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Nova vacina contra o HPV reduz ainda mais o risco de câncer

Em evento, especialistas esclarecem mitos e ressaltam importância da imunização para evitar tumores de colo de útero, canal anal e pênis, entre outros

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 28 mar 2023, 12h56 - Publicado em 14 mar 2023, 09h59
andrea guimarães, helena galante e marcia abadi
Mesa na Casa Clã reuniu médicas para conversar sobre a importância da vacinação contra o HPV (Divulgação - Editora Abril/Divulgação)
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Já está disponível no Brasil a vacina nonavalente contra o HPV. Desenvolvida pela MSD, a Gardasil 9 pode prevenir até 90% dos casos do câncer de colo de útero e está sendo aplicada em clínicas particulares.

O vírus é responsável pela grande maioria dos tumores nessa região, além de estar ligado ao câncer de canal anal, orofaringe, pênis, vulva e vagina. E trata-se de uma infecção comum: estima-se que uma em cada duas mulheres terão contato com o HPV ao longo da vida.

A imunização e o rastreio de lesões pré-câncerosas por meio de exames regulares são oportunidades de ouro para evitar problemas sérios. Entretanto, a cobertura vacinal tem deixado a desejar e ainda existem tabus sobre o assunto, quadro que impede a proteção da população.

Alertar sobre os riscos do HPV e as vantagens da prevenção foi o objetivo de uma debate feito no último dia 10, no evento Casa Clã, realizado pelas marcas femininas da Editora Abril  — Claudia, Boa Forma e Bebê.com.br  — e pela Elástica.

“O câncer de colo de útero é um dos poucos que conseguimos prevenir. Na oncologia, em geral, só falamos em diagnóstico precoce, mas esse tipo da doença é um dos capazes de se evitar”, comentou a oncologista clínica Andrea Guimarães, do A.C.Camargo Cancer Center.

Andrea participou do debate com Marcia Abadi, Diretora Médica da MSD Brasil, e a jornalista Helena Galante, redatora-chefe de Claudia, Boa Forma e Bebê.com.br.

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O HPV e o câncer

Sabe-se que a infecção pelo vírus, apesar de assintomática na maioria das vezes, pode levar ao câncer, geralmente anos depois. A ligação é tão íntima que seria possível erradicar o câncer de colo de útero ao expandir a vacinação e o rastreamento por meio de exames como o papanicolau.

No Brasil, ele é o terceiro tumor mais comum entre as mulheres, sem contar o câncer de pele. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) calcula que teremos 17 mil novos diagnósticos entre 2023 e 2025. Em 2020, 6 mil mulheres morreram pela doença.

Elas são as mais acometidas pelos efeitos do vírus, mas é importante ressaltar que os homens também devem se vacinar. “Neles, há um fator extra de dificuldade no diagnóstico do câncer, pois eles não apresentam lesões pré-câncer rastreáveis, como as que vemos nas mulheres com o exame papanicolau”, destacou Andrea.

A nova vacina nonavalente contra o HPV

vacina hpv
Novo imunizante está disponível na rede particular, mas o gratuito segue tendo seu valor (Foto: Eduardo Svezia/SAÚDE é Vital)

Existem dezenas de subtipos conhecidos do HPV. “Treze deles são os mais relacionados ao câncer”, explicou Marcia Datz Abadi, da MSD. A nova vacina produzida pela empresa previne a infecção por nove desses tipos. O imunizante já disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) protege contra quatro.

A nova fórmula é indicada para meninos e meninas, homens e mulheres, com idades entre 9 e 45 anos. “Ela acrescenta 20% a mais de proteção ao esquema já utilizado, que tem 70% de eficácia”, apontou Marcia. Ou seja, evita ao menos 90% dos tumores relacionados ao vírus.

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A quadrivalente é super importante e segue tendo seu papel do ponto de vista de saúde pública. Hoje ela é aplicada gratuitamente em meninos e meninas de 9 a 14 anos, e em adultos com condições especiais: portadores de HIV, transplantados e pessoas em tratamento oncológico com radio ou quimioterapia.

Ainda não se sabe quando ou se a nonavalente será disponibilizada no SUS, mas quem deseja já pode reforçar seus níveis de proteção na rede particular com a novidade, mesmo que já tenha tomado a outra vacina.

“Nesse caso, a recomendação é aguardar ao menos 12 meses de intervalo entre a última dose da quadrivalente e a primeira da nonavalente”, detalhou a médica.

A Gardasil 9 é aplicada em um esquema de duas doses nos adolescentes e três doses nos adultos. Nas clínicas privadas, o preço varia entre R$800 e R$950 por dose.

Benefícios para os adultos

O ideal é vacinar as crianças porque, nessa faixa etária, a resposta do sistema imune é mais eficaz e a vida sexual ainda não começou. Mas os adultos, mesmo os que já tiveram contato com o vírus, também se beneficiam da imunização.

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“Você pode ter tido contato com somente um subtipo do vírus, e a vacina protegerá dos outros”, exemplificou Andrea. “E ela ajuda a impedir o agravamento e a evolução para as lesões pré-câncer mesmo em mulheres que já estão infectadas”, completou Marcia.

Além disso, há a questão do benefício coletivo, pois a imunização em massa diminui a circulação do vírus na comunidade.

O impacto da desinformação

A vacina gratuita é eficaz e segura, fato comprovado não só com estudos, mas na prática. “Mais de 500 milhões de doses foram distribuídas no mundo”, afirmou Andrea. As reações adversas são as mesmas de outras vacinas, como mal-estar e dor no local da aplicação.

Nos adolescentes, contudo, a imunização contra o HPV já desencadeou reações psicogênicas: quando o medo de tomar a dose leva a quadros que podem incluir desmaios e convulsões.

+ Leia tambémMedo de vacina (contra HPV) também pode ser doença: entenda o caso do Acre

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Diversos estudos já comprovaram que o quadro não tem a ver com o produto em si, mas o estrago feito pela desinformação é nítido. “As coberturas estão abaixo do ideal, atingem a meta de 80% para as meninas somente na primeira dose, mas caem drasticamente na segunda dose, e nos meninos mais ainda”, lamentou Marcia.

Para ter ideia, apenas 40% das adolescentes completaram o esquema que garante a proteção. Segundo Andrea, é preciso reconstruir nossa cultura de vacinação. “Esperamos que a gente volte a trazer a mentalidade do brasileiro para a importância dos imunizantes, algo que era tão forte entre nós”.

A oncologista ressaltou o papel dos ginecologistas nesse processo. “Eles acompanham a mulher como um todo, mas muitas vezes se esquecem de pedir a carteirinha de vacinação”, completou.

Tabus também atrapalham

Outro ponto levantado pela plateia e pelas médicas foi o impacto dos estigmas na adesão à vacina e na conscientização em relação ao HPV. Para algumas pessoas, vacinar seria “induzir os jovens a iniciar a vida sexual”, mas a ideia é apenas ensinar o corpo a se defender de um vírus que pode aparecer no futuro.

E esse encontro com o micro-organismo não tem nada a ver com promiscuidade: todos estão sujeitos a se infectar, ainda que com um único parceiro. “Porém, quando discutimos HPV, discutimos uma infecção sexualmente transmissível, e sexo sempre vem acompanhado de tabus”, comentou Marcia.

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Derrubar esses preconceitos é necessário e pode ter um efeito poderoso. Afinal, estamos falando “apenas” da possibilidade de eliminar um câncer da face da Terra. Já pensou?

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