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COP29: saúde escanteada no maior evento sobre mudanças climáticas

Presidente do Hospital Israelita Albert Einstein destaca a falta de iniciativas concretas para mitigar os danos dos eventos extremos à população

Por Chloé Pinheiro
25 nov 2024, 14h24
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Sidney Klajner, presidente do Hospital Israelita Albert Einstein, esteve na COP29 para avaliar como a saúde foi discutida no evento (Arquivo pessoal/Reprodução)
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A edição deste ano da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP29) terminou na última sexta-feira (22), depois de duas semanas de encontros e discussões em Baku, no Azerbaijão.

O encontro, que visa planejar ações coordenadas e, principalmente, o financiamento para frear o aquecimento global, frustrou os analistas e especialistas em meio ambiente. Isso porque o acordo de destinamento de recursos dos países ricos, principal objetivo do evento, ficou bem abaixo do necessário para de fato conter a subida do termômetro.

Mas não foi só nesse departamento que o encontro deixou a desejar. Na área da saúde, uma das mais impactadas pelo clima, as discussões foram insuficientes, avalia o médico Sidney Klajner, presidente do Hospital Israelita Albert Einstein, que esteve no evento.

A instituição foi a única representante da rede de saúde privada brasileira a viajar ao Azerbaijão. Abaixo, Klajner compartilha suas impressões.

VEJA SAÚDE: Como você avalia o espaço dedicado à saúde na agenda da COP29?

Sidney Klajner: Havia uma esperança muito grande de que as mesas de negociação pudessem trazer um resultado em investimentos, e muito se falou que as discussões ali serviriam para bater um martelo definitivo na COP30, que acontecerá no ano que vem em Belém/PA. Então o que seria discutido atrairia os investimentos.

Mas muito chamou a nossa atenção — o que não é uma grande novidade já que é apenas a terceira vez que se fala em saúde na COP — é que foi muito difícil encontrar discussões específicas sobre o tema. Houve um dia específico para a pauta, mas com conteúdo um pouco  diferentes do que imaginávamos.

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Haviam pessoas de bastante influência, que podem elevar o patamar dessa discussão, e nós tivemos a oportunidade de participar de algumas conversas com a Organização Mundial de Saúde (OMS) para entender como podemos contribuir. Até um vencedor do prêmio Novel de Economia estava lá chamando a atenção para a relação entre clima e saúde.

Mas a pauta do chamamento da importância do financiamento para a saúde, isso eu não vi sendo discutido com robustez. Inclusive, há um dado de que, entre todos os acordos multilaterais de investimento e contra as alterações climáticas, só 2% são direcionados à saúde.

Por que é importante colocar a saúde na agenda da COP? 

Hoje a estimativa é que as mudanças climáticas tenham um impacto de 2 a 4 bilhões de dólares por ano nos gastos em saúde até 2030. Um artigo publicado no The Lancet mostra que a poluição causou 9 milhões de mortes no mundo em um ano. A onda de calor no continente europeu, em 2022, levou a 70 mil óbitos adicionais. 

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Esse ano, o Brasil teve que lidar com ondas de calor, com as enchentes no Rio Grande do Sul, com as queimadas… E, no fim, a população que mais vai sofrer será a que hoje já é vulnerável em termos de saúde, que enfrenta a falta de acesso aos serviços, não tem água de qualidade, saneamento básico…

Então os dados estão todos aí, né? O que falta é o investimento.

+ Leia também: Os impactos desiguais das mudanças climáticas

Na sua opinião, por que o financiamento para a saúde no contexto das mudanças climáticas é tão tímido?

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Eu acho que, entre todas as pautas discutidas dentro do que hoje está englobado como ESG, é muito mais chamativo falar de transição energética, pegada de carbono, energia limpa…

Também penso que há uma dificuldade porque tudo esbarra em saúde, no fim das contas. Sempre que falamos sobre impactos de alterações climáticas, estamos falando de saúde. Então é “normal” falar que a saúde será comprometida, e o assunto acaba sendo mais a prevenção de futuras catástrofes.

Mas as catástrofes continuarão acontecendo, mesmo se houver apenas um grau de aumento de temperatura. E isso acontece principalmente porque as agendas que já foram colocadas em outras COPs não estão sendo cumpridas. Não é um corrida de velocidade, é uma corrida de regularidade. E o que estamos vendo é que o carro não saiu do lugar. 

+Leia também: Entrevista: “Destruição na Amazônia ameaça a saúde de todos”

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Como você avalia a preparação do Brasil para o impacto das mudanças climáticas na saúde? Qual é a nossa situação hoje?

O Brasil tem toda a condição de liderar a transição energética, com o biocombustível e outras iniciativas que estão sendo tomadas aqui, nas quais outros países ainda estão engatinhando ou não dão a mínima importância para isso.

E obviamente aí deve haver algum estímulo da indústria do petróleo, por exemplo não por acaso a COP29 foi no Azerbaijão [país que tem o petróleo como sua maior fonte de renda].

Agora, em relação ao preparo do país, às vezes chega a desanimar, mas nada mudou depois dos acontecimentos recentes. No fim do primeiro ano da pandemia de Covid-19, eu lembro de comentar que era uma janela de oportunidade para aprendermos, se não o bonde passaria, e não aprenderíamos nada.

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E dito e feito. Os sistemas de saúde não estão melhores preparados nem para pandemias, nem para as mudanças climáticas. Temos umma lição de casa muito grande a ser feita, e o Ministério da Saúde já está se movimentando, apesar de ainda ser pouco.

Há um dado de que, dos cerca de 5,6 mil municípios brasileiros, apenas 26 tem planos de adaptação dos sistemas de saúde frente a emergências climáticas. Então, se acontecer algo como o que ocorreu no Rio Grande do Sul ou em São Sebastião  [cidade do litoral paulista atingida por um temporal que deixou centenas de mortos], não estaremos preparados. 

Agora, estamos trabalhando com o Ministério da Saúde por meio do Proadi-SUS [programa da pasta para parcerias público-privadas] para mapear as populações mais vulneráveis e direcionar melhor os investimentos. Mas assim, não vemos o Brasil na frente nesse sentido, mas nosso potencial é gigante.

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