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O dia a dia com TOC

Especialista define o transtorno obsessivo compulsivo, aponta os desafios que ele impõe ao paciente e aos familiares e revela como é o tratamento

Por Theo Ruprecht
Atualizado em 17 ago 2017, 18h44 - Publicado em 19 ago 2016, 09h10
TOC
O TOC implica vários desafios no dia a dia (Foto: Dercílio/SAÚDE é Vital)
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Por mais que os sintomas do transtorno obsessivo compulsivo (TOC) não sejam tão difíceis de detectar, o paciente chega a esperar 15 anos até receber o diagnóstico correto — o que prejudica bastante o tratamento. A psiquiatra Roseli Gedanke Shavitt, coordenadora do Programa de Transtorno Obsessivo Compulsivo do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (SP), traça na entrevista abaixo pontos importantes que todos nós deveríamos saber sobre essa condição.

SAÚDE: Quão difícil é o diagnóstico de TOC? 
Roseli Shavitt: Os sintomas são bem típicos, mas entre o seu surgimento e o diagnóstico adequado podem se passar muitos anos. Estudos científicos falam de dez a 15 anos até o diagnóstico. As pessoas às vezes mantém segredo sobre os seus sintomas por terem noção de que são absurdos, mas fogem ao seu controle. Ou acham que simplesmente “são assim”.

Os comportamentos compulsivos se estendem para todas as atividades do dia a dia ou geralmente se concentram em uma ou outra?
As compulsões podem envolver um único aspecto da rotina, por exemplo a higiene, ou vários, como organização pessoal, rituais para entrar e sair de casa… Elas também podem se manifestar mais em ambientes específicos — em casa, mas não viajando — e com pessoas específicas. Isso varia de paciente para paciente.

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Quais os principais desafios do cotidiano que os pacientes com TOC relatam?
A falta de controle sobre o aparecimento dos pensamentos intrusivos, que são as obsessões, e incapacidade de inibir os comportamentos repetitivos — as compulsões.

O amor ou a paixão é um fator de risco para uma crise ou serve como motivação para controlar o quadro?
O estado de paixão pode ser vivido como obsessão e compulsões podem acompanhar os pensamentos. O indivíduo verifica onde a pessoa está, o que está fazendo, se está bem. O estado amoroso, por ser mais estável, contribuiria para um maior controle emocional e isso repercutiria positivamente nos sintomas, mas em geral é necessário tratamento específico.

Situações estressoras deflagram os comportamentos compulsivos?
Sim. Tanto uma expectativa negativa como positiva podem desencadear sintomas do TOC.

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O tratamento geralmente envolve medicação ou há casos em que isso não é necessário?
Onde existe um profissional capacitado a oferecer a terapia cognitiva-comportamental para o TOC e o quadro é considerado de leve a moderado, o tratamento inicial pode dispensar medicamentos. Se não houver melhora após 12 sessões de terapia, considera-se a associação com fármacos.

Em crianças e adolescentes, a primeira tentativa, sempre que possível, deve ser a terapia. Em casos graves, em qualquer idade, associa-se remédios. Só que, para aumentar a chance de sucesso, o terapeuta precisa ter um bom conhecimento sobre esse quadro clínico e sobre as técnicas da terapia cognitiva-comportamental que devem ser usadas nessa situação específica.

Além disso, o profissional tem que conhecer o funcionamento familiar para orientar os familiares sobre como agir com o paciente a fim de promover a sua melhora e não contribuir para a manutenção dos sintomas. É um tratamento com as suas complexidades.

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A família pode atrapalhar?
Sim, é uma situação que chamamos de acomodação familiar. É quando um familiar ou cônjuge participa ativamente dos rituais junto com o paciente ou faz algum ritual por ele, como verificar fechaduras certo número de vezes para “tranquilizá-lo”. Estudos mostram que, quanto maior a acomodação, pior o prognóstico.

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