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O mundo é dos vírus (não só do coronavírus)

Não é só o Sars-CoV-2 que circula pelo Brasil. Conheça as principais doenças provocadas por vírus e como se proteger delas

Por André Biernath
Atualizado em 10 abr 2020, 11h24 - Publicado em 10 abr 2020, 10h39

Eis um enigma: a ciência ainda não sabe afirmar se os vírus, dotados de uma cápsula e um simples código genético, são uma forma de vida ou uma partícula inerte. Fato é: eles podem causar doenças. E não é só o coronavírus, claro. Apontamos, a seguir, outras ameaças que estão à solta no Brasil.

Influenza (gripe)

Muito antes de saber da existência dos vírus, os povos que habitavam a região da Itália acreditavam que o combo febre, dor no corpo e dificuldade para respirar acontecia por causa da influência dos planetas e da Lua — afinal, somente o poder dos astros poderia explicar como esses incômodos apareciam tão rápido e afetavam tantas pessoas de uma mesma cidade. A palavra “influência”, aliás, deu origem ao nome do vírus causador da gripe, uma doença que segue tão frequente quanto mortal.

Essa família viral é dividida em quatro grupos: influenzas dos tipos A, B, C e D. Dentro de cada um, há uma série de versões que, vira e mexe, provocam transtornos no período de outono e inverno. Você já deve ter ouvido falar por aí do H1N1, do H3N2… “Como o vírus da gripe que mais circula entre a população muda a cada temporada, é importantíssimo tomar a vacina todos os anos, especialmente quem estiver dentro dos grupos de risco, como crianças, idosos, gestantes e portadores de doenças crônicas”, esclarece o médico Ricardo Martins, da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.

Só em 2019, o Brasil teve ao menos 888 mortes por gripe. A vacina é a melhor defesa

(Ilustração: Jonatan Sarmento/SAÚDE é Vital)

Rinovírus, adenovírus e cia.

Eles são tão comuns e banais que muita gente nem sabe da existência deles. Os responsáveis pelo resfriado são primos distantes do influenza e, se você analisar bem, os estragos que causam são fáceis de diferenciar. “Eles se restringem às vias aéreas superiores e a infecção traz repercussões mais leves ao organismo, como coriza, febre baixa e tosse”, ensina Martins. Em outras palavras, enquanto a gripe derruba até os mais fortes, o resfriado é mais inofensivo e só atrapalha um pouco o dia a dia.

Isso, aliás, representa um perigo: como ninguém deixa de ir à escola ou ao trabalho em razão dessas encrencas menores, a probabilidade de passar a doença para os outros é muito grande. Você já deve ter reparado em seu escritório: basta um funcionário estar molenga e com o nariz escorrendo que em poucos dias outros vão apresentar o mesmo quadro. Para evitar a disseminação, o ideal é ficar em casa (até porque não existe vacina contra esses vírus). Se não for possível, vale ao menos redobrar os cuidados com a higiene, como você confere nos quadros abaixo.

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Existem mais de 200 tipos de vírus que provocam resfriado. O rinovírus responde por 10 a 40% dos casos

(Ilustrações: André Moscatelli/SAÚDE é Vital)

Dengue

Sabia que nós já conseguimos acabar com essa praga no passado? Após as medidas realizadas pelo sanitarista Oswaldo Cruz (1872-1917) no início do século 20, o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, foi eliminado das grandes cidades do Brasil. Mas o problema voltou com tudo a partir da década de 1980, quando a taxa de urbanização se acelerou e propiciou um monte de reservatórios de água parada.

A partir daí, a cada novo verão as notícias se repetem: milhões de afetados pela moléstia apresentam febre alta, lesões na pele, dores musculares… Isso quando uma grave hemorragia não põe em risco a própria vida. “O problema é que temos quatro sorotipos de dengue que se revezam de acordo com o ano. Isso significa que cada um de nós pode contrair a doença quatro vezes antes de adquirir imunidade”, aponta a médica Melissa Falcão, da Sociedade Brasileira de Infectologia.

1 544 987 casos prováveis de dengue em 2019 no Brasil

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Zika

Em 2015, quando apareceram os primeiros relatos dessa condição no Nordeste brasileiro, os especialistas acreditavam que se tratava de uma versão mais light da dengue. Afinal, era transmitida pelo mesmo inseto e suscitava sintomas parecidos.

