (e, felizmente, até hoje não tive Covid-19).

A vacina que hoje é a única aplicada também em crianças no Brasil funciona justamente levando instruções para nossas células produzirem, recorrendo à metáfora de Miller, um “cartaz de procura-se” contra o coronavírus.

O organismo orquestra uma resposta de defesa prévia e, ao travar contato com o Sars-CoV-2, não deixa o patógeno se espalhar e tomar conta da casa − reduzindo barbaramente episódios graves e óbitos.

(Parênteses histórico: para ampliar a produção da vacina e dar conta da crescente demanda, a BioNTech comprou uma fábrica de outra farmacêutica em Marburg, na Alemanha. A cidade ficou famosa no final dos anos 1960 porque, em um laboratório, cientistas se contaminaram acidentalmente com tecidos de macacos usados em experiências e pegaram uma doença hemorrágica nova para o ser humano, cujo agente infeccioso foi batizado de vírus de Marburg. Outro vírus colocaria a cidade em evidência décadas depois, mas com um desfecho mais feliz).

Continua após a publicidade

BUSCA DE MEDICAMENTOS Informações Legais

DISTRIBUÍDO POR

Consulte remédios com os melhores preços

Favor usar palavras com mais de dois caracteres
DISTRIBUÍDO POR

O jornalista, correspondente do Financial Times na Alemanha, explora, além dos meandros, proezas e desafios técnicos da empreitada, o fator humano que tornou a vacina possível.

É um case de como a globalização e a interação entre povos e culturas conseguem chegar a soluções diante de impasses terríveis. Simboliza isso a aliança entre Ugur Sahin, um alemão de origem turca e muçulmana, com o CEO da Pfizer, Albert Bourla, um judeu nascido na Grécia.

Özlem e Ugur não foram só protagonistas de um feito que vem salvando incontáveis vidas nesta pandemia. Eles provaram que a tecnologia de mRNA tem tudo para revolucionar a medicina, permitindo elaborar imunizantes para moléstias como tuberculose, malária e HIV, e, de volta às origens, colocando em outro patamar o tratamento do câncer. Eles fazem questão de dizer que estamos apenas no começo dessa jornada.

 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.