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Mesmo prevenível, câncer de colo de útero ainda faz estragos no Brasil

Entidades se unem para eliminar do planeta esse tipo de tumor, que mata mais de 300 mil mulheres ao ano, 7 mil delas no Brasil

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 4 fev 2021, 09h59 - Publicado em 4 dez 2020, 12h15
Mulher HPV Câncer de colo de útero
Câncer de colo de útero é prevenível, mas ainda mata mais de 300 mil mulheres no mundo todos os anos.  (Ilustração: Willian Santiago/SAÚDE é Vital)
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Recentemente, a apresentadora Fátima Bernardes anunciou em suas redes sociais que se submeterá a uma cirurgia para tratar um câncer de endométrio em estágio inicial. Ele é um dos tipos da doença que acomete o útero, mas não deve ser confundido com câncer de colo de útero, que é mais comum.

O mais frequente é o de colo, muito por conta da infecção do vírus HPV, que acelera o processo de malignidade das células da região. Quanto mais cedo a detecção, maiores a chance de cura total”, aponta a ginecologista Karen Rocha De Pauw, especialista em reprodução humana pela Universidade de São Paulo (USP). “Já o de endométrio está ligado ao avançar da idade e à obesidade”, completa. Fátima Bernardes tem 58 anos – o diagnóstico fica mais frequente acima dos 55.

Os tumores no endométrio estão na categoria câncer de corpo de útero, que atingem 6,5 mil mulheres ao ano no Brasil, com cerca de 1,7 mil mortes. Já os de colo de útero somam 16 mil diagnósticos ao ano no Brasil, com 7 mil óbitos registrados. A notícia chega, inclusive, poucos meses depois do lançamento de uma campanha da Organização Mundial de Saúde (OMS) para erradicar o câncer de colo de útero do mundo até 2030.

Se nada for feito nesse período, o número de novos casos ao ano deve aumentar de 570 mil para 700 mil, com as mortes saltando de 311 mil para 400 mil. “É um problema de saúde pública mundial, e os óbitos que ocorrem refletem não só as condições de assistência à saúde, mas a própria condição social do país”, aponta o ginecologista Agnaldo Lopes da Silva Filho, presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

A Febrasgo é uma das apoiadoras do braço brasileiro da campanha da OMS. Veja Saúde também integra essa iniciativa, a primeira a buscar a eliminação de um tipo de tumor. A meta só é possível porque o câncer de colo de útero é evitável em praticamente 100% dos casos. “Nós conhecemos suas origens e as estratégias de prevenção são tão eficazes que nos levam a pensar que nenhuma mulher deveria morrer por causa dele”, explica Lopes da Silva Filho.

O que é o câncer de colo de útero

O tumor nasce a partir de lesões provocadas pela infecção do HPV, transmitido por relações sexuais. O vírus é muito comum na população e, na maioria das vezes, não causará nenhum problema grave (lesões nos genitais podem surgir). Contudo, em alguns casos esse agente infeccioso provoca alterações celulares que evoluem para o câncer.

Entre os fatores de risco elencados pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), destacam-se o início precoce da vida sexual, múltiplas relações sem preservativo, tabagismo e o uso prolongado de pílulas anticoncepcionais. Quanto mais cedo o diagnóstico, maior a probabilidade de cura total.

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Diagnóstico e prevenção do câncer de colo de útero

O ideal é flagrar as chamadas lesões pré-cancerosas provocadas pelo HPV, que ainda não viraram malignas. Elas são facilmente detectáveis com o exame papanicolau, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). Toda mulher a partir dos 25 anos deve realizá-lo a cada três anos. “É diferente do que ocorre no rastreio do câncer de mama, que já mostra o tumor em fase inicial. Aqui conseguimos impedir que o tumor sequer se desenvolva”, diz Lopes da Silva Filho.

Quando os sintomas aparecem, contudo, é um sinal de que a doença já está em estágio mais avançado. Entre eles, sangramento vaginal, dor abdominal associada a problemas urinários ou intestinais e secreções vaginais anormais.

Cobertura vacinal contra o HPV está baixa no Brasil

A melhor maneira de prevenir a doença é com a vacinação do HPV ainda na adolescência, entre os 9 e 14 anos (meninas) e 11 a 14 anos (meninos). “Ela está disponível na rede pública, mas nossa cobertura está muito baixa, por volta de 40%”, destaca Lopes da Silva Filho.

Entre os motivos para isso, estão as fake news sobre o assunto – os boatos de reações adversas se espalharam pelo país antes de serem desmentidos. Já outras pessoas acham que, ao aplicar essa vacina nos filhos, estariam estimulando a iniciação sexual precoce. Mas atenção: estudos já comprovaram que isso simplesmente não ocorre.

“Temos que pensar que estamos protegendo os filhos de um câncer, e não incentivando uma atividade precoce”, pontua o médico.

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Novas estratégias devem ser consideradas para reforçar a importância da vacina e melhorar esses índices. “Uma ideia que deu certo em outros países foi aplicar a dose nas escolas em vez de nos postos de saúde, como é feito agora”, sugere Lopes da Silva Filho.

Os desafios do Brasil no combate ao HPV

Estão mais sujeitas a morrer de câncer de colo de útero as mulheres em situação financeira precária ou que moram em áreas remotas, com menos acesso aos exames de rastreamento. “Nosso país tem várias realidades diferentes. Uma grande parcela da população não consegue assistência médica adequada”, pontua Lopes da Silva Filho.

Uma das estratégias sugeridas pela Febrasgo para resolver o problema é a mudança do método de rastreio do papanicolau para o teste DNA-HPV. “Em outros países, há a tendência de realizar essa substituição, porque o exame é mais confiável e pode ser realizado pela própria mulher, que coleta o material da vagina com um dispositivo simples e o envia para análise”, explica o médico.

As metas da campanha de erradicação do câncer de colo de útero da OMS

A OMS calcula que o HPV pode ser erradicado até 2030 se alguns objetivos forem atingidos. Entre eles, vacinar 90% das meninas com menos de 15 anos, rastrear o HPV em até 70% das mulheres e tratar adequadamente 90% das mulheres com câncer ou suas lesões precursoras.

A pandemia impõe barreiras na busca por atendimento, o que só reforça a necessidade de unir esforços em nome da saúde das mulheres.

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