Até que veio a bomba: em grávidas, o zika interfere no desenvolvimento do bebê, que fica com o crânio e o cérebro menores que o usual. Isso, por sua vez, está relacionado a atrasos no desenvolvimento cognitivo e traz uma série de impactos na saúde e no bem-estar de toda a família. Como esse vírus ficava restrito a pequenas ilhas do Oceano Pacífico com poucos habitantes, tal relação nunca havia sido percebida.

“Essa enfermidade continua sendo transmitida em todas as regiões do país, então é importante que as mulheres mantenham o uso de repelentes durante os nove meses de gestação”, orienta Melissa.

10 768 casos prováveis de zika em 2019 no Brasil

(Ilustração: Jonatan Sarmento/SAÚDE é Vital)

Chikungunya

Outro que pega carona no Aedes aegypti para transitar entre os seres humanos. O chikungunya passou a chamar a atenção em terras brasileiras a partir de 2014 e 2015, quando o número de casos explodiu no Nordeste. Assim como o zika, esse vírus traz consequências que ultrapassam o período da infecção.

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“Após a fase inicial, muitos pacientes desenvolvem dores articulares pelos dois ou três anos seguintes”, conta o virologista Rômulo Neris, pesquisador visitante da Universidade da Califórnia em Davis, nos Estados Unidos. Na língua falada por alguns povos da Tanzânia, chikungunya significa “ficar dobrado, contorcer-se”, o que dá a dimensão do desconforto que toma conta de joelhos, tornozelos e cotovelos.

Até agora, o jeito de amenizar a crise nas juntas são remédios usados na artrite reumatoide. Mas Neris e outros cientistas trabalham para desenvolver medicações mais específicas para essa doença.

132 205 casos prováveis de chikungunya em 2019 no Brasil

(Ilustração: Jonatan Sarmento/SAÚDE é Vital)

Febre amarela

Ela já foi um terror em nosso país: nos anos 1910, a probabilidade de pegar a doença era tão grande que empresários estrangeiros desistiam de fazer negócios com os brasileiros nos portos de Santos ou do Rio de Janeiro. Graças à vacina, o vírus deixou de assolar as cidades e se restringiu às florestas.

Hoje, ele aparece em dois mosquitos: o Haemagogus e o Sabethes, que adoram voar na copa das árvores. Nos últimos dois anos, as autoridades de saúde ligaram o sinal de alerta ao notar o aparecimento de macacos mortos (sim, eles também pegam febre amarela) e casos entre pessoas que estiveram em áreas de mata.

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Logo, o Ministério da Saúde iniciou uma ampla campanha de imunização. “Após essa ação, podemos considerar a situação da febre amarela controlada”, avalia Melissa. Mas não dá pra se descuidar: se você ainda não tomou a vacina, vá até um posto de saúde quando possível.

327 casos suspeitos de febre amarela em 2019 e 2020 no Brasil

(Ilustração: Jonatan Sarmento/SAÚDE é Vital)
(Ilustrações: André Moscatelli/SAÚDE é Vital)

Sarampo

Ele está entre os mais contagiosos do planeta. Para ter ideia, um sujeito com Covid-19 passa a doença para outros dois ou três. Já um único indivíduo com sarampo é capaz de infectar entre 15 e 18 pessoas.

“Essa enfermidade é tão impactante que chegou a ser a doença que mais matava crianças no estado de São Paulo em 1970”, recorda o infectologista Hélio Bacha, do Hospital Israelita Albert Einstein, na capital paulista. Com a chegada de vacinas muito eficazes, o agente infeccioso quase sumiu do mapa. O Brasil até ganhou da Organização Mundial da Saúde um certificado de eliminação do vírus em 2016, uma conquista histórica.

Mas tudo foi por água abaixo em 2018 e 2019, quando casos e mortes reapareceram por aqui (e em vários países do globo, diga-se). Houve um certo descuido com a vacinação tanto por parte do governo quanto dos próprios pais, pois todos passaram a considerar o sarampo como algo de menor importância.

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Em 2019, 15 914 casos de sarampo e 15 mortes foram confirmados no país

(Ilustração: Jonatan Sarmento/SAÚDE é Vital)

Como se prevenir do sarampo

  1. O sarampo pode ser evitado por meio das vacinas dupla, tripla ou tetra viral. A eficácia delas chega a incríveis 99%.
  2. Em crianças, são duas doses: a primeira aos 12 meses de vida e a segunda aos
    15 meses.
  3. Se você não tem registro ou não se recorda se tomou na infância, pode receber um reforço, de acordo com sua faixa etária.
  4. Se você não tem registro ou não se recorda se tomou na infância, pode receber um reforço, de acordo com sua faixa etária.

