De 100 pacientes infectados com o vírus da hepatite C, mais ou menos 80 não conseguem se livrar dele naturalmente. Desses, cerca de 25 vão apresentar lesões graves no fígado — a famigerada cirrose — em até 20 anos. Mas não faça pouco caso: além de os danos hepáticos serem letais, quase todos os enfermos que carregam esse inimigo no organismo vão sofrer com ele de alguma forma.
Quem chamou atenção para os efeitos menos conhecidos da hepatite C foi o hepatologista Jorge Daruich, da Universidade de Buenos Aires, na Argentina. “Nós falhamos em nos concentrarmos muito nos problemas causados no fígado. Eles de fato são perigosos, mas, como não aparecem desde o princípio, fizeram com que muita gente negligenciasse a hepatite C”, disse o especialista, durante uma palestra do 15º Seminário Latinoamericano de Jornalismo de Ciência em Saúde, sediado em Boston, nos Estados Unidos.
Essa encrenca, que acomete 71 milhões de pessoas no mundo — muitas das quais não sabem disso —, afeta do coração ao cérebro. Já há estudos contundentes mostrando que ela aumenta o risco de infartos e AVCs, para ser mais exato.
“Acreditamos que isso acontece porque o vírus gera uma inflamação no corpo inteiro, que provoca danos com o tempo”, explica Daruich. E que fique claro: isso ocorre mesmo se o fígado estiver funcionando plenamente.
Como se fosse pouco, há uma associação da hepatite C com depressão, cansaço e dificuldades cognitivas. Isso pode ter a ver com o sofrimento do diagnóstico, mas é fato que o vírus em questão consegue invadir o cérebro e incendiar a região. Segundo Daruich, nota-se entre os pacientes uma maior dificuldade de concentração e de realizar tarefas que exigem mais da massa cinzenta.
Diabetes, hiper e hipotireoidismo e até linfoma (um tipo de câncer) já foram ligados a essa infecção. “E há outras possíveis consequências. Precisamos tratar todos os pacientes, não só os com lesões hepáticas”, arremata Daruich.
Temos os recursos para vencer essa batalha
A grande notícia é que, nos últimos anos, vimos uma verdadeira revolução no tratamento da hepatite C. Se antes os médicos tinham remédios muito tóxicos e que exterminavam o vírus em não mais do que 50% dos casos, agora contam com drogas que oferecem uma resposta excelente em no mínimo 90% dos pacientes.
Essas opções já estão disponíveis no Brasil e, de quebra, ajudam a enfrentar a maioria das manifestações da hepatite C. “Só que isso depende também de quando iniciamos o tratamento”, pondera Daruich.
Indivíduos que recebem os fármacos em situações muito avançadas tendem a não reverter todas as consequências provocadas pela doença. Fora isso, se o paciente já desenvolveu diabetes, não vai “se curar” dele com os remédios para a hepatite C.
Conclusão: diagnóstico precoce é fundamental. Você já fez o teste para hepatite C?