Dor, queimação, diarreia… As doenças inflamatórias intestinais (DII) são um tormento para milhões de pacientes ao redor do globo. E uma pesquisa recém-lançada mostra que suas repercussões não se limitam ao aparelho digestivo: o problema também está relacionado com o ataque cardíaco.
A descoberta vem do Hospital Universitário do Centro Médico de Cleveland, nos Estados Unidos. Os experts analisaram os prontuários médicos de 17,5 milhões de pacientes e descobriram que 211 mil deles (o equivalente a 1,2% do total) tinham sido diagnosticados com Crohn ou retocolite ulcerativa.
Quando os dados foram comparados aos de indivíduos saudáveis, as taxas de infarto eram 23% maiores naqueles com algum desses distúrbios intestinais. Pior: entre os sujeitos mais jovens, a probabilidade de um piripaque no coração era nove vezes superior. E olha que eles descartaram a influência de outros componentes decisivos nesse processo, como colesterol alto, diabetes e hipertensão.
Informações tão contundentes motivaram os autores da pesquisa a considerar que as doenças inflamatórias intestinais são, por si só, um fator de risco para males cardiovasculares. O levantamento foi apresentado no domingo, dia 11 de março, durante as Sessões Científicas Anuais do Colégio Americano de Cardiologia, um dos mais importantes congressos da área.
Segundo o médico José Luiz Aziz, diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo e professor da Faculdade de Medicina do ABC, essa relação entre os dois problemas pode ser explicada pela inflamação.
“Do mesmo modo que ela ataca as paredes do intestino, também prejudica o revestimento das artérias”, afirma. “Isso dá início a um processo de aterosclerose e a uma posterior interrupção do fluxo de sangue”, completa. Se esse bloqueio ocorrer no coração, é o infarto que dá as caras.
Entenda as DIIs
As doenças inflamatórias intestinais são um termo para designar dois problemas que atingem o tubo digestivo: a doença de Crohn e a retocolite. “A primeira pode ocorrer em qualquer trecho entre a boca e o ânus, enquanto a segunda está restrita ao intestino grosso e ao reto”, diferencia a proctologista Maristela Gomes, do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, em São Paulo. Fatores genéticos, ambientais e comportamentais estão envolvidos na origem dos quadros.
Vale citar que a dupla costuma ser diagnosticada por meio de uma colonoscopia na faixa que vai dos 15 aos 30 anos, o que explicaria o maior número de prejuízos cardiovasculares entre a população mais jovem. Estima-se que, só em terras americanas, 3 milhões de indivíduos possuam uma das duas doenças. Além disso, 70 mil novos casos são identificados a cada ano. Infelizmente, não existem estatísticas brasileiras sobre o assunto.
Legal, mas o que devo fazer agora?
A pesquisa americana reforça um ponto essencial: a necessidade de o paciente com retocolite ou Crohn fazer um acompanhamento próximo de sua saúde. Ou seja: ele deve não apenas seguir o tratamento medicamentoso e marcar consultas regulares com o doutor, mas também fazer de tempos em tempos checkups com o cardiologista para evitar as chateações no peito. “Uma avaliação precoce ajuda a prevenir muitos desses eventos cardíacos”, garante Aziz.