HIV

A descoberta de remédios potentes e eficazes, que deixam a doença sob controle, fez com que o vírus da aids sumisse dos holofotes nos últimos tempos. Mas não deveria ser assim: por trás desse aparente sucesso, há muito a ser feito tanto na prevenção quanto no tratamento. “A epidemia continua preocupante e crescente em gays, transexuais e idosos”, descreve o médico Evaldo Stanislau, da Sociedade Paulista de Infectologia.

(Ilustração: Jonatan Sarmento/SAÚDE é Vital)

135 mil brasileiros têm o HIV e não sabem

Como se prevenir da aids

  1. A camisinha segue como uma das principais formas de se resguardar.
  2. A PrEP envolve usar fármacos antivirais todos os dias para evitar a infecção.
  3. Já na PEP, o medicamento é dado após a exposição a uma situação de risco.
  4. Fazer testes de HIV com periodicidade ajuda a flagrar o vírus antes dos problemas.
  5. O coquetel antirretroviral reduz drasticamente a carga do vírus no corpo.
  6. Conversas com o médico ajudam a adaptar as estratégias para sua realidade.

HPV

Transmitido durante o sexo, esse vírus provoca lesões e verrugas nas regiões genitais, no ânus, na cabeça e no pescoço. Se não forem eliminados a tempo, alguns tipos de HPV podem provocar câncer — falamos aqui do principal culpado por tumores do colo do útero, por exemplo.

“Apesar de termos vacinas aprovadas, há uma grande proporção de jovens que não completam o esquema de doses necessário para se proteger”, lamenta Stanislau.

Metade dos brasileiros tem lesões de HPV. Em 38% dos casos, há risco de isso virar um câncer no futuro

(Ilustração: Jonatan Sarmento/SAÚDE é Vital)

Como se prevenir do HPV

  1. A vacina está na rede pública e é indicada para meninos e meninas no início da adolescência.
  2. Exames de rotina, como o papanicolau, detectam lesões logo no início, quando o tratamento do HPV
    é mais tranquilo.
  3. A camisinha não é 100% eficaz para barrar o HPV, mas já ajuda. O ideal é usá-la em todas as relações sexuais.

Hepatites

Prepare-se para o abecedário: é possível se infectar com os vírus da hepatite dos tipos A, B, C, D e E. Todos eles vão para o fígado, onde protagonizam a destruição das células ao longo de anos ou décadas. Infelizmente, eles continuam muito comuns. “Estima-se que 1 milhão de brasileiros tenham a hepatite B e 700 mil convivam com a C”, calcula o hepatologista Raymundo Paraná, da Universidade Federal da Bahia.

Em 2017, foram registrados 40 198 casos de hepatites virais em nosso país

(Ilustração: Jonatan Sarmento/SAÚDE é Vital)

Como se prevenir das hepatites

  1. Existe um imunizante que resguarda contra a hepatite A e outro que bloqueia o tipo B do vírus.
  2. Para evitar a contaminação, especialmente da hepatite C, nunca compartilhe alicates de unha ou seringas.
  3. Algumas das hepatites também são transmitidas durante o sexo. O preservativo é crucial.

Rotavírus e cia.

As viroses gastrointestinais estão relacionadas a pobreza e a falta de acesso a água encanada e saneamento básico. Os vilões mais comuns por aqui são o enterovírus e o rotavírus. “Os sintomas clássicos incluem febre, dor no corpo, náusea, vômito e diarreia”, descreve a médica Maria do Carmo Friche Passos, da Federação Brasileira de Gastroenterologia. Após alguns dias passando mal, o quadro costuma se estabilizar naturalmente.

As infecções intestinais provocam de 2 a 3 milhões de mortes por ano no mundo

(Ilustração: Jonatan Sarmento/SAÚDE é Vital)

Como se prevenir das infecções gastrointestinais

  1. Lave com frequência o banheiro de sua casa. Desinfete a privada, a pia e o chão com um pouco de água sanitária diluída.
  2. Cuidado ao manipular os alimentos frescos. Preserve-os na geladeira ou no congelador sempre que possível.
  3. Nunca tome líquido de procedência duvidosa. Melhor ferver a água que sai da torneira ou usar um filtro para reter impurezas.
  4. A vacina contra o rotavírus está indicada para bebês de 6 semanas a 8 meses. São duas ou três doses, dadas em gotinhas.
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